Vinicius Zepeda
Sulamita Oliveira Barbosa |
Algas calcárias arrastadas até a beira da praia têm sido retiradas de maneira indiscriminada |
Alguns estudos já apontaram o Brasil como o detentor do maior depósito de algas calcárias do planeta. A bióloga Márcia Figueiredo Creed preocupa-se há muitos anos com o tema da exploração desses recursos naturais do litoral brasileiro: “Pouco sabemos sobre a diversidade das espécies existentes aqui e a retirada delas é feita visando apenas o interesse econômico, sem se importar com o equilíbrio ambiental”, alerta. Docente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, no qual leciona no programa de pós-graduação em Botânica, Márcia trabalha atualmente na pesquisa Paradigma entre a conservação e o uso sustentável de bancos de algas calcárias, projeto que recebeu recursos do programa APQ1 (Auxílio à Pesquisa) da FAPERJ.
Encontradas em profundidades que variam desde zonas entre marés até 280 metros, a alga calcária é o único vegetal marinho vivente em locais tão profundos nos oceanos. A distribuição dos bancos de algas calcárias no Brasil abrange desde a costa do Maranhão até o litoral do Norte Fluminense, sendo encontrados ainda na Baía da Ilha Grande e na Ilha do Arvoredo, em Santa Catarina. A pesquisa coordenada por Márcia Creed conta com uma equipe de oito pesquisadores, incluindo colaboradores de Austrália e México, além de estudantes de mestrado e doutorado do Jardim Botânico e do Museu Nacional/UFRJ. “Constatamos por meio de nossa pesquisa que o delta do Rio Paraíba do Sul, no Norte Fluminense, mais precisamente no município de São Francisco de Itabapoana, é tão rico em algas calcárias quanto o sul do Espírito Santo, região tradicionalmente conhecida como a que possui a maior reserva destes vegetais no país”, afirma a bióloga.
"Coleta em mares profundos seria uma das soluções", afirma a bióloga
A. B. Villas Boas |
Em Abrolhos, Sul da Bahia, existem bancos de |
Para Márcia Creed, enquanto o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) possui uma série de programas para evitar a coleta indiscriminada de corais, ainda há poucas ações para a preservação dos bancos de algas calcárias. “Muitas vezes estes vegetais, na forma de rodolitos (alga calcária de vida livre) são arrastados até a beira de praias e retirados indiscriminadamente por pessoas que ignoram a importância deles para a conservação da natureza”, lamenta. “Uma das soluções para aliar o equilíbrio ambiental como o uso do potencial econômico destes vegetais seria a coleta deles em áreas mais distantes da costa, ou seja, em águas profundas. Ali, o solo tem menos nutrientes, a fauna e a flora é mais pobre e o impacto ambiental seria indiscutivelmente menor”, avalia.
O trabalho desenvolvido sob a coordenação de Márcia foi subdivido para dar mais agilidade à pesquisa e deve levar dois anos para estar inteiramente concluído. O objetivo é que durante esse período sejam produzidos diversos artigos sobre o uso e a conservação de algas calcárias no Brasil. No caso particular da conservação, o tema vem sendo explorado pelo estudante de doutorado em Botânica pelo Museu Nacional (UFRJ) Alexandre Bigio Villas Boas, que vem desenvolvendo estudos sobre os rodolitos, algas calcárias de vida livre que servem de habitats para a fauna associada, como briozoários e esponjas, entre outros.
Já sua colega e mestranda Maria Carolina Henriques tem dedicado seu tempo a catalogar as espécies de algas calcárias encontradas em depósitos de regiões oceânicas. Segundo ela, em dois anos será possível realizar um inventário de todas as algas encontradas em Abrolhos, no Norte Fluminense e no Espírito Santo. A estudante de mestrado em Botânica do Jardim Botânico do Rio de Janeiro Sulamita Oliveira Barbosa, junto com o pesquisador Everaldo Zonta, do Laboratório de Análises do Solo, Plantas e Resíduos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), vem realizando experimentos que testam o efeito das algas calcárias e de outras macroalgas associadas aos rodolitos, no cultivo de hortaliças.
Para Márcia Creed, a pesquisa será útil para identificar as espécies de algas calcárias existentes no país e para aferir a taxa de reprodução e de crescimento dos depósitos onde elas se encontram. “Algumas espécies demoram centenas, outras, milhares de anos para atingirem um tamanho de 10 cm (de maior diâmetro), o que torna sua coleta indiscriminada uma ameaça ao meio-ambiente”, afirma. A equipe coordenada pela bióloga irá participar da organização do 3 Workshop Internacional de Rodolitos, previsto para março de 2009, no Rio de Janeiro. “O evento reunirá pesquisadores do mundo inteiro”, informa Márcia. Ela diz que ainda há poucos pesquisadores estudando o assunto não só no Brasil como no exterior. “Por isso, o objetivo de nossa pesquisa também é o de formar novos estudiosos e especialistas para que possamos continuar pesquisando o tema”, conclui a bióloga.
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