Roni Filgueiras
Arte Maurílio Oliveira |
F. dukei, o chefe gigante dos sáurios |
A vértebra cervical – mais precisamente a do final do pescoço – do espécime chamou a atenção dos jornalistas pelas dimensões: 1,10m de altura e cerca de 200 a 300 quilos. Outra vértebra – a que une a coluna vertebral ao quadril – também confirmava o tamanho da espécie, que pertence a um novo grupo de dinossauros titanossaurídeos (denominado Lognkosauria), animais que habitaram a região no período Cretáceo Superior, há 88 milhões de anos, e são achados exclusivamente na Patagônia. À tarde, os sites de notícias de Europa, Estados Unidos e Japão reproduziam a notícia da descoberta desse réptil pré-histórico, cujo fóssil é o mais completo já encontrado: cerca de 70% do esqueleto foi recuperado. E, segundo Kellner, as escavações, que continuam, devem revelar novos vestígios.
"Este intercâmbio é importante para nós brasileiros porque há troca de experiências e informações", afirmou Kellner. O ecossistema do lago Barreales é o primeiro, maior e mais completo jamais encontrado no mundo, segundo o pesquisador da UFRJ. "A importância dessa descoberta não se resume à grandeza do Futalognkosaurus dukei, mas às condições nas quais ele foi encontrado. Os mais de mil fósseis do sítio do lago Barreales estavam espalhados em uma área de apenas 400m2 e uma camada de somente meio metro. Não raro, cientistas precisam vasculhar áreas de dezenas de quilômetros para reunir fósseis de uma mesma descoberta, cujos vestígios pré-históricos podem estar distribuídos em camadas diferentes, que variam em dezenas de metros de profundidade. "Isso nos permite dizer que esses animais e plantas conviveram e formavam um ecossistema", atesta Kellner.
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Pesquisadores coletam fósseis |
A descoberta do terceiro maior dino – os maiores são das espécies Argentinosaurus e Puertasaurus, ambos com entre 38 e 40 metros, descobertos na Argentina e com apenas 10% de sua ossada reconstituída – foi publicada em artigo recente na edição trimestral dos Anais da ABC. As escavações envolveram uma equipe de 22 pessoas (oito brasileiros, pesquisadores do Setor de Paleovertebrados do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional, um italiano e 13 argentinos, do Centro Paleontológico Lago Barreales da Universidad Nacional del Comahue e do Laboratório de Paleovertebrados da Universidad Nacional de Cuyo), coordenada pelo paleontólogo Jorge Calvo (do Centro Paleontológico Lago Barreales, Universidad Nacional del Comahue, em Néuquen, Patagônia). "As escavações começaram no ano 2000, quando encontramos ossos pequenos de dinossauros", lembrou Calvo. "Logo descobrimos mais ossos. E depois que conseguimos mais verbas para a pesquisa com a Duke Argentina Company, que financiou a maior parte dos trabalhos, reunimos três vértebras cervicais, em 2000, e passamos para cinco, em 2001". A empresa batizou o Futalognkosaurus dukei, cujo nome deriva do dialeto mapuche e significa "o chefe gigante dos sáurios." Ao todo, foram colhidos 20 ossos, entre partes do pescoço, região dorsal e bacia e a primeira vértebra caudal.
Divulgação |
Ossos da bacia e vértebras sacrais do F. dukei, encontrados no sítio arqueológico argentino |
Os pesquisadores exibiram imagens do sítio e de alguns dos mais de mil fósseis encontrados no local: peixes – os primeiros da região; conchas – o que indica que ali havia muita água; ao menos duas espécies de crocodilomorfos; e diversos grupos de dinossauros (saurópodes, terópodes, ornitópodes). Só de terópodes foram reunidos 580 dentes. Também foram coletados vestígios de pterossauros (os répteis voadores), folhas de angiospermas fossilizados, que provavelmente devem ter composto a dieta alimentar do Futalognkosaurus dukei e de outros dinos herbívoros. As réplicas do réptil estão em exposição desde a terça-feira, dia 16 de outubro, no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista para visitação.
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