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Publicado em: 16/08/2007
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Luminol ganha aplicações na área criminal e na medicina

Vilma Homero

 howstuffworks

 
No que parecia um carpete limpo, o luminol
faz aparecer as manchas de sangue ocultas
A rotina de homicídios sem solução no país pode estar com os dias contados. Mesmo que o criminoso lave meticulosamente o ambiente com água sanitária, ou que se tenham passado até seis anos, é possível identificar os mínimos vestígios de sangue em praticamente qualquer tipo de superfície, mesmo as lisas, como azulejos, pisos cerâmicos ou madeira. Com a ajuda do luminol, os pesquisadores conseguem detectar até traços de DNA que permitirão o reconhecimento da vítima e do culpado. Exatamente como acontece nos seriados policiais americanos. Com a enorme diferença que a cena é real e se passa no Brasil. O patrocínio dessa inovação coube à FAPERJ, através do programa Rio Inovação II, e em parte ao CNPq/MCT (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e à Capes/MEC (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Ao contrário do produto formulado e importado, que custa 175 euros por cada 50g, a substância sintetizada, formulada e aperfeiçoada pela equipe do professor Cláudio Lopes, do Laboratório de Síntese e Análise de Produtos Estratégicos (Lasape), do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com a empresa Condor Indústrias Químicas S.A., especializada na fabricação de armas não-letais, apresenta um preço bastante competitivo. Até porque o custo do importado corresponde a um valor bem maior quando acrescido das despesas de desembaraço alfandegário, impostos de importação, frete etc.

Mas além dos bons resultados em cenas de homicídio, comprovado pela utilização das polícias técnicas de vários estados, Polícia Federal e Exército, o luminol – que recentemente teve sua primeira versão aprimorada – passa a ter outras aplicações. Amostras cedidas pelo Laboratório de Análises Clínicas da Faculdade de Farmácia da UFRJ comprovam sua eficiência em detectar a presença de sangue oculto nas fezes, exame preventivo para diagnóstico do câncer gastro-intestinal. "Os ensaios feitos com o protocolo de teste foram plenamente satisfatórios. O luminol mostrou ter maior sensibilidade em indicar a presença de sangue oculto no filme do exame e, além disso, não é tóxico para os analistas do laboratório. A benzidina e o guaiacol, atualmente empregados nos exames de rotina, são cancerígenos", explica.

Com a maior sensibilidade do luminol, comparada aos reagentes atualmente utilizados, outro projeto de pesquisa está sendo iniciado no Lasape: para detectar traços de sangue em equipamentos de endoscopia e roupas hospitalares depois de passarem pelos processos clássicos de esterilização. "Com isso, ele pode ser avaliado e usado na rotina de controle dos centros de hemodiálise, CTIs, centros cirúrgicos e outros pontos do Hospital Universitário do Fundão, no segundo semestre", fala o químico Cláudio Lopes. Assim, é possível monitorar a eficácia do processo, procurando reduzir os níveis de infecção hospitalar.

"Para a polícia técnica, contar com o luminol é fundamental", fala Pedro Schneider, assessor de inovação tecnológica da Condor. Ele explica que, por fazer uso de uma rota diferente de produção, o luminol nacional dispensa equipamentos de alta pressão na sua preparação e ainda qualquer matéria-prima importada. Ao contrário, emprega o pentacloreto de nióbio, um produto abundante e de baixo custo comercial no Brasil, que pode ser manipulado em reatores bem mais simples. E o resultado é uma substância com sensibilidade bem superior a seus similares, na relação de 1:100000.

"Diferente da americana, que usa rotineiramente o luminol, a nossa polícia técnica ainda é pouco aparelhada. O que em parte explica porque a taxa de solução de casos de homicídios no Brasil é tão baixa", fala Schneider. Mesmo assim, o uso do produto nacional foi fundamental na elucidação de diversos casos importantes. Foi o que permitiu constatar a presença de sangue na cela em que esteve o chinês Chang e elucidar a autoria do crime; também ajudou a determinar qual a arma que matou o casal Staheli, na Barra da Tijuca; e a identificar os culpados da chacina que deixou 29 mortos na Baixada fluminense.

Schneider cita ainda outra vantagem do produto brasileiro: enquanto o importado precisa de iluminação fluorescente para que a reação química do luminol possa ser visualizada, o nacional dispensa qualquer iluminação especial, precisando apenas de um ambiente escuro. "Tudo o que eles fazem lá fora, podemos fazer aqui. É só uma questão de investir para desenvolver tecnologia", argumenta.

Para o professor Cláudio, investimentos são fundamentais. Até para aperfeiçoar ainda mais o produto. "Estamos finalizando a síntese de dois novos derivados oxigenados do luminol, 30 vezes mais sensíveis ao sangue oculto do que o atual", conta. Dessa forma, o pesquisador e sua equipe se antecipam a bloquear a ação do único competidor do luminol, que possa ser usado por homicidas profissionais: detergentes enzimáticos hemocidas são a única forma de lavar manchas de sangue e deixá-las quase imperceptíveis ao luminol original. "É que esses detergentes conseguem destruir a hemoglobina do sangue e assim enfraquecer a visualização na reação de quimioluminescência. Mas estamos nos antecipando em eliminar essa possibilidade e fornecer aos peritos criminais e à justiça brasileira um produto confiável para facilitar a solução desses casos e identificar vítimas e culpados", diz.

Entusiasmado com os resultados que vem obtendo, Cláudio Lopes quer ir além. Com base na experiência tecnológica e comercial da Condor, ele espera que o Brasil possa ampliar de forma significativa a produção de luminol e chegar aos 100kg anuais. Assim poderá não só atender a demanda de todo o país como também exportar. "Para isso são necessários investimentos da ordem de R$ 1 milhão, que seriam pagos tranqüilamente em um ano", conclui.

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