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Publicado em: 04/09/2008
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O uso do conhecimento científico como forma de incluir o surdo na sociedade

Vinicius Zepeda


Divulgação/IBqM 

   

   Vivian Rumjanek: "Apesar de enxergarem,
   os surdos são invisíveis para a população"

“O surdo não desperta nas pessoas a real gravidade desta limitação, pois ele tem menos segurança que o cego e isso é perigoso. Eles precisam, desde pequenos, aprender com bastante detalhes coisas sobre os problemas do mundo. Viver desligado é condição sine qua non do silêncio. Por exemplo: Se houver uma briga, ele vai ouvir? Se está pegando fogo em casa, ele não escuta o grito de ninguém. Os únicos recursos que eles têm são a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) e a leitura labial”, relata Creso João Santos Pinto, filho e pai de surdo. No que diz respeito ao acesso aos avanços científicos, então, as dificuldades são ainda maiores. Doutora em Biologia e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Vivian Rumjanek conhece bem o tema. Ela desenvolve um projeto que tem como objetivo aproximar estes dois mundos hoje distantes: o do deficiente auditivo e o da ciência e tecnologia. O trabalho é apoiado pelo edital Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia, da FAPERJ.

A pesquisa A inclusão do surdo na sociedade através do conhecimento científico está sendo desenvolvida por uma equipe de pesquisadores do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM), da UFRJ, em parceria com professores e alunos surdos de nível médio, do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines). “Assim como os brasileiros não-surdos falam o português, os surdos do nosso país têm uma língua própria: a Libras. Como toda língua viva, ela sofre transformações movidas pelas necessidades de comunicação. Além disso, ela é reconhecida e regulamentada pelo Ministério da Educação por meio da Lei de Libras. Porém, verifiquei que a Linguagem Brasileira de Sinais possui muito poucos termos científicos, o que dificulta a compreensão e popularização da ciência junto aos surdos”, explica Vivian. “Desta maneira, resolvi desenvolver um estudo sobre o nível de conhecimento científico que eles possuem”, acrescenta.  

O projeto está sendo desenvolvido desde 2005 e se subdivide em três vertentes. Numa primeira etapa, estudantes do Ines são selecionados duas vezes por ano para um curso de uma semana, em horário integral. Neste momento, os estudantes formam grupos de discussão sobre temas científicos escolhidos por eles próprios e apresentam trabalhos sobre os assuntos. “Ao final do curso, os que mais se destacam, são selecionados para estagiar conosco nos laboratórios do IBqM. Neste ponto, cabe destacarmos o esforço que não só os surdos mas também, nossa equipe de pesquisadores vem fazendo. Nós todos nos comprometemos a aprender Libras, se comunicar com estes estudantes. Não utilizamos intérpretes para os surdos. O esforço para inclusão na sociedade tem que ser dos dois lados: do nosso e do deles”, afirma Vivian. Atualmente o laboratório conta com seis estagiários surdos.

Glossário de termos científicos em Linguagem Brasileira de Sinais

Divulgação/IBqM
  
Estudantes surdos em dinâmica no laboratório do IBqM                 
Já uma segunda parte do projeto consiste em investigar o conhecimento que os surdos têm dos assuntos divulgados pela mídia em geral. “A gente discute recortes de jornal, notícias da internet, revistas, e medimos também o grau de conhecimento que eles possuem do que está sendo difundido pelos meios de comunicação no momento”, ensina Vivian. Uma vez que a Linguagem de Sinais é essencialmente gestual, as conversas realizadas entre os surdos são filmadas para posterior análise e tradução para o português.”Neste ponto, nós já percebemos que no que diz respeito à televisão, eles absorvem muito pouco”, acrescenta Vivian.

A terceira e última vertente do trabalho coordenado por Vivian Rumjanek é a formação de intérpretes de Libras e surdos alfabetizados com relação a termos científicos como clonagem, mudanças climáticas, câncer, doenças emergentes, viagens espaciais, entre outros. “Cabe destacarmos que a maior parte destes termos não existe na Linguagem de Sinais. Então, dispomos de um enorme esforço para explicar o conceito e os surdos, junto aos intérpretes, desenvolverem um símbolo gestual que corresponda àquela idéia. O objetivo final deste processo é a elaboração de um glossário de termos científicos em Libras”, explica a pesquisadora do IBqM.

Vivian Rumjanek destaca que seu projeto vem trabalhando com surdos desde nascença e com grau de surdez completa. Segundo a pesquisadora, estes, apesar de enxergarem, são invisíveis para a maior parte da população. “Os surdos só são vistos quando estão em bando, conversando por Libras, ou se alguém fala com um surdo que não responde, o deficiente acaba sendo, então, injustamente taxado de mal-educado”, lamenta.

A pesquisadora ainda não tem dados precisos do impacto do seu projeto sobre o universo dos surdos. Mas comemora o sucesso da propaganda gesto a gesto feita pelos estudantes do Ines. “Ano passado tivemos que selecionar 18 de um total de 70 estudantes escritos”, afirma orgulhosa. E promete novidades para 2009. “Apoiados pelo conhecimento que viemos adquirindo com o glossário de termos científicos, resolvemos elaborar, já para o ano de 2009, um curso de especialização no ensino de biociências voltado para surdos”, conclui.

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