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Publicado em: 12/06/2008
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Uma estação para colher e outra para cultivar

Roni Filgueiras

 Divulgação Uerj
      
  Terceira estação vai completar
  rede de monitoramento na região
O geólogo Luiz Carlos Bertolino e a geógrafa Ana Valéria Bertolino desde 2002 encamparam mais que um trabalho acadêmico de fôlego, mas um projeto de vida. Eles são professores da Uerj, campus de São Gonçalo, e implantaram ali uma estação experimental meteorológica, fruto do edital “Apoio às Universidades Estaduais do Rio de Janeiro – Uerj, Uenf e Uezo”. O objetivo dos pesquisadores era sanar uma deficiência de informações meteorológicas do município, o segundo mais populoso do estado. “Quando íamos fazer uma pesquisa nos deparávamos com este problema”, conta Bertolino, professor adjunto do Departamento de Geologia da Uerj/São Gonçalo, que tem 2.400 alunos distribuídos por sete cursos de graduação. “Existia uma carência de dados climatológicos na região, só havia dados das estações de Niterói e Rio de Janeiro. Não havia dados primários dos municípios da Baixada”.

São Gonçalo sofre com graves problemas ligados ao clima, que fazem vítimas fatais todos os anos: enchentes e deslizamentos. Segundo Ana Valéria, o projeto das estações serviria justamente para ajudar a monitorar e minorar estas tragédias, que costumam acontecer na época das chuvas, no verão. “Os dois maiores problemas de São Gonçalo estão atrelados aos movimentos de massa (deslizamentos, quedas de barreiras e blocos, entre outros) e às inundações”, alerta.

Sobretudo na região leste do município, atravessada pelo Rio Guaxindiba e afetada por desabamentos e enchentes, que tem solo freático muito próximo da superfície. “Localizamos nos nossos estudos dois pontos críticos de São Gonçalo, o bairro Novo México, onde há deslizamentos, e o bairro Jardim Catarina, onde está um dos maiores loteamentos do município e onde acontecem grandes enchentes”, informa Bertolino. A existência do rio, a intensidade das precipitações, as encostas sem vegetação e o lençol freático muito próximo à superfície são os responsáveis pelas tragédias anunciadas a cada verão.

A estação conta com aparelhos de mensuração direta, que registram dados em horários internacionais (9h, 15h, 21h). “Nosso objetivo é montar uma rede de estações para gerenciar o planejamento do município”, conta Ana Valéria. O projeto ganhou impulso com a compra de uma segunda estação, desta vez automatizada, em 2006, também por meio de nova edição do mesmo edital da FAPERJ. Com os recursos liberados, eles instalaram uma estação Vaisala, de fabricação holandesa, no valor de R$ 28 mil. O aparelho tem capacidade de adquirir dados, armazená-los a cada dez minutos e transmiti-los por GSM (por telemetria).

Os dois cientistas acabam de ser contemplados na edição anual deste edital, o que vai viabilizar a compra da terceira estação meteorológica e, finalmente, concretizar o sonho de montar uma rede de monitoramento, depois de anos de dedicação. “Isso praticamente possibilitará nosso projeto de monitoramento completo da região leste de São Gonçalo, já que cada uma das estações permite a coleta de dados num raio de até 3Km.

Além do acalentado projeto, Ana Valéria e Luiz Carlos mantêm no campus um programa de visitas guiadas para escolas de ensino médio e fundamental do município a fim de divulgar as pesquisas e os laboratórios e aproximar a instituição da comunidade. “É uma forma de desmistificar a ciência, tirá-la do pedestal e aproximá-la das pessoas, principalmente dos jovens. Esse trabalho só é possível porque é viabilizado pela bolsas de iniciação científica da FAPERJ, pois os monitores são alunos daqui. Afinal, o campus de São Gonçalo é voltado para a formação de professores e isso faz parte de nossa função”, define Ana Valéria.

Outra iniciativa de Bertolino e Ana Valéria foi a instalação de uma estação experimental erosiva. “Grande parte das encostas do município não tem cobertura vegetal”, explica Ana Valéria. “Ou é do tipo gramínea. Como já dissemos, os problemas da região estão atrelados a movimentos de massa e inundações. Queríamos entender justamente como as taxas de erosão ocorrem aqui, então criamos experimentos que podem vir a ser a solução para esses desafios”, diz a geógrafa.

Os experimentos consistem em medir o processo de lixiviação em três massas de terra diferentes, conhecidos como parcelas de erosão (uma espécie de caixa de chapa galvanizada de 10m2, de onde sai um tubo de PVC que é conectado a uma caixa d’água). As parcelas se localizam no campus e ficam ao ar livre, próximas a um morro sem cobertura vegetal. A primeira parcela de erosão foi instalada onde não havia cobertura; na segunda, foi plantada gramínea; e na terceira, foi cultivada uma espécie de leguminosa. Depois de um ano e meio, eles cruzaram os dados das três parcelas. 

“A tendência na área sem cobertura é ter uma menor infiltrabilidade e, conseqüentemente, maior erosão”, analisa Ana Valéria. “Na área com gramínea, há uma boa infiltrabilidade na superfície do solo, minimizando esta taxa com o aumento da profundidade. Já naquela da leguminosa, na superfície e sub-superfície, após 18 meses, vimos que a perculação (infiltração) é igual, ou seja, há uma melhor taxa de infiltrabilidade total”, conclui.

Além de ser um ótimo meio de promover a perculação, o cultivo de leguminosas é conhecido por melhorar a qualidade do solo, por meio da fixação do nitrogênio. “Dentro dos parâmetros de infiltrabilidade, condutividade hidráulica, porosidade e análises químicas, como o teor de carbono do solo, essas propriedades vêm melhorando na parcela de erosão cultivada com a leguminosa”, relata Ana Valéria. Ela fez uma parceria com a Defesa Civil para o repasse das conclusões dos estudos das estações experimentais meteorológica e erosiva. “Está sendo interessante para eles que, até então, só dispunham das informações dos boletins de ocorrência.”

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