Vilma Homero
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A pesquisadora Vivian Runjanek e Leopoldo de Meis |
Reconhecido por vários prêmios internacionais, Leopoldo também já esteve perto de ganhar um prêmio Nobel, como afirmou Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), por ocasião da entrega do Prêmio Conrado Wessel, em 2009. Pesquisador Visitante Emérito da FAPERJ, ele vem estudando, há anos os mecanismos pela qual enzimas utilizam a energia derivada da hidrólise de compostos fosforilados de alta energia para realizar trabalho. "Gosto de trabalhar na bancada realizando meus próprios experimentos. É lá que percebo muitos dos dados que publiquei", afirma. Seu trabalho é também o ponto de partida para várias aplicações. "Em paralelo à minha linha principal de trabalho tive a sorte de colaborar com a doutora Denise Pires, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, uma especialista de alto nível em disfunções hormonais. Ela me introduziu no mundo da patologia clínica e já publicamos diversos trabalhos em colaboração", acrescenta.
Tanto quanto mostrar seu trabalho e sua própria história, o artigo, escrito em primeira pessoa, acompanha a história de se fazer ciência no Brasil. "Já tinha escrito algo parecido para a Elsevier, que tem uma série sobre a experiência de vida e ciência. É algo que está crescendo bastante, uma forma de se mostrar não apenas a ciência, o trabalho, mas também resgatando a importância do pesquisador, mostrando como fui caminhando na ciência."
No começo, o estudante Leopoldo ingressou na Universidade Federal do Rio de Janeiro, pensando em se tornar médico, mas um ano mais tarde, ao aceitar a oferta de uma bolsa para trabalhar num laboratório de pesquisa, acabou mudando de rumo, conquistado pela investigação científica, como ele mesmo admite. Não tinha certeza do que era ciência quando iniciou, mas aprendeu com Walter Oswaldo Cruz, no Instituto Oswaldo Cruz e, mais tarde, com Herbert Tabor, no Instituto Nacional de Saúde, nos Estados Unidos. Hoje, busca certas características nos jovens estudantes que procuram seu laboratório: bom humor e um bocado de intuição. "É preciso ter bom humor para saber lidar com a frustração naquelas situações em que as experiências não saem como esperávamos, muitas vezes deitando por terra meses de trabalho. É preciso ter muita determinação para começar novamente, sem falsas interpretações ou, pior ainda, sem cair na tentação de ‘adaptar’ resultados", afirma.
Além das atribulações da própria prática de fazer ciência, outras questões ameaçaram interromper seu trabalho. Durante a ditadura militar, instaurada no país em 1964, Leopoldo e outros pesquisadores do Instituto de Biofísica, onde trabalhava à época, por várias vezes peregrinaram por delegacias do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) à procura de alunos que pudessem ter sido presos como opositores do regime. Embora inteiramente avesso à política, certo dia, Leopoldo foi aconselhado a tirar um longo período sabático, com a família, fora do país. Terminou indo para a Alemanha, mais precisamente para o Max Planck Institute, onde teve a chance de trabalhar no laboratório de William Hasselbach, o descobridor da Ca 2+-ATPase do retículo sarcoplasmático ou, em outras palavras, da estrutura que controla o ciclo de contração e relaxamento músculo esquelético.
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Walter Oswaldo Cruz, mentor do primeiros passos de de Meis como estudante de medicina |
Segundo afirma de Meis, já foi organizada uma rede que conta com mais de 30 desses grupos pelo país. Um de seus ex-alunos, exemplo sempre citado, é Wagner Seixas. "Ele frequentou um desses cursos, tomou gosto pela ciência, entrou para a faculdade, formou-se em Biologia, na UFRJ, e fez doutorado em Química Biológica, na mesma universidade, sob minha orientação e do professor Antonio Galina. O pós-doutorado foi no Harvard Institute of Medicine, nos Estados Unidos", conta. Hoje, além de suas pesquisas, Seixas também leva adiante o projeto do professor de Meis, desenvolvendo trabalhos de extensão com professores e alunos do ensino médio para melhorar o ensino de ciências.
Para selecionar vocações como Seixas, de Meis tem seus métodos: "Quando vejo que numa entrevista, o candidato enumera dados e mais dados, sem fazer uma associação clara entre eles, imagino que será um pesquisador mediano. Mas quando aparece alguém que relata o trabalho de forma simples e compreensível, em que os dados se relacionam de forma a explicar toda a experiência, sei que esse será um bom pesquisador", garante. Outra estratégia usada por de Meis, quando percebe que a convivência no laboratório está fazendo com que os pesquisadores comecem a pensar todos do mesmo jeito, é convidar cientistas de fora. "É sempre bom expor a equipe, e a mim também, a diferentes formas de pensar. É revigorante buscar novos caminhos", ensina. São iniciativas que levam o pesquisador a prosseguir sempre em busca de novas descobertas.
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