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Publicado em: 06/09/2006
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Adubação verde garante hortaliças de qualidade a menor custo

Vilma Homero

 

 

José Guilherme mostra o crescimento do feijão ganduCultivar frutas e hortaliças de qualidade, com maior produtividade e sem lançar mão de fertilizantes nitrogenados sintéticos. A proposta, que já se mostrou bastante viável nos campos experimentais da Embrapa, tem entusiasmado pequenos agricultores da região serrana fluminense, que estão participando da pesquisa do agrônomo José Guilherme Marinho Guerra. Em Adubação verde como fonte de carbono e nitrogênio para a produção orgânica de hortaliças e frutíferas, o pesquisador mostra que com o método é possível aumentar a produção em cerca de 30%.

 

Sob vários aspectos, a pesquisa, realizada com apoio do programa Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, oferece vantagens à agricultura praticada no estado do Rio de Janeiro. “O auxílio financeiro da fundação tem se mostrado fundamental no desenvolvimento do nosso trabalho. Com a adubação verde, conseguimos uma grande saída para o agricultor orgânico, que obtém bons produtos e uma significativa economia de custos. Há também ganhos ecológicos importantes, particularmente na proteção do solo, problema grave no estado, já que, muitas vezes, o uso abusivo de pesticidas compromete mananciais de água da região”, fala.

 

José Guilherme explica que não é de hoje que as leguminosas são usadas na adubação. A técnica, milenar, já era conhecida no Egito e na China, e como parte da cultura de vários povos agrícolas ao longo dos séculos. No método tradicional, porém, elas são usadas no pré-cultivo que antecede o plantio da lavoura desejada. Cortadas, suas folhas passam a cobrir o solo ou são a ele incorporadas como meio de fornecer nutrientes à plantação que será feita em seguida.

 

Na pesquisa de José Guilherme, no entanto, o método é um pouco diferente. “Nosso projeto dá foco a um sistema ainda pouco usado, o plantio em consórcio. Plantadas na mesma época, hortaliças e leguminosas crescem juntas até que, num determinado momento, a leguminosa é cortada para fornecer nutrientes ao cultivo comercial. Isso acontece porque as leguminosas são ricas em nitrogênio devido à associação que formam com as bactérias Rhizobium e Bradrhizobium, que vivem no solo e captam nitrogênio do ar”, explica o pesquisador. O nitrogênio é o nutriente mais exigido pelas culturas e, fora as leguminosas, raras são as plantas que desenvolvem tal associação simbiótica com aquelas bactérias. 

 

Além de prover de nutrientes às demais plantas, certas leguminosas abrigam insetos que são nutrientes de pragas das plantaçõesAs leguminosas empregadas na pesquisa foram as de alta produção de biomassa (galhos e folhas). Enquadram-se aí o feijão guandu, o caupi, espécies de crotalárias e mucunas, utilizados no cultivo de alface, berinjela, brócolis, couve, inhame, quiabo, bananeira, figo e fruta do conde. “A idéia é identificar as leguminosas mais adequadas às situações de clima e solo de cada região e a mais apropriada a cada cultivo. E descartamos as que, dado seu crescimento acelerado, se expandam demais e terminem abafando a hortaliça que deveriam ajudar a nutrir”, explica.

 

Essa adequação planta a planta tem sido observada criteriosamente pela equipe. As espécies de Crotalária juncea, por exemplo, mostram boa adaptação ao cultivo da mandioca e do quiabo, enquanto a Crotalária spectabilis se adequa melhor às hortaliças folhosas, como alface, rúcula e couve. Duas espécies de mucuna (a preta e a cinza) têm tido bom desempenho com lavouras de milho verde, e a mucuna anã se adapta mais à couve, repolho e brócolis, enquanto o feijão-de-porco se mostra mais apropriado com hortaliças de fruto, como quiabeiro, berinjela e jiló.

 

Leguminosa bianual ou semiperene largamente usada, o feijão guandu tem sido empregado em consórcio com quase todos os tipos de hortaliças. Em lavouras de faixas intercalares, ele permanece no campo de dois e meio a três anos; cortado, brota com facilidade, permitindo vários ciclos de adubação com a mesma planta.

 

Em outra técnica, leguminosas como a mucuna anã e a Crotalária spectabilis, que são menos agressivas e de crescimento mais lento, são deixadas sem corte porque além de prover nutrientes às demais plantas também servem de abrigo a insetos predadores de pragas e competem com as ervas daninhas que prejudicam as lavouras. Caso das joaninhas que buscam abrigo na Crotalária spectabilis e atacam os pulgões que costumam afetar couve e brócolis.

 

Mas não são apenas as folhas das leguminosas que beneficiam o cultivo de hortaliças. As raízes também promovem ampla melhoria em solos degradados, com camadas endurecidas depois de terem sido muito trabalhados com mecanização. “O sistema radicular dessas leguminosas rompe as camadas compactadas e contribui na recuperação da estrutura do solo. As raízes do guandu, por exemplo, podem atingir profundidades superiores a dois metros, o que permite captar água e nutrientes dessas camadas da terra”, fala o pesquisador.

 

Mas é preciso manter constante observação para detectar se as mesmas características que possibilitam a sobrevivência da leguminosa em situações desfavoráveis levam o adubo verde a competir por água e luz com a hortaliça plantada em consórcio. “Para evitar isso, não se pode deixar a leguminosa abafar as hortaliças e nem faltar água à plantação”, alerta.

 

Outra vantagem das raízes de algumas leguminosas é sua atuação em solos com presença de nematóides. Vermes microscópicos que fazem parte da microfauna da terra, eles costumam parasitar as raízes das plantas, provocando-lhes galhas e prejudicando a absorção de água e nutrientes. As plantas afetadas enfraquecem, baixam produção, perdem folhas e morrem. Seus maiores danos recaem, sobretudo, sobre lavouras sensíveis, como as do tomateiro e do quiabeiro, ou sob condições de seca. Mas certas espécies de crotolária e de mucuna conseguem controlar a população de nematóides, atraindo-os para suas próprias raízes.

 

“Nossos resultados de campo, assim como algumas experiências na região serrana, em comunidades de agricultores de Petrópolis, com o cultivo de folhosas, e São José do Rio Preto, com culturas diversificadas, têm mostrado todos esses benefícios. Houve um ganho em média de 30% de produtividade, com todas as culturas respondendo bem, beneficiando-se com o processo”, anima-se o pesquisador.

 

O grupo de pesquisadores também faz uso de herbáceas perenes, como o amendoim forrageiro, kudzu tropical, siratro, calopogônio, soja perene (não comestível), para a proteção do solo e adubação verde de pomares de bananeiras, figueiras, goiabeiras, maracujá, fruta de conde e acerola. Como coberturas vivas, essas leguminosas cobrem o solo por longos períodos, evitando a exposição a altas temperaturas, sol e chuvas, e protegendo a terra de oscilações bruscas de temperatura, fatores que levam ao processo de erosão.

 

Alguns cuidados, no entanto, são necessários: certas leguminosas trepadeiras precisam ser mantidas roçadas, para que suas folhas não abafem a fruteira. Outras, como levam mais tempo para cobrir o solo, não se adequam a hortaliças de crescimento rápido. “Um dos melhores resultados observados é a cobertura viva em bananeiras. O impacto sobre a produção ultrapassou os 30%”, diz.

 

Uma das dificuldades para adoção da adubação verde é a disponibilidade inicial de sementes, já que o preço de algumas leguminosas, como crotalárias e amendoim forrageiro, é alto. “Mas uma vez adquiridas, as sementes podem ser reproduzidas pelo próprio agricultor”, diz o pesquisador. Embora também possa ser empregada em cultivos extensivos, a adubação verde mostrou-se bastante apropriada às condições do estado do Rio, onde predominam pequenos produtores, organizados em unidades familiares.

 

“Queremos estimular o agricultor fluminense a adotar o método, já que, além de ganhos ecológicos, há significativa economia de custos”, diz o pesquisador. E ele ainda enumera as vantagens. “A adubação verde com leguminosas é uma boa solução para o agricultor orgânico porque fornece nitrogênio, auxilia no controle de ervas e aumenta a produção das lavouras, promovendo ainda a melhora da vida do solo. Desta forma, amplia-se a oferta de alimentos saudáveis para a população fluminense com conservação dos recursos naturais”, resume.

 

 

 

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