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Publicado em: 08/03/2007
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Leite de cabras transgênicas pode resultar em novo fármaco

Edna Ferreira (IVFRJ On Line)

 Divulgação IVFRJ On Line

 

 Método de produção de animais biorreatores

 

Em outubro de 2006, o Brasil e o mundo tomaram conhecimento da criação da primeira cabra transgênica na América Latina. A pesquisa Caprinos transgênicos como biorreatores para produção de fármacos de interesse em saúde humana envolve o Laboratório de Animais Transgênicos (LAT) da Universidade Federal do Rio de Janeiro e se baseia na possibilidade de introduzir no genoma de caprinos uma construção de DNA capaz de promover a produção de qualquer proteína humana de valor terapêutico pela glândula mamária das fêmeas dessa espécie. O resultado seria um leite de cabra capaz de ajudar no tratamento de diversas doenças relacionadas à imunodeficiência, por exemplo.


A pesquisadora Luciene Paschoal Braga Dias, médica veterinária, que participa da pesquisa no LAT/UFRJ, falou ao IVFRJ On Line, publicação do Instituto Virtual de Fármacos do Estado do Rio de Janeiro, sobre o andamento do projeto. Com mestrado em Fisiopatologia da Reprodução pela Universidade Federal Fluminense, ela desenvolveu pesquisa na Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora, e trabalhou com fertilização in vitro em bovinos. É doutora em Ciências Biológicas, na área de Biofísica e subárea Biologia Molecular pela UFRJ. Desenvolveu sua tese de doutorado no LAT/UFRJ, onde produziu camundongos transgênicos biorreatores, que são aqueles que produzem alguma proteína de origem animal, vegetal ou bacteriana nas secreções, tais como: leite, urina, saliva. Neste caso, os animais produziram no leite uma proteína (G-CSF) de grande utilização na clínica médica.  Luciene Dias acaba de ser contemplada pela FAPERJ com uma bolsa de fixação de pesquisador nível 2.

No que consiste a pesquisa?
A idéia geral do projeto se baseia na possibilidade de introduzir no genoma de caprinos (Capra hircus) uma construção de DNA, capaz de promover a produção de qualquer proteína humana de valor terapêutico pela glândula mamária das fêmeas dessa espécie. A proteína "Fator de Estimulação de Colônias de Granulócitos humano" (hG-CSF) foi escolhida inicialmente devido à sua importância para a saúde humana, pois o hG-CSF aplica-se extensivamente na prevenção do desenvolvimento da neutropenia, ou seja a queda nos níveis de células brancas, neutrófilos, após quimioterapia ou radioterapia intensivas. É também usada na estimulação da hematopoiese (qualquer patologia que necessite melhorar a imunidade e aumentar a série branca do sangue - neutrófilos), após transplante de medula óssea ou ainda no tratamento de diversas doenças relacionadas à imunodeficiência. Recentemente, o hG-CSF vem sendo utilizado como um fator que mobiliza células-tronco para regeneração das áreas de infarto no miocárdio, mostrando um novo e amplo campo de aplicação desse fármaco.

Quanto tempo tem esse trabalho?

O projeto começou a ser desenvolvido há oito anos, quando pesquisadores russos da Academia de Citologia e Genética da Academia Russa de Ciências implementaram a tecnologia de produção de animais transgênicos na UFRJ. Contudo, os principais resultados foram alcançados nos últimos dois anos e em outubro de 2006 foi anunciada a primeira cabra transgênica da América Latina.

Quais são os resultados esperados?
Atualmente, o hG-CSF recombinante produzido por bactérias custa caro e não é facilmente acessível em relação à demanda, que tem crescido a cada ano. Dessa forma, um pequeno grupo de cabras transgênicas poderia produzir uma quantidade de leite suficiente para atender a necessidade do Brasil em hG-CSF, com custo menor e com estrutura molecular igual a da proteína original. Desde sua introdução como agente terapêutico, há cerca de 17 anos, o hG-CSF tem sido uma das proteínas recombinantes mais bem-sucedidas em uso clínico, com mais de 1,4 milhões de pacientes tratados (Hareng & Hartung, 2002).

Qual a principal vantagem desse processo para a população?

O tratamento com uso do hG-CSF tem um custo bastante elevado, entretanto, o custo desta proteína produzida por cabras transgênicas poderia ser várias vezes mais barato e acessível. Assim, no mercado internacional 1g da proteína recombinante custa de 100 a 1.000 dólares, enquanto a mesma quantidade de proteína produzida por cabras transgênicas custa de 10 a 25 dólares (Dale, 2002). Não obstante, alguns países desenvolvidos, que produzem e comercializam esse fármaco através de biorreatores, monopolizam o mercado internacional, como vem acontecendo com vários produtos farmacêuticos.

Quais são as equipes envolvidas?
Como é um projeto muito grande, vários pesquisadores de diferentes universidades estão envolvidos. Entre as universidades participantes estão a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Laboratório de Animais Transgênicos e Universidade Estadual do Ceará, Laboratório de Fisiologia e Controle da Reprodução. Ao todo podemos contar com 30 pesquisadores altamente qualificados, entre eles, alunos de iniciação científica, alunos de mestrado, alunos de doutorado, doutores, pós-doutores.

A pesquisa é financiada?
Inicialmente, o projeto foi financiado pelo CNPq/PADCT e posteriormente pela Renorbio (Rede do Nordeste de Biotecnologia), financiado pelo banco do Nordeste. Após a divulgação da primeira cabra transgênica da América Latina feita pelo nosso grupo em outubro de 2006, procuramos uma outra fonte de financiamento que nos possibilitaria testar e comercializar o fármaco produzido por esses caprinos. O BNDES é nosso atual investidor e continuamos o projeto, mas agora com um propósito comercial.

Quais são as próximas etapas da pesquisa?
Apesar dos resultados apresentados na mídia pelo nosso grupo, com a divulgação da primeira cabra transgênica da América Latina, as pesquisas ainda continuam e os próximos passos são: produzir mais cabras transgênicas que produzam hG-CSF, testar essa proteína visando a comercialização e produzir outras proteínas humanas com potencial terapêutico.

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