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Publicado em: 18/10/2007
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Entra em campo o gigante dos dinossauros

Roni Filgueiras

Arte Maurílio Oliveira   

     
     F. dukei, o chefe gigante dos sáurios
"No campo do futebol nós somos insuperáveis, mas no campo da paleontologia, os argentinos são os melhores." Com esta parábola futebolística, o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional/UFRJ, comparou o atual estágio da paleontologia nacional com os vizinhos da Bacia do Prata. No entanto, durante a apresentação do terceiro maior dinossauro do planeta, na Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Centro do Rio, na segunda-feira, dia 15 de outubro, o clima foi de amistoso. Os holofotes dos meios de comunicação (jornais, TVs, revistas, agências nacionais e internacionais e sites de notícias) foram mesmo para as réplicas das vértebras do Futalognkosaurus dukei. Este colosso, que media entre 32 e 34 metros, foi encontrado às margens do Lago Barreales, na Patagônia, num projeto conjunto entre Brasil e Argentina, financiado pela FAPERJ e pela empresa argentina Duke Energy Argentina Company.

A vértebra cervical – mais precisamente a do final do pescoço – do espécime chamou a atenção dos jornalistas pelas dimensões: 1,10m de altura e cerca de 200 a 300 quilos. Outra vértebra – a que une a coluna vertebral ao quadril – também confirmava o tamanho da espécie, que pertence a um novo grupo de dinossauros titanossaurídeos (denominado Lognkosauria), animais que habitaram a região no período Cretáceo Superior, há 88 milhões de anos, e são achados exclusivamente na Patagônia. À tarde, os sites de notícias de Europa, Estados Unidos e Japão reproduziam a notícia da descoberta desse réptil pré-histórico, cujo fóssil é o mais completo já encontrado: cerca de 70% do esqueleto foi recuperado. E, segundo Kellner, as escavações, que continuam, devem revelar novos vestígios.

"Este intercâmbio é importante para nós brasileiros porque há troca de experiências e informações", afirmou Kellner. O ecossistema do lago Barreales é o primeiro, maior e mais completo jamais encontrado no mundo, segundo o pesquisador da UFRJ. "A importância dessa descoberta não se resume à grandeza do Futalognkosaurus dukei, mas às condições nas quais ele foi encontrado. Os mais de mil fósseis do sítio do lago Barreales estavam espalhados em uma área de apenas 400m2 e uma camada de somente meio metro. Não raro, cientistas precisam vasculhar áreas de dezenas de quilômetros para reunir fósseis de uma mesma descoberta, cujos vestígios pré-históricos podem estar distribuídos em camadas diferentes, que variam em dezenas de metros de profundidade. "Isso nos permite dizer que esses animais e plantas conviveram e formavam um ecossistema", atesta Kellner.

    Divulgação
         
   Pesquisadores coletam fósseis 
As boas condições dos fósseis, segundo o pesquisador brasileiro, se devem a diversos fatores. O gigante dos gigantes morreu por razões desconhecidas, às margens de um rio. Parte de seu esqueleto foi devorado por animais e uma enxurrada encarregou-se de arrastar a carcaça para o interior do rio. Por suas dimensões, esses restos ficaram parcialmente sedimentados e a porção exposta funcionou como uma barreira natural, retendo a força das águas e permitindo que resíduos de organismo se acumulassem sob a carcaça. A decomposição seguiu seu curso e folhas que existiam na beira do rio também foram depositadas e preservadas.

A descoberta do terceiro maior dino – os maiores são das espécies Argentinosaurus e Puertasaurus, ambos com entre 38 e 40 metros, descobertos na Argentina e com apenas 10% de sua ossada reconstituída – foi publicada em artigo recente na edição trimestral dos Anais da ABC. As escavações envolveram uma equipe de 22 pessoas (oito brasileiros, pesquisadores do Setor de Paleovertebrados do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional,  um italiano e 13 argentinos, do Centro Paleontológico Lago Barreales da Universidad Nacional del Comahue e do Laboratório de Paleovertebrados da Universidad Nacional de Cuyo), coordenada pelo paleontólogo Jorge Calvo (do Centro Paleontológico Lago Barreales, Universidad Nacional del Comahue, em Néuquen, Patagônia). "As escavações começaram no ano 2000, quando encontramos ossos pequenos de dinossauros", lembrou Calvo. "Logo descobrimos mais ossos. E depois que conseguimos mais verbas para a pesquisa com a Duke Argentina Company, que financiou a maior parte dos trabalhos, reunimos três vértebras cervicais, em 2000, e passamos para cinco, em 2001". A empresa batizou o Futalognkosaurus dukei, cujo nome deriva do dialeto mapuche e significa "o chefe gigante dos sáurios." Ao todo, foram colhidos 20 ossos, entre partes do pescoço, região dorsal e bacia e a primeira vértebra caudal.

Divulgação

   
 Ossos da bacia e vértebras sacrais do F. dukei,
   encontrados no sítio arqueológico argentino
No início dos trabalhos, em 2000, os paleontólogos foram instalados em barracas de acampamento. "Mas já em 2002, eles puderam construir uma infra-estrutura fixa e um pequeno museu, em 2004", revelou Calvo. "Hoje, há um centro de pesquisa, aberto à visitação pública, e os paleontólogos moram lá. O público também pode acompanhar a realidade desses profissionais no dia-a-dia, observando as escavações e as pesquisas", completou Calvo que contou algumas das dificuldades das escavações, como a enchente do lago, que dificultou o acesso ao sítio. "Começamos por retirar a terra por debaixo do fóssil e encontramos ossos da pélvis e da coluna. Foi necessário ensacar o material, colocar gesso e ferro para protegê-lo, pois trata-se de um material muito frágil." Calvo, Kellner e o paleontólogo argentino Juan Porfiri também mostraram, na ABC, as réplicas de garras de 40cm a 70cm de um megaraptor e dentes de crocodilomorfos. A apresentação foi acompanhada também pelo físico Carlos Aragão, membro da ABC, e pelo paleontólogo Sérgio Azevedo, diretor do Museu Nacional.

Os pesquisadores exibiram imagens do sítio e de alguns dos mais de mil fósseis encontrados no local: peixes – os primeiros da região; conchas – o que indica que ali havia muita água; ao menos duas espécies de crocodilomorfos; e diversos grupos de dinossauros (saurópodes, terópodes, ornitópodes). Só de terópodes foram reunidos 580 dentes. Também foram coletados vestígios de pterossauros (os répteis voadores), folhas de angiospermas fossilizados, que provavelmente devem ter composto a dieta alimentar do Futalognkosaurus dukei e de outros dinos herbívoros. As réplicas do réptil estão em exposição desde a terça-feira, dia 16 de outubro, no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista para visitação.

Veja a fotogaleria do Futalognkosaurus dukei 

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