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Publicado em: 20/04/2016
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Comunicação como ferramenta para avançar nas políticas de inovação

Aline Salgado

Pesquisadores e assessores da FAPERJ participaram
do debate sobre C,T&I (Fotos: Lécio Augusto Ramos)

A segunda edição do Encontros FAPERJ deste ano promoveu, nesta quarta-feira (20/04), um rico debate sobre os desafios para a inovação no Brasil. A conferência foi apresentada por João Alziro Herz da Jornada, ex-presidente do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), professor convidado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Com longa experiência como pesquisador, professor e gestor, inclusive como presidente do Inmetro, nos últimos 11 anos, Jornada tem sua trajetória marcada pelas mudanças implementadas na estratégia, capacitação, infraestrutura e gestão do instituto, levando o Inmetro a amplo reconhecimento internacional.

A uma plateia composta por pesquisadores convidados e membros da FAPERJ, entre eles o presidente Augusto C. Raupp e a diretora de Tecnologia, Eliete Bouskela, Jornada apontou os obstáculos que têm freado o avanço do Brasil em inovação, apesar dos investimentos em ciência básica. Na visão do pesquisador, a solução para que o País se destaque nesse campo exige uma mudança de cultura nas organizações públicas e privadas e, acima de tudo, a conscientização de que o entendimento profundo e a comunicação ampla são ferramentas fundamentais para a criação de estratégias de sucesso em inovação.

A partir de dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 1997 a 2013, Jornada mostrou que o Brasil se posiciona atrás de países como México e Argentina no ranking de inovação, embora seja um dos que mais forma mestres e doutores. Para ele, os números ratificam que o modelo de investimento em inovação precisa ser revisto. O entendimento dos baixos resultados em inovação precisa ser bem estabelecido. E as causas dessa barreira são bastante intangíveis. Elas existem, mas não são fáceis de apontar. Estão ligadas a um conjunto de padrões de comportamentos, modelos mentais, visões de mundo, valores e práticas, que além de serem muito heterogêneos, muitas vezes são disfuncionais”, acrescentou Jornada.

O primeiro passo para refletir sobre políticas em inovação é pensar como processamos informações, e como este processo se dá coletivamente, no âmbito dos vários agentes envolvidos, salientou Jornada. “Isto é, como geramos significados e tomamos decisões e interagimos coletivamente, pesquisadores, empresas, governo, legisladores, entre outros agentes relevantes”. Outro ponto destacado pelo pesquisador é a necessidade de se incentivar que os vários atores políticos consigam ter uma base conceitual comum, para que possam operar com eficiência e efetividade em conjunto.

“Nos Estados Unidos, por exemplo, as discordâncias entre cientistas, empresas e gestores de políticas em ciência, tecnologia e inovação (C,T&I) são resolvidas mais rapidamente, dentro de uma cultura que facilita a explicitação de conflitos e sua resolução rápida, com profissionalismo e com menos componente emocional. A diferenças de ideias, conceitos e entendimento não são levadas para o lado pessoal, de modo que se pode formar uma base comum para se trabalhar coletivamente de maneira eficiente”, disse. “Diferente do Brasil, em que, geralmente, nos encontros científicos as discordâncias não aparecem nos debates. Todos saem abraçados e satisfeitos de uma reunião, mas este falso consenso não se traduz nas ações práticas", acrescentou. Para Jornada, os brasileiros precisam aprender a fazer reuniões, utilizando-se de práticas e métodos e atitudes mais adequadas.

Pesquisador da UFRGS, Jornada esteve à
frente da presidência do Inmetro por 11 anos 

Segundo Jornada, a mudança de cultura no País exige que alguns parâmetros intangíveis que estão  na mente dos gestores de políticas em ciência, tecnologia e inovação, em nível muitas vezes inconscientes,  sejam devidamente entendidos e trabalhados. Também é importante entender algumas características fundamentais do contexto onde se insere a problemática da inovação no mundo atual: A volatilidade, que consiste na noção de que vivemos em uma realidade altamente dinâmica e que as mudanças no macroambiente são cada vez mais rápidas. A consciência da existência da incerteza e da dificuldade de previsibilidade, em função do conhecimento limitado de modelos, seus parâmetros e suas limitações. A complexidade dos sistemas, isto é, a noção da multiplicidade de componentes altamente interconectados, que geram efeitos coletivos diferentes da soma das partes. E, por fim, a ambiguidade, que se traduz nas dificuldades de comunicação e interpretação no processo de interação. 

É a partir desses conceitos básicos, segundo Jornada, que os gestores deverão iniciar o processo de aprendizagem do trabalho em conjunto. Uma tarefa que, para o pesquisador, exige reflexão sobre a importância da comunicação organizacional e integrada como pilar para a construção das políticas de fomento à ciência, tecnologia e inovação nas instâncias públicas e privadas. “Nos deparamos com um mundo tácito que não enxergamos, isto é, não temos consciência clara. Por isso, o sistema de comunicação adotado precisa ser eficaz. Prevendo a existência do feedback e a noção de que a interação perpassa pela percepção das diferenças culturais, de visão de mundo e valores entre os múltiplos atores sociais”, salientou Jornada.

A consciência da importância do entendimento profundo e da comunicação como ferramentas para o processo de gestão e criação de políticas na área de inovação, para o pesquisador, deve guiar, principalmente, a elaboração do planejamento estratégico em inovação. “A missão, a visão e os valores de uma companhia, instituição ou estado devem estar internalizadas na mente e nas ações dos gestores. Isto é, devem ficar incorporadas à sua cultura e se transmitir nos discursos e ações”, resumiu

João Jornada ressaltou ainda que as atitudes, as perspectivas e a consciência sobre inovação, ciência e tecnologia devem ser partilhadas pelas instituições de pesquisa, companhias públicas e privadas, e todas as instâncias de governo, do legislativo ao executivo, dentro de uma base comum e coerente de entendimento e significado. Nas palavras do pesquisador: “Por todos os stakeholders envolvidos no esforço de inovação”.

“O tiroteio aqui é muito grande. Cada um pensa uma coisa”, sintetizou ele. “No Brasil, a perspectiva sobre o investimento muitas vezes não contempla claramente a noção de que o dinheiro colocado em ciência é um insumo fundamental. É preciso mudar o modelo. É preciso que haja a consciência de que o investimento é importante porque vai gerar renda, impostos, crescimento econômico. Nesse sentido, criar uma base de entendimento claro e significado para os atores sociais é essencial”, afirmou.  

Para Jornada, o momento atual, de “vacas magras” é uma excelente oportunidade para refletir profundamente, construir coalizões e ideias. “No Inmetro, passei por cinco ministros diferentes e conseguimos aumentar o orçamento em cinco vezes. Um dos instrumentos de ação foi criar formas para que os gestores nas diferentes instâncias do governo, legislativo e empresas entendessem a importância do instituto, a essência do que fazíamos e nossa contribuição real e objetiva para os grandes desafios do País. Obviamente o processo é de mão dupla, com a instituição ficando muito mais atenta e entendendo muito mais claramente como estes desafios devem se rebater nas suas atividades", explicou. "Atuei pessoalmente, de forma obstinada em promover este diálogo. Nesse sentido, investir em elementos narrativos é básico para permitir o entendimento, troca de ideias e a conscientização dos todos os envolvidos. Em outras palavras, usar inclusive gráficos e diagramas que saibam comunicar de forma objetiva, clara e direta”, exemplificou o pesquisador.

No debate, Jornada ressaltou que uma comunicação
eficiente gera o engajamento dos stakeholders

Na visão de Jornada, o Brasil tem um problema grave de competência,seja de consciência e entendimento, seja de habilidades, especialmente no gerenciamento de políticas para inovação. Uma fragilidade que precisa ser superada com muito trabalho, reflexão e absorção de práticas e métodos avançados. “Não adianta vender o peixe de que é importante investir em tecnologia”, disse. “É preciso gerar o engajamento dos stakeholders. Promover a cultura da inovação por meio do apoio à coalizão, do cultivo de parcerias, do engajamento de atores políticos e sociais. Ações que precisam estar combinadas com a realização de pesquisas sobre a real percepção, valores, modelos mentais e visão de mundo dos diferentes stakeholders sobre o papel da C,T&I", concluiu Jornada.

Estiveram presentes à segunda edição deste ano do Encontros Faperj o diretor de Tecnologia e Inovação do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), Fernando Alves Rochinha;  o diretor do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), Fernando Antonio Freita Lins; presidente do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), Fernando Cosme Rizzo Assunção;  o diretor da Cognética, Joel Weisz; o vice-diretor para Assuntos Acadêmicos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), José Ricardo Bergmann; o coordenador do Parque Tecnológico da UFRJ, Leonardo Melo; o decano do Centro Técnico Científico (CTC) da PUC-Rio, Silva Melo; a pesquisadora do Instituto de Economia da UFRJ, Renata La Rovere;  e o vice-diretor de Ensino e Pesquisa do Instituto Militar de Engenharia (IME), Luiz Paulo Brandão.

Encontros Faperj é promovido pelo Núcleo de Estudos em Políticas Públicas para Inovação (Neppi), sob a coordenação de Thiago Renault, diretor da Agência de Inovação (Agir), da Universidade Federal Fluminense (UFF), e conta com a participação de José Manoel Carvalho de Mello, professor do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da UFF e assessor da Agir, e de Sérgio Yates, empreendedor e pesquisador. Previsto para o dia 18 de maio, o próximo encontro receberá Flávio Peixoto, analista de Pesquisa de Inovação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele vai falar sobre os avanços na Nanotecnologia.

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