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Publicado em: 31/01/2008
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Deu crocodilo na cabeça

Roni Filgueiras

Vinicius Zepeda 

      
    Modelo em tamanho natural do M. arrudacamposi
A descoberta de um fóssil, no interior de São Paulo, um ancestral dos crocodilos atuais, desfaz por completo um dos mais antigos mitos que rondam a espécie: a de que esses animais nada ou pouco evoluíram ao longo dos séculos. “Afirmar isso é uma falácia; como todas as espécies, os crocodilos evoluíram e essa descoberta reforça  a tese”, afirmou o paleontólogo Felipe Mesquita de Vasconcellos durante a apresentação à imprensa do Montealtosuchus arrudacamposi, no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza da UFRJ, na Cidade Universitária, nesta quinta-feira, dia 31 de janeiro. A pesquisa contou com o apoio da FAPERJ.

O réptil está sendo considerado o elo perdido dos crocodilomorfos, classificado como o responsável pela revisão da história da espécie e também por jogar luzes sobre a paleontologia brasileira. “A relevância do M. arrudacamposi é enorme por apresentar características morfológicas que possibilitam traçar as conexões das espécies extintas e as espécies viventes”, definiu Ismar de Souza Carvalho, junto com Felipe e a bióloga Sandra Aparecida Simionato Tavares, um dos autores da pesquisa. Diferentemente de seus descendentes aquáticos, o M. arrudacamposi era um predador totalmente terrestre, que media até 1,70m, pesava entre 25kg e 50kg e se alimentava de carcaças de animais mortos. Ele viveu há cerca de 80 ou 85 milhões. Era altamente adaptado às condições de clima árido do interior de São Paulo durante o Cretáceo Superior. Possuía longas patas, uma carapaça flexível e cauda que permanecia na vertical, um tipo de proteção contra os predadores naturais.

Vinicius Zepeda 
      
   Ismar e Sandra exibem fóssil do crânio do réptil
“Era um animal gregário; aliás, no local onde encontramos esse fóssil extremamente bem preservado, uma verdadeira jóia da paleontologia, também encontramos outros dois espécimes que morreram juntos”, explicou Vasconcellos. O cenário em que viveu o crocodilo era composto de rios e pequenos lagos temporários e o clima, seco e quente. Dinossauros, tartarugas aquáticas e crocodilomorfos terrestres eram os animais contemporâneos do Montealtosuchus, que sucumbiram ao calor ou às inundações, sendo soterrados e preservados como fósseis.

O estudo de Ismar de Souza Carvalho e Felipe Mesquita de Vasconcellos, ambos do Departamento de Geologia do Instituto de Geociências da UFRJ, e Sandra Aparecida Simionato Tavares, do Museu de Paleontologia de Monte Alto (interior de São Paulo, a 360km da capital) lançou mão de métodos pouco comuns numa pesquisa clássica anatômica, como a criação de um modelo virtual, a partir de uma tomografia de alta resolução, feita numa clínica do Leblon. “Esses raios-X seqüenciais possibilitaram recriar um modelo virtual”, disse Vasconcellos. “E o resultado em 3D ajudou a reconstituir as estruturas internas e externas do animal, como a topologia do cérebro, a fixação muscular, que permitiu aprimorar os estudos biomecânicos, e a extensão da abertura da mandíbula”, explicou Vasconcellos.

Divulgação 

     
   O M. arrudacamposi conviveu com os dinossauros

Esse tesouro da paleontologia nacional surgiu a partir da paixão de um homem pelos dinossauros. Antonio Celso Arruda Campos se aposentou e começou a dedicar suas horas livres ao estudo de animais pré-históricos. Foram 30 anos dedicados à pesquisa que rendeu a criação de um Museu de Paleontologia na pequena Monte Alto. “Escavávamos o terreno e quando encontrávamos algo, eu ligava para a UFRJ”. A parceria já deu frutos. E o mais extraordinário veio à superfície em maio de 2004, em Monte Alto. A preparação do fóssil batizado em homenagem a Arruda Campos levou quatro anos.

M. arrudacamposi pertence à família Peirosauridae e o nome homenageia a cidade de Monte Alto e o professor Antônio Celso de Arruda Campos, responsável por importantes descobertas no estado paulista. Trata-se de um fóssil com aproximadamente 80% do esqueleto perfeitamente preservado. Fósseis desta espécie são raros, sendo apenas encontrados em rochas do Cretáceo Superior da Bacia Bauru, no interior de São Paulo. O artigo Montealtosuchus arrudacamposi, a new peirosaurid crocodile (Mesoeucrocodylia) from the Late Cretaceous Adamantina Formation of Brazil, que apresentou o fóssil ao mundo foi publicado na ZooTaxa, importante publicação da área.

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