Vinicius Zepeda
Fotos de Vinicius Zepeda |
Cristina Guilam e André Pereira Neto coordenam o projeto que será desenvolvido no Laboratório Internet, Saúde e Sociedade |
Para debater os aspectos positivos e negativos que esta nova relação médico-paciente poderá gerar e criar um mecanismo de medição do grau de confiabilidade dos sites relacionados à área médica, a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), inaugurou na terça-feira, 8 de dezembro, o Laboratório Internet, Saúde e Sociedade (Laiss) – uma sala com datashow para aulas e apresentações, além de dez computadores conectados à rede. O Laiss é parte do projeto 'O impacto da Internet na Saúde: a percepção da população de baixa renda do estado do Rio de Janeiro', coordenado pelos pesquisadores da Ensp Luis David Castiel, André Pereira Neto e Cristina Guilam. O projeto conta com o apoio do edital 'Pensa Rio - Apoio ao Estudo de Temas Relevantes e Estratégicos para o Estado do Rio de Janeiro’, da FAPERJ. "As comunidades virtuais, onde pacientes trocam informações sobre determinadas doenças, têm um papel cada vez mais importante no chamado ‘empoderamento’ que o paciente vem ganhando em relação à saúde. Assim como antigamente se trocava informações nas salas de espera, hoje elas são trocadas na rede", exemplificou Pereira Neto
A pesquisa desenvolvida no Laiss funcionará por meio de duas parcerias. A primeira será com o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, unidade de saúde ligada a Ensp e responsável pelo atendimento prioritário da população residente do complexo de Manguinhos, situado no entorno da Fiocruz. André Pereira Neto explica que tanto no Brasil como no mundo já existem mecanismos para medir a qualidade de conteúdo e a confiabilidade das informações disponíveis na internet. "Nossa proposta é que no futuro tenhamos uma espécie de selo disponibilizado na página da Fiocruz para avaliara a qualidade dos sites da área médica", explicou Pereira Neto. Porém, a pesquisa desenvolvida no Laiss não se restringirá apenas a estes dois temas. Ela se dividirá ainda na avaliação da navegabilidade e qualidade do conteúdo dos sites – que serão feitas respectivamente por webdesigners e especialistas da própria Ensp – e legibilidade das informações disponíveis nas páginas eletrônicas relacionadas à saúde. "Este último ponto é o grande ineditismo do nosso trabalho. No Laiss receberemos moradores de comunidades de baixa renda do entorno da Fiocruz. Esta população, os principais usuários do Centro de Saúde da Ensp, será orientada a pesquisar sobre temas da área médica. Com isso, eles mesmos avaliarão a legibilidade destes sites", complementou.
Monitores do novo laboratório da Ensp virão da comunidade de Manguinhos
No novo espaço, pacientes do Centro de Saúde irão acessar a internet e avaliar a legibilidade dos sites sobre saúde |
Já a médica sanitarista Cristina Guilam lembrou que, com o uso da internet, aqueles médicos que possuem uma relação de confiança frágil com seus pacientes tendem a correr o risco de vê-la se tornar mais frágil ainda. "Entretanto, na prática, a sociedade ainda respeita muito a opinião médica. Ainda assim, precisamos fortalecer as informações sobre saúde disponíveis na rede, dando-lhes maior credibilidade. Assim, o médico saberá onde seu paciente está buscando conhecimento e poderá debater os assuntos sobre os quais seja questionado", explicou Cristina.
Doutoranda em Saúde Pública na Ensp, a médica Helena Garbini vem estudando as transformações que o acesso à internet poderá gerar na profissão do médico. Ela destaca que, culturalmente, a mulher tem uma tendência a ser mais cuidadora e, portanto, tende a buscar mais informações na rede. Apesar do conflito que o ‘empoderamento’ do paciente pode provocar na relação com o médico, ela acredita que a médio e longo prazos os resultados deverão ser positivos. "O que na primeira vez pode ser um desafio ao médico, que deverá se manter mais atualizado, poderá ser um reforço na adesão de pacientes aos tratamentos", exemplificou. Para Helena, o boom da internet nas populações mais pobres irá exigir que a formação do médico sofra grandes mudanças. "Como um médico que trabalha num hospital público e que muitas vezes recebe recomendações para que atenda seus pacientes em 15 minutos para dar vazão a fila nestes locais, irá debater sobre internet com seu cliente? Com certeza, este é o grande desafio e exigirá uma formação mais humanista deste profissional. É essencial que ele seja orientado a conversar mais com seus pacientes", completou.
Representando o diretor da Ensp, Antônio Ivo Carvalho, a vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Escola, Margareth Portela, esteve presente no evento e se mostrou bastante empolgada com o projeto. Ela complementou as informações da doutoranda Helena Garbin. "O potencial e o desafio desse estudo são enormes. É muito importante que possamos informar e dividir informações com o paciente, além de qualificar e valorizar suas escolhas. Neste sentido, ele poderá cuidar e ser cuidado", concluiu Margareth.
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