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Publicado em: 13/09/2007
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Pesquisadores da Pesagro desenvolvem sementes orgânicas

Vilma Homero

 Divulgação Pesagro

 
 Sementes orgânicas da Pesagro
O estado do Rio de Janeiro é o segundo mercado consumidor de hortaliças no país. E ocupa a mesma posição quando se trata de produtos orgânicos. Pensando nisso a equipe de olericultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro), está desenvolvendo sementes orgânicas de boa qualidade, certificadas e adaptadas às condições do estado. O trabalho, de Maria Luiza de Araújo e equipe, tem o título de Disponibilização de sementes orgânicas e foi realizado na Estação Experimental de Seropédica e no campo Experimental de Avelar, em Paty do Alferes, com apoio do edital Rio Inovação I, da FAPERJ. A pesquisa permitirá também que os produtores fluminenses não fiquem na dependência do produto importado, oferecido pelas multinacionais. A idéia, por sinal, é de uma progressiva substituição dessas importações.

São sementes de abóbora, alface, berinjela, brócolis, ervilha, feijão preto, jiló, maxixe, pepino, pimentão, quiabo e tomate – dos tipos mais freqüentemente encontrados nas feiras e mercados fluminenses – atualmente em produção e, na maioria, já testada com sucesso por agricultores e pesquisadores do estado. O melhor é que, junto com as sementes, o comprador passa a contar com aporte de tecnologias dos especialistas da Pesagro, que podem tirar dúvidas ou corrigir eventuais problemas no cultivo. A pesquisa resultou ainda num CD, cujo conteúdo também estará em breve disponível para consulta na página da Pesagro.

 Divulgação Pesagro

Sementes preservam cultivares nativas, como abóbora menina e tomate seleção  

Segundo a pesquisadora, de 80% a 90% da agricultura praticada no estado do Rio de Janeiro são de origem familiar, ocupando pequenas áreas e geralmente diversificadas com várias espécies, porém com alta eficiência produtiva. Características bastante adequadas à agricultura orgânica. "Além de não receber nenhum tipo de herbicida ou outros agroquímicos, os orgânicos não podem ser produzidos nas proximidades de áreas de cultivo convencional para não receber resíduos dessas plantações. É um cultivo mais trabalhoso, mas também gera mais empregos e valor agregado", explica Maria Luiza.

O projeto, que teve início em novembro de 2004, já produziu até agora mais de 500 quilos de sementes, das quais 200 quilos já foram comercializadas, trocadas ou doadas a associações de agricultores. A quem pensa que essa é uma produção pequena, é preciso explicar que se trata de volume suficiente para cobrir cerca de 1.000 hectares. "Quinhentos gramas de sementes de quiabo, por exemplo, plantam 1ha. No caso do tomate, 2,5g equivalem a mil plantas, enquanto 1g de sementes de alface dá para um hectare inteiro", esclarece a pesquisadora.

Segundo ela, a atual produção dá para atender todos os agricultores orgânicos do estado. "Embora não tenhamos o número exato, sabemos que a Associação de Produtores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (Abio) tem cerca de 200 associados. Eles querem se unir a outras organizações para formar um pólo, atuar juntos e promover cultivos de acordo com a lei federal 10.831/ 2003, que já foi aprovada, mas ainda está sendo regulamentada. A forma como produzimos nossas sementes obedece a essa legislação", diz.

Hoje, o agricultor fluminense de orgânicos pode usar sementes convencionais porque ainda não existem para venda os similares orgânicos certificados. "Eles costumam adquirir as sementes no mercado convencional. Mas apesar de muitas dessas cultivares agradarem aos agricultores porque têm boa rentabilidade, boa produção e precocidade no cultivo, alguém precisa preservar a memória das cultivares locais ou crioulas, que poderão desaparecer, substituídas por materiais genéticos que atentem a interesses de produtores mais capitalizados", explica.

Segundo a pesquisadora, as grandes empresas privadas precisam obter lucro e manter a marca de seus produtos. "O que induz à comercialização de híbridos, que não podem ser reproduzidos pelo agricultor porque, apesar de alguns resultarem em exemplares de tamanho e cor uniformes, o que pode ser interessante e rentável na comercialização, essa reprodução escapa de seu controle ao longo do tempo" explica.

Os híbridos têm outras desvantagens. Embora sejam até resistentes a determinadas pragas e doenças mais comuns à espécie, no caso de uma mutação dessa praga, pode-se ver destruída uma plantação inteira. Todas as plantas são atingidas e morrem. Com as populações de sementes nativas, isso dificilmente acontecerá, porque elas mantêm variabilidade genética. Morrem alguns exemplares, mas dificilmente se perde uma safra inteira.

 Divulgação Pesagro
 
Um grama de sementes de alface
cobre o plantio de um hectare inteiro
Da mesma forma, no cultivo de híbridos, eles também florescem todos na mesma época, o que exige do agricultor espaço e compradores certos, já que precisará acondicionar e comercializar toda a produção em pouco tempo. "No caso de um produtor ainda não totalmente estruturado, que é a maioria no geral, pode haver perdas acentuadas da produção. Com as cultivares crioulas, o tempo de florescimento varia de planta para planta, o que permite manter a colheita e comercialização por um período bem mais longo, como ocorre nas populações de couve-flor de inverno, mantidas por muitos produtores da região serrana fluminense.

"As cultivares tradicionais nas diferentes regiões geram equilíbrio, tanto no que se refere ao processo produtivo quanto nos procedimentos dos agricultores, que trabalham num ritmo ajustado aos sistemas de comercialização, disponibilidade de produtos e demandas de mercado. Híbridos orgânicos poderão surgir no mercado, mas apresentarão sempre demandas de procedimentos para produção e comercialização em estreito espaço de tempo, e certamente não substituirão os produtos orgânicos existentes, com variabilidade genética e mantidos nas áreas de produção", acrescenta Nilton R. Leal, ex-pesquisador da Embrapa/Pesagro e também professor titular da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf).

Outro problema dos híbridos é que a segunda geração não mantém as mesmas características dos primeiros exemplares e sai inteiramente sem uniformidade. O que leva o produtor a sempre ficar na dependência das empresas que os comercializam. Situação que, na opinião da pesquisadora, leva a uma erosão genética: "Gradualmente, vai havendo a substituição de uma variedade local, crioula, por espécies híbridas ou por cultivares exóticos, ou seja, que vieram de outras localidades. Aos poucos, as sementes nativas vão desaparecendo. Nossos produtores também perdem sustentabilidade na produção das próprias sementes", lamenta.

É nesse sentido que o trabalho desenvolvido na Pesagro também procura atuar. "Nossa pesquisa visa exatamente manter a agricultura fluminense sustentável, aproveitando as sementes produzidas pelos agricultores locais. Temos sementes de couve-flor de inverno, por exemplo, desde a época do Império. Elas estão inteiramente adaptadas às nossas condições climáticas" e manejo cultural dominado pelos seus detentores, diz.

Para o projeto, a Pesagro aproveita ainda os resultados de trabalho anteriores e da experiência acumulada pelos 40 anos de pesquisa voltadas ao melhoramento genético, desenvolvimento de tecnologias de baixo impacto e adaptação às diferentes condições edafoclimáticas do estado. O ponto de partida para a pesquisa foi o material mantido pelo Banco de Germoplasma da Pesagro, seguido da certificação orgânica pela Abio e da consultoria promovida pela certificadora nos campos de sementes. O Banco de Germoplasma tem outra importante função: serve de base às novas pesquisas e ao atendimento de clientes interessados em cultivares que não mais são comercializadas no mercado de sementes.

 Divulgação Pesagro

 
 O cultivo de sementes orgânicas segue
 critérios rígidos e ecologicamente corretos
O processo de produção orgânica de sementes permite que elas sirvam para a produção de brotos comestíveis. "Com as convencionais, isso não é possível porque elas costumam ser tratadas com agrotóxicos para eliminar a possibilidade de disseminação de patógenos", fala. No caso das orgânicas, isso é evitado com inspeções regulares ao campo de cultivo, em que são eliminadas todas as plantas doentes. Depois, ainda há testes rigorosos em laboratório para verificar a presença ou não de patógenos.

Todo o cultivo segue critérios rígidos. "Usamos biofertilizantes, que são uma mistura de esterco, leite e micronutrientes, deixados em fermentação; e também a adubação verde, que é combinar o plantio de leguminosas que favoreçam a produção de nitrogênio no solo. Também fazemos rotação de culturas de espécies diferentes para quebrar o ciclo das pragas eventuais".

"Acreditamos que o Rio de Janeiro precisa se colocar como modelo e vitrine de produtos com alto valor agregado. Aproveitando suas características fundiárias, climáticas e topográficas peculiares. O cultivo de orgânicos pode ser uma boa oportunidade para ganhar esse nicho de mercado utilizando uma agricultura ecologicamente correta", diz Maria Luiza.

"Certamente, os trabalhos apontam para um futuro promissor para todos que se envolverem nesse sistema de produção apoiado em sementes orgânicas. A disponibilidade dessas sementes leva o produtor a usar metodologia de produção diferente, afastando-se, tanto quanto possível, das tecnologias de uso intensivo de agroquímicos, que ao longo do tempo contaminam o solo, o ambiente e o homem, tanto o produtor quanto o consumidor", conclui o professor Nilton.

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