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Publicado em: 11/10/2007
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As propriedades físicas e emocionais de uma vencedora

Roni Filgueiras

 

 Vinicius Zepeda

 

 Sandra da Silva Pedro: apoiada desde a
adolescência, hoje faz tese de doutorado

Sandra da Silva Pedro, 23 anos, nascida sob o signo de Peixes, é a filha mais velha de imigrantes de Cruz do Espírito Santo, cidade com cerca de 15 mil habitantes, na Zona da Mata paraibana. O pai é borracheiro aposentado e a mãe, dona de casa. Com 1,65m, cabelos frisados pintados de cobre, ela coleciona sandálias e brincos. Sua rotina não difere muito das jovens de sua idade, não fosse o fato de esta discreta moradora da comunidade de Nova Brasília, no Complexo do Alemão, ter obtido, em agosto último, sua bolsa de doutorado em física pela FAPERJ.

 

Em setembro, ela defendeu a dissertação de mestrado "Propriedades ópticas do Fe3+ tetraédrico em matriz cerâmica", na Uerj, sob a orientação de Lilian Pantoja Sosman. No doutorado, ela vai analisar as propriedades óticas de outros materiais cerâmicos que contêm Fe3+. "Eles são importantes, pois podem ter aplicações no dia-a-dia. Como por exemplo, em áreas como a medicina, na construção de laser, em detectores de radiação, em displays de cristal líquido e em sensores óticos", enumera a pesquisadora.

 

O projeto de doutorado, "Espectroscopia óptica de materiais cerâmicos dopados com metais de transição", dará continuidade ao trabalho desenvolvido com a professora Lilian, na graduação. "Meus pais não entenderam meu interesse pela física, mas achavam que era uma coisa importante. Quando terminar o doutorado, gostaria de trabalhar com pesquisa, mas gosto de dar aula. Se pudesse aliar as duas coisas, seria ótimo", afirma a pesquisadora, que elege o azul e o preto como suas cores preferidas de um guarda-roupa discreto.

 

Apesar de o endereço de sua casa ser considerado uma das áreas mais conflagradas da cidade, a tímida Sandra atribui à sorte nunca ter visto um episódio violento: "Sempre que algo acontecia, eu tinha passado um pouco antes ou pouco depois do tiroteio". A sorte, pelo visto, costuma sorrir para Sandra. Uma delas, quando foi selecionada, em 1999, quando tinha 15 anos, entre vários colegas do CIEP Nação Mangueirense, para integrar a primeira turma de bolsistas do projeto Jovens Talentos para a Ciência da FAPERJ, depois de assistir às palestras de professores da Uerj sobre física. "Eram professores do programa que estavam se dispondo a fazer a pré-iniciação científica desses alunos". Ela diz que sempre gostou de física, assim como de outras matérias. "Mas não tinha idéia do que ia fazer no vestibular. O que me cativou para a área foi o contato com o laboratório", revela a pesquisadora.

 

Sobre a reação de seus colegas e professores sobre ser moradora de uma favela, ela diz não ter sido alvo de privilégios ou preconceitos. "Não tive tratamento diferenciado". Mas não se pode dizer que somente a sorte tenha possibilitado a entrada de Sandra na Uerj. Houve empenho, dedicação e muito talento. É o que confirma a professora Lilian Pantoja Sosman, do Instituto de Física da Uerj, que não se cansa de elogiar a pupila. Lilian orientou Sandra em sua dissertação de mestrado e agora na de doutorado. "O que torna esta aluna especial, além do fato de ter nascido, ter sido criada e ainda morar no Complexo do Alemão, é seu excelente desempenho acadêmico. Desde sempre, ela percebeu que o estudo seria sua redenção diante das dificuldades da vida", revela Lílian Pantoja. "Como sua orientadora durante todo esse percurso, me sinto emocionada e agradecida pela oportunidade de contribuir e acompanhar o crescimento de um jovem talento, que espero, faça parte da geração que trará o que de bom nosso país merece e almeja", incentiva Lilian.


"As pessoas pensam que ninguém vindo de uma comunidade carente possa terminar uma faculdade, ter uma carreira, mas existem muitas pessoas iguais a mim", pondera uma sensata estudante. Apesar de sua origem humilde, a pesquisadora não acha excepcional o fato de ter freqüentado uma universidade pública. Mas admite não conhecer entre seus vizinhos outros exemplos como o seu, apenas alguns que cursam faculdades privadas. Para isso, ela ensaia uma explicação. "As pessoas não têm tempo para estudar, não conseguem fazer um bom pré-vestibular, pois têm que ganhar a vida, e acabam fazendo uma faculdade particular".

 

Nos momentos de folga, Sandra vai ao cinema, lê livros de divulgação científica ou suspense e ouve rock. Não se considera vaidosa. "Gosto de me arrumar só de vez em quando, mas minha mãe insiste em fazer a minha unha", diz. Ela se diz vascaína e não pratica esportes. "Vivo prometendo a mim mesma que vou entrar numa academia", confessa ela que ainda não se definiu em relação à existência de Deus. Sandra ainda mora com os pais e a irmã caçula, estudante de fisioterapia, numa casa de dois quartos. Mas pensa em ter outro endereço. "Não saí ainda, mas penso em sair no futuro".

 

Sandra gosta da vida acadêmica, apesar de lamentar a precariedade dos laboratórios da Uerj. "É uma pena que minha dissertação não tenha sido desenvolvida na Uerj. Minha professora tentou captar recursos para instalar um laboratório lá, mas não conseguiu. O que tivemos foi a colaboração de outras instituições, como o Laboratório de “ptica dos Sólidos do Instituto de Física da UFRJ. Fiz medidas no Laboratório de Fotoacústica, do Instituto de Física, da Universidade Federal da Bahia. Outra parte foi realizada no CBPF". Mesmo com as dificuldades, Sandra coloca os físicos brasileiros no mesmo patamar de excelência de seus pares no exterior. "Temos bons físicos, muita gente trabalhando, não ficamos nada a dever aos países desenvolvidos. O que falta é incentivo, para um melhor desenvolvimento da pesquisa no país".

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