O seu browser não suporta Javascript!
Você está em: Página Inicial > Comunicação > Arquivo de Notícias > Dinossauro encontrado no Ceará é batizado em homenagem ao Museu Nacional
Publicado em: 16/07/2020
ATENÇÃO: Você está acessando o site antigo da FAPERJ, as informações contidas aqui podem estar desatualizadas. Acesse o novo site em www.faperj.br

Dinossauro encontrado no Ceará é batizado em homenagem ao Museu Nacional

Débora Motta

O Aratassaurus museunacionalis, na livre reconstituição do
paleoartista Maurilio Oliveira (Divulgação/Museu Nacional)

Uma nova espécie de dinossauro encontrada na Bacia do Araripe, no Sul do Ceará, pode ser a chave para uma melhor compreensão da história evolutiva dos terópodes (Theropoda), um grupo de dinossauros que reúne centenas de formas extintas, predominantemente carnívoras e bípedes. A descoberta foi anunciada à imprensa durante entrevista coletiva virtual realizada na sexta-feira, 17 de julho, por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ) e da Universidade Regional do Cariri (Urca), e resultou na recente publicação de um artigo na revista Scientific Reports, publicação do grupo Nature

O dinossauro, que em vida foi um animal de médio porte, com comprimento de 3,12 metros e 34,25 kg, foi batizado pelos pesquisadores de Aratasaurus museunacionali, em alusão ao incêndio do Museu Nacional. “O nome científico é uma combinação de ‘ara’ e ‘atá’, que na língua tupi significam ‘nascido’ e ‘fogo’; com ‘saurus’, o sufixo grego para designar os lagartos, muito usado para denominar espécies de répteis recentes e fósseis”, explicou o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, um dos autores do artigo. “O fóssil pertence ao Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri e estava emprestado a paleontólogos do Museu Nacional para preparação e estudo. Felizmente, o exemplar não se encontrava no palácio quando ocorreu o incêndio de 2018, mas em um laboratório localizado na edificação ao lado, o que permitiu que ele escapasse do fogo”, disse o paleontólogo, que recebe apoio da FAPERJ para a realização de pesquisas por meio do programa Cientista do Nosso Estado

A pesquisadora da UFPE Juliana Sayão, primeira autora do artigo, explicou que entre os integrantes dos terópodes estavam os celurossauros (Coelurosauria), que por sua vez reúnem desde o temido Tyrannosaurus rex, representado pela ficção no filme Jurassic Park, até as aves modernas. “Dentro dos Theropoda, descobrimos que o Aratasaurus faz parte de um grupo denominado Coelurosauria, que inclui tanto o dinossauro brasileiro encontrado na mesma região chamado Santanaraptor, quanto os famosos Tyrannosaurus, velociraptores e até as aves atuais”, explicou a paleontóloga. Assim, a descoberta brasileira indica a existência de uma diversidade maior dos celurossauros basais, distribuídos geograficamente de uma forma bem mais ampla do que se supunha. “Até então, eles haviam sido encontrados apenas na China e na América do Norte”, completou ela, que foi bolsista da FAPERJ durante a realização do seu mestrado no Museu Nacional, sob a orientação de Kellner, quando já estudava o tema Análise Histológica em Ossos de Pterossauros (Archosauria, Reptilia) da Formação Santana (renomeada de Formação Romualdo).

Linha evolutiva dos dinossauros: destaque para o grupo dos celurossauros (Coelurosauria), da nova espécie cearense Aratasaurus 

Estima-se que a fera terrestre “nascida do fogo” viveu entre 110 e 115 milhões de anos atrás, mais precisamente na região onde hoje fica a Mina Pedra Branca, entre as cidades cearenses de Nova Olinda e Santana do Cariri. Ali afloram as rochas da Formação Romualdo, depositadas em um ambiente aquático tranquilo. Nessa região da Bacia do Araripe, as condições de conservação são reconhecidamente favoráveis à preservação de fósseis, pela presença de nódulos de calcário. Muitas outras criaturas pré-históricas foram encontradas no local, como pterossauros (répteis alados) e crocodilomorfos, mas poucas eram dinossauros. “Apesar de ser uma área muito conhecida e de importância internacional quando tratamos da ocorrência de fósseis, o achado do Aratasaurus nessa localidade nos dá a indicação que outros tipos de dinossauros carnívoros também habitavam essa região do Brasil no período Cretáceo”, destacou o aluno de doutorado do Programa de Pós-graduação de Zoologia do Museu Nacional, Arthur Brum, um dos autores do artigo.

O fóssil foi encontrado por um morador da região em 2008, que o repassou para o antigo diretor e fundador do Museu de Santana do Cariri, Plácido Cidade Nuvens (1943-2016). Em seguida, foi encaminhado para o Laboratório de Paleobiologia e Microestruturas, na UFPE, para ser estudado. O processo de preparação, que consiste na retirada da rocha que envolve o fóssil, foi lento e complexo devido à fragilidade do material. Entre 2008 e 2016, foram feitas algumas análises microscópicas de seus tecidos através de pequenas amostras dos ossos, incluindo uma microscopia eletrônica de varredura, para gerar informações que permitissem reconstruir como seria o animal em vida. Em 2016, o fóssil foi levado para o Museu Nacional, para que uma pequena parte fosse preparada em detalhes mais minuciosos. “Deixar um exemplar como este, pronto para estudo, requer cuidados especiais, tais como o uso de equipamentos e produtos adequados. Devido à fragilidade e grande importância do espécime, seu preparo requereu o uso constante de microscopia e de ferramentas de precisão”, explicou o preparador de fósseis do Museu Nacional, Helder de Paula Silva.

Modelo do Aratasaurus: animal tinha cerca de três metros
de comprimento e corpo recoberto com proto-penas
  

A parceria entre as instituições rendeu bons frutos e deve movimentar o turismo de aventura na região do Cariri. “O Aratasaurus é o dinossauro mais antigo encontrado na Bacia do Araripe. Essa descoberta é um marco para o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, pois será o primeiro fóssil de dinossauro depositado na instituição e esperamos, com isso, aumentar a visitação de áreas do Geoparque Araripe”, disse o professor da Universidade Regional do Cariri e atual curador do Museu da universidade, Alamo Saraiva. Além da parceria entre as instituições brasileiras, a pesquisa também contribuiu para estreitar o intercâmbio com paleontólogos chineses. “O Aratasaurus é uma linhagem irmã do Zuolong, um celurossauro do Jurássico da China, o que sugere que os celurossauros mais antigos estariam mais amplamente distribuídos pelo planeta e ao longo de um tempo maior”, disse o paleontólogo chinês Xin Cheng, que também assina o artigo.

Preservado em folhelhos, que são um tipo de rocha escura, muito fina, cujas lâminas se descamam facilmente, o fóssil foi encontrado bastante compactado. Apenas uma das patas do animal, a direita traseira, estava conservada. No entanto, a análise da microestrutura desses ossos da pata foi suficiente para revelar características anatômicas importantes para a classificação da nova espécie e para entender sua evolução. “Verificamos que se tratava de um dinossauro juvenil, podendo crescer ainda mais até chegar à fase adulta”, contou Juliana. A anatomia indica também que se trata de uma linhagem de dinossauro com origem mais antiga do que aquela que originou os tiranossaurídeos. Isso também é novidade, pois pouco se sabe a respeito da origem desse grupo de famosos dinossauros. Não se sabe muito sobre onde essas linhagens mais antigas estavam no planeta. “O Aratasaurus aponta que parte dessa rica história pode estar no Nordeste do Brasil e na América do Sul. Sendo assim, ainda há muitas lacunas para desvendar esse quebra-cabeças evolutivo, mas com essa descoberta colocamos mais uma peça para entendê-lo”, completou Juliana.

Assim como outros celurossauros, o seu corpo possivelmente era recoberto por pequenas estruturas filamentosas, parecidas com penas. “Muitos dinossauros tinham o corpo coberto por filamentos classificados por alguns pesquisadores como proto-penas, que dariam origem às penas das aves modernas. Mas a anatomia do animal indica de forma conclusiva que era uma fera terrestre, que deveria ser ágil e se alimentar de pequenos animais existentes na vegetação e nos lagos”, disse o diretor do Museu Nacional. Kellner afirmou ainda que o trabalho de pesquisa desse novo dinossauro sintetiza a resiliência da instituição Museu Nacional. “Nós não perdemos a capacidade de gerar conhecimento, o que fazemos através de parcerias, como a que já temos há décadas com a Universidade Regional do Cariri. Continuamos trabalhando e falando sobre ciência mesmo após o incêndio e aqui nos reunindo virtualmente, durante a pandemia, para a divulgação do conhecimento científico. O Museu Nacional vive!”, concluiu.

O artigo é assinado por Juliana M Sayão, Antônio Á. F. Saraiva, Arthur S. Brum, Renan A. M. Bantim, Rafael C. L. P. de Andrade, Xin Cheng, Flaviana J. de Lima, Helder de Paula Silva e Alexander W. A. Kellner. Leia a íntegra aqui 

Compartilhar: Compartilhar no FaceBook Tweetar Email
  FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Av. Erasmo Braga 118 - 6º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Cep: 20.020-000 - Tel: (21) 2333-2000 - Fax: (21) 2332-6611

Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes