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Publicado em: 29/12/2009
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Nova substância para o tratamento da tuberculose

Vilma Homero


 Divulgação/UFRJ

 
 Anemia tomentosa: uma das
 plantas com ação contra a bactéria
Uma substância de síntese, que em testes in vitro mostrou ter ação em inibir o crescimento da Mycobacterium tuberculosis – bactéria que provoca a maioria dos casos de tuberculose –, está despertando a atenção dos pesquisadores coordenados pela professora Suzana Guimarães Leitão, do Departamento de Produtos Naturais e Alimentos, da Faculdade de Farmácia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em testes com camundongos, inoculados com a bactéria, a substância conseguiu fazer regredir a doença em até 60%, em dois meses. A expectativa é de que, em humanos, se comprove a mesma atuação, com igual redução no tempo de tratamento, que atualmente leva seis meses.

Anualmente, estima-se que cerca de 54 milhões de pessoas são infectadas com o M. tuberculosis em todo o mundo. Delas, 8 milhões desenvolvem a tuberculose e 2 milhões morrem devido à doença. Nos países em desenvolvimento, registram-se 95% dos casos. No Brasil, 13 lugar no ranking dos 22 países onde se estima que ocorram 80% dos casos de tuberculose no mundo, a incidência é de 129 mil novos casos por ano.

Segundo a pesquisadora, a substância de síntese, vinda do laboratório do professor Antonio Ventura Pinto, um dos pesquisadores do grupo, foi escolhida para a fase de testes com camundongos porque foi a que se mostrou mais ativa entre as já testadas até o momento. Os ensaios com camundongos estão sendo realizados por Rogelio Hernandez Pando, do Instituto Nacional de Ciências Médicas y Nutrición Salvador Zubiran, no México. É mais uma das equipes envolvidas no projeto, que conta também com a participação de equipes de outros laboratórios da UFRJ, além de um grupo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

"O modelo desses ensaios é demorado. É preciso aguardar dois meses da fase pós-infecção para que os animais desenvolvam a doença e então dar início ao tratamento. Mas a substância mostrou-se bastante promissora." Mesmo com a dosagem empregada, calculada a partir de ensaios in vitro e considerada baixa, os resultados foram significativos. "Isso quer dizer que a substância é bastante ativa. Seu efeito é semelhante ao da rifampicina, um dos três medicamentos atualmente usados no tratamento da tuberculose. Além disso, a substância se mostrou praticamente desprovida de toxidez", anima-se a professora.

A pesquisadora explica que o Mycobacterium tuberculosis atualmente mata mais indivíduos em todo o mundo do que qualquer outro agente infeccioso sozinho. "Infelizmente, o tratamento da tuberculose, além de ser de longa duração, conta com reduzido arsenal terapêutico. Tudo isso dificulta a adesão ao tratamento e o controle da doença, especialmente quando ela é provocada por cepas resistentes ou multirresistentes do M. tuberculosis aos fármacos disponíveis. A busca por inovações para solucionar essas limitações terapêuticas é prioritária para os programas de saúde pública no país", diz Suzana Leitão. Outra característica da substância em estudos é ser lipofílica, ou seja, apresenta afinidade pelas gorduras. Isso é particularmente importante no caso do M. tuberculosis, já que a bactéria é recoberta por uma capa lipídica e, portanto, extratos aquosos não tem se revelado ativos.

Agora, ela e sua equipe devem realizar nova etapa de testes, com uma concentração maior e em combinações com outros medicamentos. "Podemos, por exemplo, testá-la em associação com a rifampicina para intensificar seus efeitos e reduzir ainda mais o tempo de tratamento", explica Suzana. Outra ideia é testá-la em cepas resistentes à rifampicina. "Hoje, é grande o número de casos da doença com cepas de bactérias resistentes a diversos antibióticos, mesmo os de segunda geração." O grupo também espera despertar o interesse de empresas farmacêuticas para o desenvolvimento de medicamentos.

Mas até chegar ao estágio de teste em humanos ainda demora. Ainda será necessário passar por mais algumas etapas. Enquanto isso, o grupo de pesquisadores continua testando cerca de outras 30 substâncias sintéticas e mais 20 extraídas de plantas, usadas pela sabedoria popular, algumas delas vindas de comunidades, como a de remanescentes de quilombolas, em Oriximiná, no Pará, e exemplares coletados entre as plantas habitualmente vendidas nas feiras livres da região serrana do Rio de Janeiro.

"A pesquisa com plantas medicinais, cuja atividade antimicobacteriana de produtos naturais tem sido bastante demonstrada, é considerada uma abordagem frutífera na busca de novos fármacos. E avaliar quais dentre elas demonstram atividade é uma das linhas de pesquisa ativa do nosso laboratório", fala Suzana. As estratégias para isso são basicamente duas: triagem randômica e etnofarmacologia. Segundo Suzana, na primeira estratégia, testa-se o maior número de extratos disponíveis, escolhidos ao acaso numa etapa de triagem, para detectar extratos ativos, que serão então fracionados para o isolamento dos princípios ativos. Na abordagem etnofarmacológica, buscam-se informações sobre plantas medicinais empregadas pelas comunidades em estudo no tratamento de problemas respiratórios.

 Divulgação/UFRJ
 
Suzana Leitão (à direita) colhe seiva de árvore para
teste, em comunidade de Oriximiná, no Pará
  
"Esse foi o objeto da dissertação de mestrado de Fernanda Leitão dos Santos, do Programa de Biotecnologia Vegetal da UFRJ, enquanto Danilo Ribeiro de Oliveira, do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais da UFRJ, fez, em sua tese de doutorado, o levantamento etnobotânico das plantas usadas pelas comunidades de Oriximiná. A autorização para o acesso a esse conhecimento tradicional de comunidades remanescentes de quilombolas, associado ao patrimônio genético, foi a primeira do gênero a ser concedida no país, em 2007", entusiasma-se Suzana.

Os vários extratos ativos vêm sendo fracionados para o isolamento de substâncias ativas por uma técnica inovadora: a cromatografia contra-corrente. "As maiores vantagens da técnica são a rapidez e a eficiência em isolar princípios ativos, a economia de solventes, a recuperação total da amostra e a recuperação da atividade biológica nos fracionamentos bioguiados", diz a pesquisadora. Em outras palavras, o método permite chegar-se à substância ativa com maior índice de pureza e com maior rapidez. Até o momento, já foram isolados e identificados cerca de 16 produtos naturais ativos e produzidos outros 50 extratos de plantas, igualmente ativos.

"Na semana passada, vários especialistas na cromatografia contra-corrente estiveram reunidos na UFRJ em um seminário, e também para já programada realização de um DVD sobre o evento. Entre eles, o americano Walter Conway, o papa do método, e vários outros estrangeiros", anuncia Suzana. Entre os organizadores do evento, está sua irmã, a professora Gilda Guimarães Leitão, do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais. "Embora a técnica ainda seja pouco difundida no Brasil, é uma escolha confiável para a realização de estudos de bioprospecção. No mundo todo, ela vem sendo adotada por empresas farmacêuticas voltadas a esse tipo de estudo", finaliza.

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