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Publicado em: 05/10/2006
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E. coli patogênica em rebanhos é risco mundial de saúde pública

Vilma Homero

 

Nos EUA, doença causada por carne contaminada ficou conhecida como É cada vez mais freqüente a presença de amostras da bactéria Escherichia coli patogênica nos rebanhos bovinos fluminenses. Também a água que os animais bebem e o solo dessas regiões apresenta alta incidência da bactéria. É um exemplo de patógeno emergente, que vem adquirindo resistência através de sucessivas mutações genéticas. Casos de doença humana provocada por este tipo de E. coli só começaram a ser descritos no Brasil no início dos anos 1980 e embora ainda sejam bastante raros,  este quadro pode mudar. O alerta é do pesquisador Aloysio de Mello Figueiredo Cerqueira, da Universidade Federal Fluminense, que estuda a virulência da bactéria, produtora da toxina Shiga (STEC) e da lesão Attaching and Effacing (AEEC), em alimentos e animais do estado do Rio de Janeiro.

Apoiada por recursos do programa Primeiros Projetos, a pesquisa chama a atenção para as condições que podem favorecer o surgimento de casos em humanos. "Nosso trabalho é detectar a presença da bactéria e pensar formas de prevenção. Como também é emergente em outros países, este é um risco mundial de saúde pública", fala o professor Aloysio, que trabalha no Departamento de Microbiologia e Parasitologia da Universidade Federal Fluminense. Entre as medidas preventivas, ele acredita que o reforço no controle de qualidade e higiene na produção de alimentos é essencial. "Até porque alimentos também podem ser via de transmissão de vários outros patógenos. Ele explica ainda que um caso da síndrome hemolítico-urêmica, provocada por esta bactéria, foi registrado em São Paulo, no começo da década de 1980, embora não se tenha chegado à origem da contaminação.

A Escherichia coli é uma habitante normal do trato-intestinal em animais de sangue quente. No homem, ela é responsável por metabolizar uma considerável quantidade de vitaminas e exerce o importante papel de reprimir a multiplicação de bactérias prejudiciais à saúde. Mas a E.coli compreende, na verdade, um grande grupo de microorganismos, que se subdividem em mais de 160 sorotipos diferentes. Alguns deles, chamados de E.coli enteropatogênicas (EEC), são capazes de provocar infecções intestinais, algumas de certa gravidade. Nos Estados Unidos, estes sorotipos, transmitidos pela ingestão de alimentos ou água contaminados, ocupam hoje o segundo lugar entre os principais agentes doenças de origem alimentar, respondendo por 7,4% dos surtos e por 28,6% das mortes provocadas por bactérias naquele país, entre 1993 a 1997.

"Nos Estados Unidos, doenças causadas por este tipo de bactéria são mais comuns, conhecidas como "mal do hambúrguer" depois que o primeiro surto, em 1982, teve como origem uma rede de fast food", conta o pesquisador. O gado bovino é o grande reservatório dessa bactéria. Embora ela não costume contaminar a carne, isso pode acontecer durante o manuseio na hora do abate, caso as regras de higiene não sejam seguidas à risca.

O esquema acima mostra o ciclo de transmissão da bactéria E. Coli

"No caso americano, a bactéria resistiu por dois motivos: o fato de moer permite que a bactéria, que geralmente permanece na superfície da carne e pode ser eliminada pela temperatura na hora do cozimento, passe para a parte interna e resista a um preparo ligeiro. O que foi agravado com o hábito de os americanos consumirem hambúrgueres mal passados", esclarece. A partir de então, as organizações de saúde dos Estados Unidos baixaram uma série de medidas de procedimento nestes locais para evitar a repetição de casos semelhantes.

No Brasil, no entanto, as condições climáticas e de pastejo parecem desfavoráveis à manifestação de um surto igual ao americano. Porque embora a bactéria também já tenha sido identificada em ovinos, caprinos e suínos, e com menor incidência em cães e gatos, ela não chega com intensidade aos seres humanos. Isso acontece, segundo o pesquisador, pela combinação de duas hipóteses: ou a população tem defesas; ou o tipo de bactéria não é tão agressivo, ou ambas as alternativas. "Mas devemos estar alerta porque pode surgir uma nova alteração na bactéria que aumente sua capacidade de interação a células humanas", diz.

Também pesam outros fatores: os hábitos alimentares do gado nacional, que é levado a pastagens, parecem dificultar a manutenção da bactéria entre animais; além de uma possível resistência a essas doenças desenvolvida também pelos animais. Fora isso, o clima quente e as condições de criação nos são favoráveis. "No frio, o confinamento do gado e a alimentação com ração facilitam a transmissão de doenças entre eles", diz.

Apesar da situação favorável, a preocupação do pesquisador se justifica. Até porque são as crianças as mais suscetíveis aos sorotipos patogênicos de E. coli. Também é em crianças que essas amostras patogênicas são mais comuns (EPEC). Dependendo de suas condições de saúde, a bactéria pode provocar sérios quadros de diarréia e até levar à morte infantil. No adulto, ela não provoca os mesmos estragos. "Uma possibilidade é que ao longo do tempo desenvolvamos resistência, que também parece se estender a outras bactérias da mesma espécie, como a enterohemorrágica (EHEC), que produz a toxina Shiga - toxina que, por sua vez, é a principal causadora de quadros agudos de diarréia.

O pesquisador também explica que os testes que detectariam a presença da bactéria não são muito acessíveis nem estão incluídos entre a rotina dos laboratórios. Some-se a isso que a bactéria patogênica tem aparência e comportamento semelhante ao da E. coli normal. "Isso dificulta identificar sua presença e chegar a um diagnóstico", diz. A identificação é feita através de testes por análise molecular, imunológicos ou biológicos (de cultivo celular) para detectar a possível ação agressiva da E. coli.

Como no homem, também nos bovinos adultos, mesmo bactérias com perfil virulento se mantêm presentes por períodos que se estendem de seis a sete meses, sem provocar maiores danos. O contrário do que acontece quando o bovino tem até um mês de vida. Nestes casos, o bezerro não só fica doente como pode morrer.

Apesar disso, o pesquisador não percebe um agravamento do cenário no Brasil. "Ao longo da pesquisa, ficou claro que o sorotipo STEC mais freqüente entre nós é o 0113:H21, o mesmo que na Austrália já foi relatado como causa de doença em humanos. A Austrália, por sinal, tem registros freqüentes de doenças por E. coli patogênica, quando comparada a outros países tropicais. O que preocupa é exatamente a similaridade de condições com o Brasil, sobretudo no que diz respeito ao clima e às formas de criação de rebanhos", diz.

Motivo que leva o pesquisador a Melbourne, Austrália, este mês de outubro. "Vou participar de um simpósio internacional sobre Shigo toxina (Vtec). Precisamos pesquisar, discutir formas de prevenção e estar preparados já que este é um risco mundial de saúde pública", resume.

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