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Publicado em: 11/07/2007

Divulgação Científica é tema de debate na Reunião Anual da SBPC

Vinicius Zepeda

Vinicius Zepeda

A partir da esquerda: Alberto P. Guimarães, Otávio    Velho e Renato Lessa durante debate em Belém

Os 25 anos da revista Ciência Hoje, única publicação popular do país feita por cientistas sobre ciências, foi tema de mesa-redonda esta semana durante a 59� Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). O evento teve como debatedores o cientista político Renato Lessa, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do RJ / Ucam) e ex-presidente da FAPERJ, o antropólogo Otávio Velho, da ABA (Associação Brasileira de Antropologia), e o físico Alberto Passos Guimarães do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas).

Lessa iniciou a palestra lembrando a criação da revista. “Ela é até hoje o único esforço bem-sucedido em produzir uma revista sobre ciências feita por cientistas em todo o Brasil. Nela, pesquisadores das mais distintas origens convergiram no projeto da publicação”, explicou. “Até 2001, éramos um projeto ligado à SBPC. Em 2002, criamos o Instituto Ciência Hoje e nos tornamos independentes administrativa e juridicamente, embora ainda mantenhamos uma parceria com a SBPC”, acrescentou.

As principais atividades desenvolvidas pelos participantes do projeto Ciência Hoje também foram listadas por Lessa. “Além da própria revista, criamos outra, a Ciência Hoje para Crianças, hoje disponível em todas as escolas públicas e bibliotecas do país”, lembrou. “Um programa de parceria com diversas prefeituras espalhadas pelo Brasil permite que crianças que vivem em cidades do interior recebam assinatura mensal da publicação, subsidiada pelos governos locais, que as entregam em suas casas. Em algumas destas cidades mais ermas, a revista é a única leitura não só da criança, mas de toda a família”, acrescentou o pesquisador.

 

Já Otávio Velho aproveitou a Reunião Anual da SBPC para rememorar que um dos primeiros números da Ciência Hoje foi uma edição temática sobre a Amazônia. Ele também chamou a atenção para as dificuldades que ainda existem com relação à popularização da ciência no país. “Apesar da produção científica no Brasil estar crescendo e ganhando cada vez mais respeito internacional, ainda é fraca a divulgação científica no país. Precisamos diminuir este hiato”, enfatizou.

 

O antropólogo ainda exemplificou o interesse que a ciência desperta na juventude, citando os mais de 17 milhões de estudantes de todo o Brasil inscritos na Olimpíada Brasileira de Matemática de 2006. Ele ainda chamou a atenção para o surgimento do Jornal da Ciência, referência nacional na área e também um dos desdobramentos do projeto Ciência Hoje. Outro ponto destacado por Velho foi o fato de que, segundo ele, a maior parte da comunidade científica do país ainda não tem interesse ou mesmo não sabe como divulgar suas pesquisas.

 

Alberto Graça encerrou o debate e complementou a fala de Lessa. “Há 13 anos a Ciência Hoje para Crianças foi reconhecida pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) como um instrumento paradidático. Ou seja, de auxílio para conteúdo de salas de aula. Com isso, o MEC passou a comprar mensalmente 200 mil assinaturas da publicação e a distribuí-las em 60 mil escolas espalhadas por todo o Brasil”, relembrou. “O fato, além de garantir a sobrevivência de nossa publicação, cuja tiragem em bancas ainda é muito pequena, mostra a importância de um ensino de ciências com qualidade. A curiosidade da criança é natural. Todo mundo começa a vida como cientista, e as escolas podem acabar destruindo esta vocação. Os professores precisam ser educados para manter este espírito investigativo nas crianças”, explicou.

 

Ele ainda destacou o fascínio que a linguagem simples e direta de Ciência Hoje para Crianças lhe causa. “A maioria dos textos científicos fica restrito somente aos cientistas. Eu mesmo não entendo textos de especialistas em outras áreas. Então, eu leio na Ciência Hoje para Crianças primeiro, e depois me aprofundo melhor, já entendendo minimamente do assunto”, concluiu Alberto Graça.

Debatedores falaram com a platéia

 

Após as apresentações dos três pesquisadores, a platéia foi convidada a participar do debate. Uma das intervenções que mais atraiu a atenção dos presentes foi a relatada por José Nivaldo Mangueira, professor de Física na pequena cidade de Passa e Fica, na fronteira do Rio Grande do Norte com o estado da Paraíba, onde vivem cerca de 10 mil habitantes. “Os estudantes do segundo grau de lá, devido ao fraco ensino de ciência no interior do país, chegaram a confundir um telescópio usado para ver o eclipse lunar com uma metralhadora. Porém, depois que descobriram para que servia o equipamento, e após uma palestra que ministrei no local sobre Astronomia, uma paixão minha, veio gente até de municípios próximos para acompanhar o evento, que lotou a praça”, contou. A afirmação, uma demonstração da curiosidade que a ciência desperta, mostrou a necessidade de ampliar incentivos para difusão e popularização da ciência.

 

Assessor da presidência da FAPERJ, o pesquisador e professor Egberto Moura mencionou alguns dos projetos da instituição relacionados com o tema do debate, tais como o recém-lançado edital de Difusão e Popularização da Ciência, o Auxílio Editoração (APQ3) – que objetiva apoiar publicações para o público infanto-juvenil sobre ciência e pretende ampliar a atuação no apoio a livros-texto –, e o Apoio à Infra-estrutura de Acervos (APQ4), voltado para a manutenção emergencial de museus e coleções.

 

Todos os apresentadores ressaltaram a necessidade de se procurar mecanismos nas agências de fomento para valorização dos pesquisadores envolvidos em projetos e publicações de difusão e popularização da ciência e reconheceram estar havendo uma mudança de cultura neste campo.