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Publicado em: 18/03/2010
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Novas perspectivas no controle da dengue

Elena Mandarim

 www.metapathogen.com   

       

 Proliferação do vetor gerou aumento de 109%
    dos casos de dengue nos últimos meses 

De 1 de janeiro a 13 de fevereiro de 2010, houve 108.640 registros de dengue no Brasil, um aumento de 109% em relação ao mesmo período de 2009. Cinco estados – Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre, Rondônia e Goiás – concentram 71% das ocorrências e já estão com alta incidência, ou seja, mais de 300 casos por 100 mil habitantes, de acordo com o boletim epidemiológico parcial do Ministério da Saúde (MS), divulgado em 1 de março. A dengue pode ser considerada uma doença endêmica no Brasil, com eventuais picos epidêmicos, já se tornou questão de saúde pública. Em busca de novos alvos para o controle da doença, Ronaldo Mohana-Borges, Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ, coordena pesquisa, desenvolvida no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ), que investiga as estruturas moleculares do vírus da dengue.

O objetivo geral do projeto é mapear as estruturas virais a fim de entender o mecanismo da infecção e identificar interações entre vírus e célula hospedeira. "Com esses dados, podemos produzir compostos inibidores para conter a evolução da doença, bem como avançar nas pesquisas que buscam desenvolver vacinas", diz Mohana-Borges. O estudo compreende dois trabalhos de pós-doutorado e um de mestrado, e conta com a colaboração dos professores da UFRJ Amilcar Tanuri do Instituto de Biologia, Andrea Da Poian do Instituto de Bioquímica Médica, Paulo Mascarello Bisch do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho e do professor da UFF Vitor Francisco Ferreira do Instituo de Química. "Temos conseguido resultados animadores no mapeamento das estruturas moleculares do vírus da dengue. E já estamos em fase de comprovação do kit de diagnóstico que desenvolvemos", complementa. 

Particularidades da dengue

A dengue é uma doença aguda, de rápida evolução, causada por vírus, que ainda não tem vacina. É mais comum em regiões tropicais e subtropicais, devido às altas temperaturas e o grande volume de chuvas, condições ideais para a reprodução do mosquito Aedes aegypit, principal transmissor da doença. "Enquanto não for desenvolvida vacina contra dengue, a melhor profilaxia ainda é o controle do inseto", diz Mohana-Borges.

O pesquisador conta que existem, no mundo, quatro sorotipos do vírus da dengue e cada um causa um tipo de dengue (DEN) – tipo 1 (DEN1), tipo 2 (DEN2), tipo 3 (DEN3) e tipo 4 (DEN4). O grande problema é que a infecção com uma delas só confere imunidade à própria, ou seja, não imuniza o paciente para as demais. Pelo contrário, quando há contágio com um segundo tipo de dengue, diferente do primeiro, parece aumentar as chances de a doença progredir para formas mais graves, como a dengue hemorrágica. "Essa é a dificuldade de se produzir uma vacina eficiente, pois a imunização contra vírus já é uma tarefa árdua, ainda mais no caso da dengue, que precisa ser contra os quatro sorotipos do vírus ao mesmo tempo", explica.

Sabendo disso, o Boletim do MS alerta para o alto risco de se instalar uma epidemia de dengue este ano, pois além da proliferação do mosquito se intensificar com as chuvas do mês de março, a DEN1, erradicada há 15 anos, voltou a circular no Brasil. Logo, todas as pessoas que tiveram qualquer tipo de dengue nesse período estão expostas a novas infecções.

 

Divulgação/IBCCF/UFRJ 
     

Ronaldo Mohana-Borges: coordenador do estudo busca
compostos inibidores da infecção pelo vírus da dengue


Segundo o professor, a estrutura do vírus da dengue é bem simples; consiste numa fita simples de RNA (material genético) envolta por uma membrana lipoprotéica. Contudo, seu funcionamento é extremamente complexo. Resumidamente, a infecção ocorre quando a membrana do vírus se funde à membrana da célula hospedeira e incorpora seu material genético. Quando isso ocorre, a maquinaria da célula hospedeira passa a produzir proteínas virais, como as proteínas não-estruturais NS3 e NS5, envolvidas na produção e montagem de novos vírus, aumentando a carga viral e desencadeando os sintomas da doença.

Em todos os estágios da infecção, há intensa comunicação entre vírus e célula hospedeira e é justamente isso que o grupo de pesquisa, coordenado por Mohana-Borges, tenta desvendar. "Temos várias frentes de estudos que visam saber exatamente quais são as moléculas-chave na fusão das membranas e na interação entre vírus e célula hospedeira", diz o coordenador.

Subsídios para novos controles

Um dos braços do estudo busca revelar características moleculares das proteínas estruturais do vírus da dengue, proteína C e glicoproteína E. Para o pesquisador, as propriedades físico-químicas e a forma tridimensional dessas proteínas são fundamentais para o processo infeccioso e os resultados preliminares da pesquisa confirmam sua teoria. "Publicamos um artigo no Journal of Molecular Biology descrevendo que a fusão entre as membranas depende da integridade do aminoácido triptofano, presente na glicoproteína E que forma a membrana viral. Isso porque, apesar de ser bioquimicamente diferente, esse aminoácido apresenta propriedades moleculares semelhantes à bicamada lipídica da membrana das células humanas e, assim, consegue se inserir nela", explica. "Com essas informações, podemos pensar em produzir drogas que consigam bloquear esta inserção e, portanto, inibir a entrada do vírus na célula hospedeira", complementa.

Outra vertente da pesquisa, tema do trabalho de pós-doutorado de Emiliana Mandarano da Silva, focaliza o mapeamento das interações entre as proteínas virais e as proteínas da célula hospedeira. "Já identificamos, aproximadamente, 30 proteínas expressas nas células do fígado – órgão sólido mais afetado pela dengue – que interagem com a proteína viral NS3 e estamos fazendo o mesmo para NS1, outra proteína viral", conta o coordenador.

Os resultados obtidos até agora dão subsídios suficientes para avançar nas pesquisas que buscam produzir compostos inibidores das moléculas-chave da infecção pelo vírus da dengue. E, segundo Mohana-Borges, isso já está sendo feito no trabalho de pós-doutorado de Emmerson Corrêa B. da Costa, em conjunto com o professor Amilcar. "Já temos centenas de compostos inibidores sendo testados. Alguns deles já se mostram eficazes para a inibição de enzimas vitais do vírus da dengue, como por exemplo, uma droga que inibe a proteína NS3, essencial para a produção de novos vírus", conta o pesquisador.

Boas perspectivas

Em paralelo, no trabalho do mestrando Diego Allonso R. S. Silva, está sendo desenvolvido um kit diagnóstico de dengue, que poderá substituir os dois kits importados usados atualmente nos postos de saúde. Segundo Mohana-Borges, a elaboração de um kit nacional é primordial para o controle da doença, para confirmar o diagnóstico e auxiliar os médicos na aplicação do tratamento adequado, reduzindo a evolução do caso para os tipos mais graves de dengue.

O pesquisador explica que o desenvolvimento do kit consiste, abreviadamente, em produzir a proteína NS1 em bactérias, que funciona como antígeno e introduzi-la em dois animais, neste caso coelho e camundongo, para que produzam anticorpos. Depois, aplica-se o teste Elisa de Captura, que é feito reagindo uma solução contendo esses anticorpos com soro sanguíneo do paciente infectado, que tem a NS1 viral. Se houver ligação "proteína-anticorpo", significa que houve identificação da presença do vírus.

De acordo com o coordenador, esse trabalho está em fase inicial e por enquanto só conseguiram o diagnóstico eficiente para a DEN2. Por isso, Mohana-Borges visa, agora, desenvolver um antígeno de cada tipo de dengue para, assim, produzir seus anticorpos específicos, que permitirá, além de diagnosticar a doença, identificar com qual delas o paciente está infectado. "Para o atendimento ambulatorial, isso não faz diferença, mas para o controle epidemiológico esses dados são relevantes", diz. "Além disso, esse é o primeiro passo para a produção de uma vacina tetravalente, que precisa conter os quatro antígenos para que o organismo ‘aprenda’ a produzir os quatro anticorpos e fique imunizado para todos os tipos de dengue", complementa.

As perspectivas em relação à erradicação da dengue são boas. Contudo, enquanto isso não acontece, a melhor maneira de manter esta doença controlada é combater a proliferação do mosquito. E, para isso, cabe a sociedade agir em conjunto com os programas de governo, não deixando água acumular em recipientes e denunciando possíveis focos de reprodução. O Ministério da Saúde já está registrando grande aumento do número de casos nesses últimos meses e, como dizia Tom Jobim, "são as águas de março fechando o verão", que alertam para a possibilidade de epidemia em 2010.

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