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Publicado em: 24/02/2022
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Estudo premiado pelo INEA em 2021 pode atenuar desastres, como o de Petrópolis

A cobertura vegetal permite grande infiltração de água da chuva,
reduzindo acúmulo que gera a enchente
(Foto: Rosina Kaiser/Pixabay)

Paula Guatimosim

O País parou nas duas últimas semanas, estarrecido com a tragédia que se abateu sobre Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro. Chuvas torrenciais que resultaram em 260 milímetros de volume, maior que o esperado para um mês inteiro, caiu sobre a cidade imperial em seis horas de um único dia. Em alguns bairros do chamado primeiro Distrito de Petrópolis, amplas porções de terra com casas, localizados em encostas consideradas áreas de risco, vieram abaixo. Água, lama e vegetação arrastaram o que estava no caminho, com saldo de quase 200 mortos e mais de 100 desaparecidos até a última quarta-feira (22/02). As enchentes são um dos principais problemas ambientais no estado do Rio de Janeiro, situação que pode ser agravada devido aos efeitos decorrentes das mudanças climáticas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 8 milhões de pessoas vivem em áreas de risco no País (https://www.ibge.gov.br/apps/populacaoareasderisco/#/home). Salvador é a cidade com maior concentração de pessoas nessas condições, 1,2 milhão, que equivale a 45% de sua população. São Paulo, com 674,3 mil moradores e Rio de Janeiro, com 444,9 mil, ocupam a segunda e terceira colocações no ranking. 

Em 2021, três pesquisadoras de universidades do Rio de Janeiro foram premiadas no II Prêmio Inea de Meio Ambiente pelo estudo “Prevenção de Enchentes no Rio de Janeiro: As Soluções Baseadas na Natureza como Adaptação a Eventos Climáticos Extremos”, que será publicado na edição de março da Revista Ineana. O objetivo do estudo é minimizar o risco de enchentes e demais eventos climáticos adversos através da proteção e recuperação de áreas naturais. Em sua pesquisa, Mariana Vale, Stella Manes e Aliny Pires calcularam o risco para a cidade de Petrópolis, onde uma chuva de 100 milímetros por hora resulta em uma diminuição de 52% na capacidade de retenção de água pelo solo.

As pesquisadoras avaliaram o risco de enchentes no caso de nenhuma ação ser implementada e, surpreendentemente, os resultados mostram que o risco de enchentes não é proporcional a quantidade de aumento de chuva. Um evento extremo máximo com intensidade da chuva 10 vezes maior que a média atual pode levar a aumentos de até 70 vezes no risco de enchentes em um futuro de mudanças climáticas. Isto porque a capacidade de retenção da água no solo diminui a mais da metade, reduzindo seu papel de conter o volume de chuvas.

"O estudo é extremamente relevante porque os eventos extremos de chuva, no sudeste brasileiro, já estão mais frequentes e intensos, e, por causa das mudanças climáticas, o esperado é um aumento nas inundações na cidade do Rio de Janeiro”, alega Mariana Vale, que conta com apoio da FAPERJ para a realização de suas pesquisas por meio do programa Cientista do Nosso Estado (CNE) e integra o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC).

Cerimônia de entrega do II Prêmio INEA de Meio Ambiente, em 2021

Stella Manes, principal autora do estudo e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) explica que as áreas urbanas têm grande risco de enchentes devido a diversos fatores, incluindo a grande extensão de cimento que impede a infiltração da água no solo, além da ocupação irregular de áreas de alta vulnerabilidade. Ao contrário, a cobertura vegetal permite uma grande infiltração de água da chuva, reduzindo o acúmulo que gera a enchente. Além disso, é capaz de "segurar" a terra, principalmente em barrancos e encostas, reduzindo a propensão a deslizamentos. “Portanto, ações que promovem a recuperação de áreas degradadas e um aumento da cobertura vegetal são imprescindíveis para os grandes centros urbanos do País”, afirma Stella, que conta com bolsa de Doutorado Nota 10, concedida pela FAPERJ.

O estudo, também apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), através do Edital Universal, utiliza o software InVEST (Integrated Valuation of Ecosystem Services and Trade-Offs), uma ferramenta bastante adotada nas pesquisas internacionais, pois permite a realização de modelagens nas quais é possível ponderar diferentes soluções. As pesquisadoras utilizaram o mapa de áreas prioritárias para recuperação florestal já elaborado pelo Inea e selecionaram diferentes possibilidades a serem implementadas por diferentes métodos. Foram considerados os benefícios em quatro diferentes cenários: regeneração natural (proteção e manutenção de áreas para que elas se recuperem por si só) de áreas com prioridade alta; regeneração natural de áreas com prioridade alta e média, regeneração natural de áreas com prioridade alta e média conjugada com a restauração ativa (plantio de árvores e promoção do manejo) de prioridades altas; e regeneração natural de áreas com prioridade alta e média conjugada com restauração ativa de prioridades altas e médias.

A adoção destas possibilidades representa, respectivamente, que a cobertura florestal significaria 25%, 30%, 35% ou 40% da área do Estado do Rio de Janeiro. Os resultados indicam que todas as estratégias são capazes de reduzir consideravelmente os riscos de enchentes, e que quanto maior a área recuperada melhor. As pesquisadoras, entretanto, apontam que a solução intermediária, a partir da qual 30% da cobertura florestal do estado estariam recuperadas, proporcionaria maior custo-benefício.

Stella Manes (alto), Mariana Vale (à esq. abaixo) e Aliny 
Pires (foto maior) integram a Plataforma Intergovernamental 
sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos

Aliny Pires, professora no Departamento de Ecologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenadora da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, ressalta que o aumento no benefício estimado com a restauração pode não apresentar uma tendência de aumento linear, como o próprio trabalho mostra. Mas, conforme ressalta, é importante destacar que é sempre aditivo e que para cada benefício observado a resposta pode apresentar uma tendência específica. “Ou seja, mesmo que haja uma tendência de 'saturação' da capacidade de reduzir as enchentes, as florestas seguem provendo uma série de outros benefícios, como o sequestro de carbono, a diminuição na ocorrência de ilhas de calor e aspectos culturais de valor inestimável”, esclarece.

Também integrante da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, assim como Stella, Aliny faz parte da Rede Clima na sub-rede Biodiversidade, coordenada por Mariana. Ela conta com apoio da FAPERJ para continuar seus estudos por meio do programa de Auxílio à Pesquisa (APQ 1) em projetos que destacam o papel da natureza como solução para a segurança hídrica e adaptação climática. Estes outros benefícios podem viabilizar e facilitar a implementação de políticas que visem compensar ou retribuir proprietários de terra que decidem restaurar, o que poderia ocorrer através de estratégias de pagamento por serviços ambientais. "As soluções baseadas na natureza, além de trazerem diversos benefícios que vão garantir uma sociedade mais resiliente diante de eventos climáticos extremos, buscam estruturar estas estratégias levando em conta aspectos sociais e econômicos, garantindo, assim, seu potencial pleno de promover bem-estar para as pessoas”, finaliza a pesquisadora.

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