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Publicado em: 30/03/2010
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Pesquisa aplica técnica para o diagnóstico precoce da hanseníase


Débora Motta

  www.medicinageriatrica.com.br

     
   Manchas causadas pela hanseníase:
   doença tem cura e tratamento gratuito 

A hanseníase, conhecida como a doença mais antiga do mundo ou, popularmente, como lepra, afeta a humanidade há pelo menos quatro mil anos. No entanto, o seu diagnóstico precoce, fundamental para reduzir o risco de lesões irreversíveis nos nervos do paciente, ainda é um desafio. Uma pesquisa desenvolvida na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – com apoio da FAPERJ, por meio dos editais Jovem Cientista do Nosso Estado e Apoio a Grupos Emergentes de Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro –, vem utilizando a técnica de PCR em tempo real para diagnosticar mais rápido a presença da Mycobacterium leprae, a bactéria causadora da hanseníase, e também estimar quais as chances reais do indivíduo, de fato, desenvolver a doença.

O estudo adaptou a técnica de PCR em tempo real – sigla em inglês para reação em cadeia de polimerase –, já utilizada em testes laboratoriais de outras doenças, para o diagnóstico da hanseníase. "Com essa técnica, analisamos amostras de tecido da pele do paciente e verificamos a carga bacteriana, pela identificação e quantificação do DNA e do RNA da Mycobacterium leprae. É possível detectar assim a doença precocemente, mesmo nos casos de difícil diagnóstico pelos métodos convencionais", explica o professor Milton Ozório Moraes, do Laboratório de Hanseníase do Instituto Oswaldo Cruz, destacando que, por ser em tempo real, a investigação genética ganha mais especificidade e sensibilidade.

A metodologia, além de identificar a presença da bactéria, também avalia a viabilidade do Mycobacterium leprae no organismo, ou seja, sua capacidade de desenvolver ou não a doença e de ser transmitida a outras pessoas. "Utilizando a técnica de PCR em tempo real, conseguimos ver, pelo RNA, não só se a bactéria está viva, mas se ela está apenas dormente", diz Milton, coordenador da pesquisa. "Podemos fazer análise de amostras de pacientes e familiares e ver quem carrega o DNA do Mycobacterium leprae. É uma detecção muito sensível, que pode ajudar na indicação de um tratamento mais precoce, para evitar que a doença se agrave e cause danos na pele e nos nervos", completa.

 Divulgação/Fiocruz
     
Milton Ozório: técnica permite a detecção precoce, mesmo
em casos de difícil diagnóstico pelos métodos convencionais 
 

A hanseníase, atualmente, é diagnosticada por meio de exame histopatológico (exame histológico de amostras da pele do paciente) combinado com avaliação clínica. Nos casos de pacientes sem lesões na pele – caracterizados como paucibacilares ou portadores da forma neural pura da doença –, o diagnóstico torna-se mais difícil. Diante da imprecisão da detecção histológica, devido às variações do aspecto clínico dos casos, a nova técnica molecular desenvolvida no IOC pode ser uma grande aliada para confirmar a presença da hanseníase o quanto antes.

O estudo foi realizado em colaboração com a Universidade Estadual da Louisiana, nos Estados Unidos, onde a bióloga Alejandra Martinez, orientada por Milton, experimentou o método em testes laboratoriais, durante seu estágio de doutorado sanduíche, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O trabalho rendeu uma publicação no Journal of Clinical Microbiology, em 2009. "Ela ajustou a tecnologia de PCR em tempo real para o estudo específico da hanseníase e fez os primeiros testes lá. Quando voltou, a técnica foi adaptada às condições do nosso laboratório na Fiocruz", conta Milton, lembrando que as amostras analisadas são de pacientes com hanseníase atendidos na própria Fiocruz, no serviço do Ambulatório Souza Araújo.

Doença negligenciada

A hanseníase está no grupo das chamadas "doenças negligenciadas", isto é, aquelas que, segundo a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), atingem predominantemente ou exclusivamente populações de países em desenvolvimento. Além da hanseníase, enquadram-se nessa classificação a dengue, doença de Chagas, tuberculose, esporotricose, esquistossomose, febre amarela, malária, leptospirose, leishmaniose, paracoccidiose e riquetsiose.

                                                     Gutemberg Brito/IOC

          
     A bióloga Alejandra Martinez ajustou a técnica de PCR
     em tempo real para o estudo específico da doença
Essas doenças, associadas às más condições de vida, não recebem a atenção devida das indústrias farmacêutica e biotecnológica, responsáveis pela produção de vacinas, medicamentos e kits de diagnóstico. No Rio de Janeiro, a ocorrência de hanseníase é maior do que a recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). "Aqui no Rio, temos cerca de 15 pessoas com hanseníase para cada 100 mil habitantes. Esse número, no entanto, tem diminuído gradativamente", aponta o professor.

Na antiguidade, os portadores da doença eram vistos como pessoas que receberam castigo de Deus por algum pecado cometido. Durante muitas décadas do século XX, o paciente portador de hanseníase viveu ainda sob o estigma da doença, sendo conduzido compulsoriamente ao isolamento social em hospitais colônias conhecidos como leprosários. "Atualmente, a hanseníase é curável e tem tratamento gratuito. Muitas vezes, porém, a pessoa infectada só vai descobrir que é portadora dois a cinco anos depois da infecção, quando os sinais da doença se tornam mais visíveis na pele", diz.

Milton destaca que é preciso estar atento a qualquer alteração na pigmentação e na sensibilidade da pele. "Uma vez diagnosticada a hanseníase, seu tratamento, de aproximadamente um ano, não deve ser interrompido em nenhuma hipótese", alerta. "Geralmente são recomendados o uso de três medicamentos, que funcionam como antibióticos", completa o professor, lembrando que a transmissão da doença ocorre pelas vias aéreas.

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