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Publicado em: 26/07/2007
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Como os futuros enfermeiros vêem os usuários de drogas e álcool?

Vinicius Zepeda

                                   Vinicius Zepeda

         

  Bruna (à esq.) e Bárbara analisaram a
  opinião de 181 alunos de Enfermagem

Onze da noite num hospital do Rio. Um homem embriagado e uma mulher drogada já conhecidos dos enfermeiros esperam atendimento desde as seis horas da tarde. Durante cinco horas, pacientes que chegaram depois passam na frente do casal. "Deixem o bêbado e a viciada para lá! Vamos atender primeiro os outros. Depois a gente manda esses doidos para a psiquiatria, que é o lugar deles", diz o chefe da enfermagem. Apesar do consumo de drogas e álcool ser reconhecido como problema de saúde pública mundial, a cena relatada é comum no cotidiano de hospitais e ilustra bem a forma preconceituosa como esses pacientes são tratados por profissionais de saúde. A conclusão é parte de um trabalho de Iniciação Científica (IC) desenvolvido na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) por duas estudantes de enfermagem. A pesquisa é apoiada pela FAPERJ.


Bruna Kelly de Jesus Lemos, 22 anos, e Bárbara Rodrigues Carvalho Cordeiro, 20 anos, acabaram de concluir o 5 período de Enfermagem na UERJ. Há um ano e meio, elas pesquisam conhecimentos, crenças e atitudes de estudantes de sua área sobre o fenômeno das drogas. Ao todo elas analisaram a opinião de 181 alunos do último período de 16 faculdades particulares, em 21 campus diferentes de todo o Estado do Rio de Janeiro. Entre as instituições avaliadas, dez estão localizadas na cidade do Rio de Janeiro, duas na Baixada Fluminense, uma na Região Norte Fluminense, três na Sul, uma na Oeste, duas na Serrana e duas na Região dos Lagos. O estudo está sendo orientado pela professora doutora Gertrudes Teixeira Lopes e até o final de agosto a apuração dos dados deverá estar encerrada. Até o fim deste ano, toda a pesquisa estará concluída com a publicação de artigos e a formação de um banco de dados com a opinião de futuros enfermeiros sobre o tema.

Os questionários distribuídos mostram o que pensam os futuros profissionais de enfermagem sobre a relação das drogas segundo três perspectivas: a visão internacional, a visão nacional e a visão local. Segundo a pesquisa, 90, 5% (164 pessoas) dos estudantes consideram adequada a formação dada em seus cursos sobre uso e abuso de drogas. Porém, quando perguntados sobre que perguntas fazer aos usuários destas substâncias, 46,4% (84) afirmam não ser fácil agir eles e 23,8% (46) concordam que não sabem fazer as perguntas adequadas a eles. "Isso mostra uma visão contraditória por parte dos alunos. Ao mesmo tempo em que julgam adequada a formação recebida sobre o tema, se sentem inseguros para abordar a questão", afirma Bruna. "Um dos motivos para isso pode ser a mudança na reforma curricular que reduziu sensivelmente a carga horária das disciplinas de saúde mental, que em algumas instituições de ensino do país chegou mesmo a ser excluída", explica.

Insegurança leva enfermeiros a repassar serviço para setor de psiquiatria

Bárbara acrescenta ainda que o fato de os futuros profissionais de enfermagem encaminharem freqüentemente os usuários de drogas para a psiquiatria pode ser visto como a principal demonstração da sua insegurança. "Se tivessem bom conhecimento sobre o assunto, não encaminhariam com tanta freqüência", afirma. "O alcoolismo e o uso drogas são problemas de saúde pública, e o enfermeiro tem que estar preparado para lidar com estas questões. Afinal, ele é o profissional de saúde que fica mais tempo com os pacientes num hospital", explica. "É necessário que tenhamos mais disciplinas que abordem estas questões e que não sejam limitadas apenas à disciplina de saúde mental. Um maior conhecimento pode levar à mudança de comportamentos que prejudicam o tratamento destes pacientes", acrescenta.

Com a vivência e o aprendizado adquirido na pesquisa, elas procuram orientar e conscientizar seus colegas para lidar melhor com o problema. Entretanto, ainda se chocam com certas práticas e lembram que usuários de drogas e alcoólatras são pacientes que merecem atenção como qualquer outro. "Esses casos requerem maior trabalho. Não são diagnósticos fechados como uma doença ou dor específica", dizem.

As futuras enfermeiras fazem estágio em hospitais desde o terceiro período. Entretanto, ainda não tiveram a oportunidade de lidar na prática com um paciente drogado ou alcoolizado, o que segundo elas seria extremamente rico não só para a pesquisa, como para a formação de ambas. As duas aguardam ansiosamente por este dia. Ambas desejam se formar e fazer mestrado para dar aulas em faculdades. Entretanto, não pretendem abandonar o trabalho em hospitais e têm intenção de conciliar a docência com a prática hospitalar. Bárbara sonha trabalhar no Inca (Instituto nacional do Câncer). Já Bruna pretende fazer residência num CTI (Centro de Tratamento Intensivo) de um hospital. Elas esperam que essa pesquisa sirva para reorientar o currículo das faculdades de Enfermagem no que diz respeito ao tratamento dispensado a dependentes de álcool e drogas. "O principal problema do despreparo dos futuros enfermeiros para lidar com a questão está na grade curricular destas instituições, que não preparam adequadamente os alunos", concluem.

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