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Publicado em: 06/12/2007
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No meio do caminho, havia uma fábrica de pó de pedra

Roni Filgueiras

 

 Divulgação

      

   Argamil: reaproveitamento de
   efluentes de serrarias da região

Em Santo Antônio de Pádua, município a 265 Km do Rio de Janeiro, o ano de 2008 vai começar com a inauguração de uma experiência inédita no setor de extrativismo mineral. No próximo mês, entra em funcionamento na cidade da região noroeste do estado do Rio uma nova unidade de fabricação de argamassa da empresa Argamil. Este empreendimento surgiu a partir de uma nova tecnologia desenvolvida pelo Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) e Instituto Nacional de Tecnologia (INT), com financiamentos da FAPERJ e da Finep, apoio do Sebrae e do Sindicato de Extração e Aparelhamento de Gnaisses do Noroeste do Rio de Janeiro (Sindignaisses), e parcerias do Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ) e da Uenf.

 

A instalação das unidades de tratamento de efluentes (o descarte de água de um processo industrial) vai permitir uma redução drástica dos dejetos das indústrias minerais não metálicas (pedras decorativas e de revestimentos) nas 46 serrarias de rochas ornamentais e eliminar o descarte de água do processo industrial. A solução representa uma redução drástica dos lançamentos de dejetos das indústrias minerais não metálicas (pedras decorativas e de revestimentos), que emprega cerca de seis mil pessoas da região, que tem 39 mil habitantes, e o principal eixo da economia local. A fábrica do Grupo Mil, erguida em área cedida pela prefeitura, vai gerar 100 empregos diretos e indiretos. A construção consumiu R$ 2,9 milhões e terá capacidade de produção de 20 mil toneladas por mês.

 

Segundo o engenheiro Carlos Peiter, doutor em engenharia mineral e chefe do Serviço de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais (SAPL) do Cetem, a expansão mineral no município tomou fôlego nos últimos 25 anos, com a exploração de rochas de revestimentos e pisos, o gnaisse milotinizado, conhecida como pedra madeira e pedra miracema. "Trata-se de um material de revestimento de baixo preço com demanda crescente Brasil afora", diz Peiter. Mas os problemas ambientais deste APL (arranjo produtivo local, que se define como conjuntos de empreendimentos e de indivíduos que atuam num mesmo território numa cadeia produtiva, neste caso específico, com base na atividade extrativa e de transformação mineral) também eclodiram na mesma proporção. No antigo processo, jogava-se a sobra do corte das rochas diretamente nos rios, o que provocava contaminação das águas com conseqüências sobre a saúde da população e das criações e assoreamento do leito dos rios.

 

"O processo produtivo das serrarias também usava muita água dos mananciais, que são poucos, e devolvia uma lama com pó de pedra para os riachos, num município onde existe uma estiagem prolongada, o que criava um sério conflito com os pecuaristas, agricultores e com a população. Assim esta atividade não ia ter vida longa", relembra. A solução, segundo Peiter, deveria necessariamente ser barata e de fácil aplicação.

 

"É uma tecnologia simples e de baixíssimo custo", revela o engenheiro, coordenador do trabalho do Cetem, que criou as unidades de tratamento de efluentes capazes de retirar os sólidos muito finos da lama das serrarias de rochas, que posteriormente poderiam ser aproveitados. Foram desenvolvidos estudos de aplicação do sólido fino na confecção de cerâmica vermelha (tijolos e telhas), argamassa de assentamento e rejunte (estudo coordenado pelo INT e pela Uenf), piso estampado de concreto e piso reconstituído (tecnologia da INT). O processo integrado de separação dos sólidos finos e seu uso em argamassa foi patenteado em 2002. Já o reaproveitamento dos finos na composição de massa asfáltica teve patente requerida em 2003. "O Cetem desenvolveu uma técnica barata para fazer o tratamento da lama, que tira o pó fino da pedra, fazendo-o sedimentar, e uma água mais limpa é reconduzida à serraria. Essa água fica em circuito fechado e o consumo cai a menos de 10%", atesta.

 

Além de abrir novas frentes de trabalho, a Argamil, em Santo Antônio de Pádua, vai ajudar a diminuir o problema da disposição dos rejeitos sólidos do tratamento da lama, pois usará todo o material fino coletado. "Orientamos, desde 2001, a implantação de mais de 30 unidades de tratamento nas serrarias e outras que foram sendo construídas em seguida.

 

A tecnologia, inclusive, está sendo transferida para a região do Cariri, no Ceará. "Não poderíamos fazer nada complexo em Santo Antônio de Pádua, mas ela já está nos servindo para outras localidades como na região do Cariri, rica em rocha calcária, também produtora de pedra de revestimento (pedra cariri) cujo pó das serrarias vamos empregar na indústria de borracha e também numa de argamassa", revela Peiter. A iniciativa em Pádua ajudou também na gestão da cadeia produtiva da região fluminense. "Das 65 serrarias associadas ao sindicato Sindinaisses, mais de 40 já instalaram a unidade de tratamento de efluentes", contabiliza o engenheiro. "O sindicato desses pequenos produtores tomou a frente da negociação para a instalação da Argamil", conta. "Por sua vez, o DRM-RJ tratou da parte de legalização da atividade mineral e desde 2004 está ocorrendo um ajustamento de conduta em que as serrarias e mineradoras estão se adequando às exigências ambientais para ganharem suas licenças de operação".

 

Segundo o Relatório Brundtland, de 1986, citado pelo pesquisador, "'Os recursos minerais não são e não precisam ser renováveis, tais como os sistemas biológicos, mas precisam ser ou se tornarem sustentáveis'". “O trabalho desenvolvido na região de Pádua procurou seguir este conceito e cremos que teve sucesso a se tomar pelos prêmios recebidos”.

 

Foi por atender este conceito que o trabalho batizado de Gestão de Resíduos arrebatou o primeiro Prêmio Brasil de Meio Ambiente, na categoria Trabalho de Meio Ambiente em Âmbito Estadual (poder público), patrocinado pela Petrobras e veiculado pelo “Jornal do Brasil”, “Gazeta Mercantil” e revista “Forbes”, em janeiro de 2007. Em dezembro de 2006, o Prêmio Furnas Ouro Azul destinou o segundo lugar para o projeto Gestão do Uso da água na Mineração em Santo Antônio de Pádua - RJ: Exemplo de Parceria para Conservação dos Recursos Hídricos. O trabalho disputou com projetos feitos por outras 26 empresas públicas. Na etapa regional do prêmio FINEP de Inovação Tecnológica 2005, o trabalho Produção Limpa e Geração de Empregos no Setor de Rochas Ornamentais foi o vencedor na categoria Inovação Social - Região Sudeste, e recebeu menção honrosa na etapa nacional.

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