Vinicius Zepeda
Divulgação/Amapan |
Morro do Queto: população carece de serviços, como saneamento, coleta de lixo e programas sociais, e ainda sofre com falta de água |
Para minimizar o problema, uma parceria entre pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Amapan desenvolveu um trabalho de conscientização sobre o risco de doenças. O projeto, que conta com o auxílio do edital Apoio à Difusão e Popularização da C&T no estado do RJ, da FAPERJ, tem coordenação da doutora em biologia parasitária Teresa Cristina Monte Gonçalves. Além do Morro do Queto, o trabalho da equipe envolveu também outra comunidade da Zona Norte, o Morro do Salgueiro, no bairro da Tijuca, onde vivem perto de quatro mil pessoas. "Apesar das semelhanças, vale ressaltar as diferenças entre as duas comunidades. O Salgueiro localiza-se no coração da Tijuca, próximo à praça Saens Peña. Por ser urbanizado, é possível chegarmos até o topo da favela de carro, em ladeiras asfaltadas. O espaço é atendido por várias Organizações Não-Governamentais (Ongs) e iniciativas do poder público", explica Teresa. "Nosso objetivo foi conscientizar moradores, professores e agentes comunitários de ambas as comunidades sobre os riscos de doenças transmitidas por certos artrópodes. No caso dos professores, os preparamos para agir como multiplicadores de nosso projeto", acrescenta.
Centers of Diseases Control |
Comum nas duas favelas, percevejo de cama se alimenta de sangue humano e sua infestação é de difícil controle |
Tanto no Queto quanto no Salgueiro muito se falou de piolhos, baratas, mosquitos, carrapatos, moscas e formigas. "No caso das formigas, surpreendeu muita gente nas duas comunidades, que não se importavam em comê-las e repetiam a crendice popular de que fazem bem à vista. O que muitos não sabem é por onde elas passam até chegar em suas casas. Ao caminharem sobre comida estragada e lixo, elas podem carregar micróbios e bactérias nas patas. Infecções, reações alérgicas, disenteria e verminoses podem ser provocadas por esses insetos", afirma Teresa.
Divulgação / Fiocruz |
Para Teresa e Willian, o projeto serve para aproximar moradores de favelas de grandes centros de pesquisa |
Já no Salgueiro, os mosquitos e o piolho foram os mais debatidos pela população local. "Nesses casos, destacamos a importância da boa higiene nos cabelos das crianças durante o banho e da constante inspeção da cabeça dos filhos pelos pais", lembra Teresa. "Também ensinamos um remédio caseiro mais barato do que os xampus especiais de farmácia: lavar com água e vinagre e usar pente fino."
A ideia do projeto surgiu inicialmente de uma proposta idealizada pelo doutorando em entomologia médica Willian de Almeida Marques. "Já desenvolvíamos um trabalho semelhante voltado para a capacitação de agentes de saúde no combate à doença da Chagas em municípios de Tocantins e depois começamos a realizá-lo no Rio de Janeiro. Como aqui no município não há casos da doença, resolvi fazer um projeto semelhante, com outros artrópodes", explica Willian Marques. Além de participar da equipe coordenada por Teresa Cristina – que contou ainda com mais seis participantes fora especialistas convidados para as palestras –, o futuro doutor foi responsável por articular os contatos com as duas comunidades. "No caso do Salgueiro, apesar de não morar lá há muito tempo, nasci e fui criado naquela comunidade, onde mantenho amigos e laços até hoje. Já a escolha do Morro do Queto se deveu à admiração que nutria pelo trabalho dos moradores ligados à Amapan. Devido às precárias condições de vida na comunidade, qualquer trabalho feito ali é realmente de formiguinha", complementa.
Num primeiro momento, o trabalho foi realizado por meio de palestras e distribuição de folhetos explicativos aos moradores das duas favelas, na maioria mulheres e crianças. Numa segunda etapa, professores e agentes comunitários locais fizeram um curso com especialistas nas dependências da Fiocruz para poder atuar como multiplicadores do projeto. "Eles também ganharam uma apostila explicativa para usar em eventos futuros, como palestras, feiras de ciências, dias de conscientização, que planejem realizar", afirma Teresa. Para ela, o projeto desenvolvido pela equipe também ajuda na aproximação das pessoas com centros de pesquisa, que deixam de ser vistos como inatingíveis. "Esse foi o último ponto comum entre o Morro do Salgueiro e do Queto. Deixamos o diálogo aberto para que eles entrem em contato com especialistas da Fiocruz, da Secretaria Municipal de Saúde e demais órgãos públicos", destaca. "O projeto já está sendo encerrado, mas, ainda assim, têm surgido pedidos para novas palestras nas escolas locais, que pretendemos realizar", conclui.
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