Vilma Homero
Fiocruz |
Na caricatura de J. Carlos, Rodrigues Alves e Oswaldo Cruz aparecem ao lado dos problemas da época: vetores e enchentes |
Professora adjunta de Metodologia do Ensino e Práticas de Ensino de História, do Departamento de Ciências Humanas, da Faculdade de Formação de Professores de São Gonçalo, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), durante muitos anos Magali Engel também deu aulas de História do Brasil, na Universidade Federal Fluminense (UFF). "Nos últimos seis, sete anos, venho pesquisando o uso de instrumentos que enriqueçam o ensino de história. O recurso das crônicas tem sido adotado nas séries do ensino fundamental e médio da Escola Técnica Estadual Henrique Lage, unidade da Fundação de Apóio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro (Faetec), em Niterói. Atualmente ela tem visto seu trabalho ser utilizado por um grande número de outras escolas.
A escolha de crônicas para trabalhar em outras disciplinas, que não português ou literatura, é fácil de explicar. Como fala Magali Engel, crônica "... é aquela narrativa que capta o que é fugidio aos outros gêneros, convida o cotidiano a se pronunciar em seus próprios termos, sem muita elaboração rebuscada." E, principalmente, "sua riqueza ajuda a compreender situações complexas ao longo da história". A professora vai além. "São textos curtos, publicadas em jornais, destinadas a um público maior e, portanto, mais fáceis de despertar o interesse do estudante do ensino básico. Em geral, descrevem fatos que influenciam a vida das pessoas e têm a ver com o processo histórico daquele momento", explica.
O livro nasceu da pesquisa "Trabalho, relações de gênero e questão racial: memórias da cidade através das crônicas (Rio de Janeiro, 1870-1930)", desenvolvido com apoio da FAPERJ e do CNPq, como uma contribuição para a formação inicial e continuada de profissionais da educação, em especial das áreas das ciências humanas. Embora há tempos Magali venha trabalhando com 13 autores, entre os quais Machado de Assis, Coelho Neto, Olavo Bilac, parte de um projeto maior, sua escolha para o livro recaiu sobre Lima Barreto, Olegário Mariano e Paulo Barreto, o conhecido jornalista João do Rio.
"Tenho verdadeira paixão por Lima Barreto, que já estudo há muito tempo. Seus escritos são bastante politizados, e ele mantém uma postura crítica em relação à política que ainda é bem atual", diz. No caso de João do Rio, embora não seja muito trabalhado no ensino, foi um dos cronistas mais importantes da jovem república de início do século XX. É um autor que fala muito da cidade e que, apesar de certo conservadorismo, tem um olhar arguto sobre as relações capitalistas, sobre a vida e sobre os setores mais pobres da sociedade. Magali também selecionou Olegário Mariano por ser um cronista pouco conhecido, com o particular de escrever em versos, especialmente sobre os costumes, a mulher e a moda. "Achei-o particularmente interessante para falar das mudanças de mentalidades na virada do século XX."
São cronistas diferentes, que falam da cidade de perspectivas diferenciadas. Mas Magali procurou seguir dois critérios que achou importantes: temas que mostrassem as transformações das condições de vida na virada do século XX e que também estabelecessem diálogo com a atualidade. "São temas que, mesmo de um modo transformado, guardam aspectos comuns com a realidade de hoje", explica. E logo cita exemplo: "Um desses temas é a corrupção na política, que aparece demais nos textos. Os autores são bastante críticos, têm um olhar descrente da política institucional, que significa clientelismo, voto de cabresto, da falta de uma consciência maior em relação ao bem público. Neste sentido se destacam em particular Lima Barreto e João do Rio."
Marc Ferrez |
Avenida Central: palco das grandes transformações que mudaram a cidade na virada do século XX |
Em "Fome Negra", as comparações entre passado e presente são muitas e os assuntos indicados para discussão e interpretação, igualmente variados. "É possível discutir sobre o que mudou e o que permanece semelhante, as atividades econômicas, as relações de trabalho, o surgimento do movimento operário", cita.
Resultados têm sido interessantes. "Trabalhando dessa forma com os alunos, temos tido ótimas experiências. Os estudantes ficam mais estimulados, observam que é mais interessante estudar história dessa forma, ficam mais motivados na aula. Dependendo de como o material é usado, há uma compreensão melhor e mais abrangente do tema. Eles descobrem autores que não conheciam e passam a enxergar uma cidade mais viva, se vêem capazes de interpretar fatos e produzir pequenas apresentações, de fazer leituras dramatizadas", diz.
Magali se entusiasma ao falar desses resultados. "Quando se trabalha de forma interdisciplinar, os alunos percebem que as disciplinas estão ligadas, que um conhecimento ajuda a entender outros e que as coisas acontecem no conjunto. Essa percepção é ótima. E nas oficinas que montamos para professores do ensino básico, uma delas com o livro, a participação tem sido bastante intensa, com uma troca de idéias bem enriquecedora." O que Magali espera agora é ver cada vez mais tudo isso em prática.
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