O seu browser não suporta Javascript!
Você está em: Página Inicial > Comunicação > Arquivo de Notícias > Grupo de pesquisa da Uerj monitora a erosão no litoral fluminense
Publicado em: 17/05/2007
ATENÇÃO: Você está acessando o site antigo da FAPERJ, as informações contidas aqui podem estar desatualizadas. Acesse o novo site em www.faperj.br

Grupo de pesquisa da Uerj monitora a erosão no litoral fluminense

Vilma Homero

 Erocosta/Uerj

 

 Pesquisadores adaptam equipamento,
 usando tubos de PVC em medições

Enquanto prosseguem as discussões acerca do aquecimento global, não é preciso ir muito longe para se observar seus efeitos devastadores. Na praia de Lopes Mendes, na Ilha Grande, litoral sul fluminense, o avanço do mar 3 metros terra adentro vem deixando as árvores da faixa litorânea com as raízes expostas e tornando a erosão das encostas cada vez mais visível. Nos últimos dez anos, o mar tem avançado progressivamente a uma média de 3cm por ano, como tem observado a equipe do professor Marcelo Sperle, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Danos possíveis de ser evitados a partir de um completo e preciso diagnóstico da região, como o que vem sendo desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Oceanografia Geológica da Uerj, oficializado pelo CNPq e contando com apoio da FAPERJ. Sob coordenação de Sperle, os pesquisadores conseguiram estabelecer uma metodologia que alia rapidez e precisão para definir um diagnóstico das condições de erosão em praias do litoral. Em vez do mínimo de cinco anos para se obter um resultado, como acontece nas análises tradicionais, a equipe da Uerj precisa de apenas seis meses.

"Hoje, a necessidade é de respostas rápidas, uma vez que qualquer intervenção ao longo da costa impacta o ambiente e isso exige uma avaliação o mais imediata possível", diz Sperle. Como sabem os pesquisadores, o panorama para daqui a cem anos não é nada alentador para regiões litorâneas, como o Rio de Janeiro. Pelo contrário: as previsões são de que o mar avançará entre 100m e 150m pela costa, invadindo as edificações litorâneas e provocando prejuízos incalculáveis à população e à economia dessas áreas.

O grupo do Departamento de Oceanografia da Uerj, que, desde 1997, com o projeto Erocosta, monitora a erosão costeira em sete praias da Ilha Grande (Preta, Abraão, Lopes Mendes, Dois Rios, Leste, Sul e Aracatiba) e mais seis do Rio de Janeiro (Grumari, Barra da Tijuca, Macumba, Copacabana, Ipanema e Leblon), tem sido procurado não só para fundamentar ações governamentais, mas para a tomada de decisões empresariais. "Um dos objetivos do nosso trabalho é assessorar essas iniciativas", diz o pesquisador.

O apoio da FAPERJ não contemplou apenas a pesquisa, mas também tem se estendido a bolsas de Iniciação Científica para os alunos que participam. "O trabalho tem sido importante para a formação de recursos humanos", avalia.

Tal como no método clássico, a equipe da Uerj também faz uso de uma série de medições da topografia da praia aos quais associa parâmetros oceanográficos, como altura, período e direção das ondas, direção e velocidade das correntes litorâneas, marés e parâmetros meteorológicos.

"Medimos diferentes situações de chegada de onda (no Brasil, geralmente, elas são de nordeste, leste ou sul), mas escolhemos também situações hidrodimâmicas estratégicas, como frentes frias, tempestades e ressacas, ou ainda diferentes fases da lua, pela influência que elas têm sobre as marés no transporte de sedimentos. Como essas medições são feitas de hora em hora, por vários módulos instalados nas praias, elas geram dados estatisticamente representativos e precisos das situações possíveis de ocorrer naquele ponto", explica o pesquisador.

Todas essas informações são submetidas a um programa de computador desenvolvido pela própria equipe, que permite separar esses componentes para uma análise espectral. Como se trata de séries temporais e há dados de medição aferidos, por exemplo, durante 72 horas em uma determinada praia, é possível saber que componentes mais influenciam aquela faixa de litoral numa dada situação. Essas informações são cruzadas e avaliadas com outras, guardadas no banco de dados que o grupo mantém. Isso resulta num diagnóstico bastante acurado do que ocorre em cada local.

"O que estamos propondo é a integração de todos estes dados, num período mais curto. Em outras palavras, analisamos indicadores biológicos, geológicos, oceanográficos, meteorológicos, num mesmo banco de dados e procedemos a uma análise espectral dos dados. Assim, conseguimos relações matematicamente descritas, o que nos permite fazer modelagens e previsões estatisticamente representativas", explica.

Em Ipanema-Leblon, há um déficit de 1,5 milhão de metros cúbicos de areia

 Erocosta/Uerj

 
Indicadores biológicos, como as poliquetas, 
ajudam na formação de um diagnóstico preciso
 
Se em Lopes Mendes, a situação já é considerada séria, em certos pontos da cidade do Rio, também se notam os efeitos da erosão gradativa, que, neste caso, se aliam à ação humana. "No Rio, como a ação antrópica é intensa, percebemos menos o que acontece. Mas em Copacabana, há uma grande ocorrência de erosão entre os postos 4 e 6, em função das ondas desviadas nos costões do Leme e do Forte de Copacabana. Com a energia das ondas concentrada nesses pontos, há também uma constante retirada de sedimentos", diz. Em Ipanema-Leblon, a situação também é resultado da ação do homem. "Há ali um déficit de cerca de 1,5 milhão de metros cúbicos de areia, resultado da dragagem para desobstrução do canal de Jardim de Alah. Como não há sedimentos suficientes para amortecê-las, as ondas chegam cada vez mais fortes e também acabam retirando sedimentos, acentuando a erosão. A previsão é de que, com a elevação do nível do mar, o calçadão seja atingido não apenas nas ressacas", diz.

Outros indicadores também contam para a análise. Um deles é biológico, como as poliquetas, um dos organismos que vivem nas praias. Em áreas de erosão rápida, embora apareçam em número reduzido, elas crescem em tamanho, uma vez que, devido à quantidade reduzida de sedimentos, somente os maiores são capazes de se fixar. Quando, ao contrário, há assoreamento, ou seja, a deposição de sedimentos numa determinada área é maior, as poliquetas se reproduzem em grande número, já que há maior quantidade de matéria orgânica disponível. Porém, cada uma delas fica menor.

A presença de minerais pesados também pode indicar se determinada área passa por processo de erosão ou de sedimentação. "Se estiverem presentes, é sinal de deposição de sedimentos. Tanto os biológicos quanto os geológicos são bons indicativos desses processos", fala o pesquisador.

Tudo isso tem sido feito a custos bem mais baixos do que os usuais. Porque além de desenvolverem o próprio software, o grupo também procedeu a uma série de adaptações em instrumentos. "Normalmente a topografia da praia era feita por balizas colocadas a intervalos regulares. Passamos a fazer essas mesmas medições com níveis de engenharia e posicionamento geodésico, que têm muito maior precisão: a faixa de erro é de um milímetro em um quilômetro. Isso foi uma inovação. E também fazemos uso de estações totais, que são equipamentos portáteis que nos permitem obter com precisão coordenadas espaciais", explica.

Outro equipamento, para medir a variação horária dos sedimentos, nasceu da inventividade: tubos de PVC graduados, com um anel de alumínio em seu interior para marcar a variação do nível de sedimentos, são dispostos em malha ao longo da praia, o que possibilita gerar um mapa da variação desses sedimentos.

Quando se procura dar solução a problemas de erosão, há diversas alternativas em engenharia costeira. "Quebra-mares submarinos, por exemplo, não agridem visualmente a paisagem, já que ficam submersos. Alguns são até vazados, de modo a minimizar os impactos na dinâmica natural do ambiente. Há ainda os fundos submarinos falsos, que promovem a elevação do solo daquela área para que as ondas não quebrem próximo à praia. Outros tipos de obras também podem diminuir esses impactos. O que não se faz no Brasil é o estudo básico, o que evitaria soluções equivocadas. E é exatamente o que propomos."

Sem o estudo adequado, algumas obras acabam tendo resultado pior do que o problema que tentavam resolver. "Acabaram com a Lagoa Feia, em Campos. Obras malfeitas nos quebra-mares em Barra do Furado prejudicaram as praias próximas e assorearam o canal da lagoa. No Nordeste, os espigões e os gabiões nas praias de Fortaleza foram péssima idéia", resume.

A equipe do Erocosta trabalha ainda em rede com outras entidades no país e parceria com 15 instituições em âmbito nacional. "Participamos do Primeiro Instituto do Milênio do CNPq, um edital específico para rede de pesquisadores nessa área, e procedemos a um amplo estudo, de norte a sul do país. Ficamos com a parte relativa ao Rio de Janeiro. Além disso, todas as informações das instituições que integram o PGGM (Programa de Geologia e Geofísica Marinha) foram reunidas num livro. Lançado recentemente pelo Ministério do Meio Ambiente, o trabalho ganhou título de Erosão e Progradação do Litoral Brasileiro e teve coordenação do professor Dieter Muehe", diz.

 

Compartilhar: Compartilhar no FaceBook Tweetar Email
  FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Av. Erasmo Braga 118 - 6º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Cep: 20.020-000 - Tel: (21) 2333-2000 - Fax: (21) 2332-6611

Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes