Vilma Homero
Fotos: Divulgação/Coppe/UFRJ |
No fim de 2009, chuvas provocaram deslizamentos de terra na Costa Verde, como o que destruiu habitações à beira-mar na Ilha Grande |
O novo INCT, que reúne tanto pesquisadores de universidades fluminenses, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), quanto de outros estados, como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade de Brasília (UNB) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), surge com o objetivo de desenvolver pesquisas e propor soluções para minimizar o risco de deslizamentos. "Catástrofes naturais nada mais são do que a continuação da evolução do planeta, com o movimento entre as placas continentais – soerguimentos e abaixamentos de extensas regiões. Isso significa que temos de nos preparar para enfrentá-los", fala o professor Willy.
Esse preparo inclui diversas medidas preventivas. "Há necessidade de prevenção e planejamento. As encostas da maioria das cidades do estado do Rio de Janeiro, especialmente as da região serrana, são suscetíveis a escorregamentos. Portanto, é preciso elaborar uma carta de riscos, traçada pelos órgãos competentes, e manter intensa fiscalização sobre regiões problemáticas. No município carioca, a Geo-Rio vem promovendo estudos de geotecnia através de convênios com as universidades cariocas, e aplicando a legislação sobre construção em encostas para evitar problemas futuros. Além disso, realiza obras de caráter preventivo e corretivo nas encostas de maior risco", diz o pesquisador.
Raízes curtas das árvores da região de Angra contribuíram para deslizamentos |
No Rio de Janeiro, em que o relevo de montanhas faz parte da paisagem, os deslizamentos não são raros. "O que aconteceu na Ilha Grande, por exemplo, foi a infeliz combinação de um solo raso, embora densamente vegetado, e água oriunda de fraturas da rocha (nascentes) na base da encosta, aumentando a pressão no contato da rocha com o solo já saturado, fazendo com que ele deslizasse", explica o pesquisador. Segundo Willy Lacerda, as raízes das árvores daquela área, curtas, não ofereceram resistência suficiente para impedir o escorregamento, que se deu abaixo das raízes. Chamada pelo governo do estado a fazer um estudo em Angra, onde as chuvas de fim de ano também fizeram estragos, a equipe do INCT apresentará, depois de analisar a área, proposta para zoneamento de risco e intervenção na área.
Caso semelhante, por exemplo, ocorreu em 1994, em um trecho da BR-101 nas proximidades de Mangaratiba. Além de colocar em risco um trecho da estrada, o escorregamento de solo resultou em 17 mortes. "Este escorregamento se deu no contato de rochas gnáissicas com o manto de solo saprolítico, que é aquele resultante da decomposição ou desagregação de rochas, num processo de milhares a milhões de anos. Durante chuvas intensas, esse solo saturou-se, tornando-se instável, e finalmente deslizou, destruindo casas e depositando-se no mar, de forma semelhante ao que ocorreu na Ilha Grande", explica. Foram feitas obras de estabilização para reabilitar a encosta e proteger a rodovia.
Exemplo de equipamentos construídos pela equipe do INCT: à esquerda, ensaio de barra cilíndrica. À direita, primeiros testes com piezocone-torpedo. |
Para alguns aperfeiçoamentos, estuda-se o pedido de patente, como no caso do novo equipamento para ensaios de deformação plana, que utiliza uma simples adaptação do aparelho para ensaios triaxiais convencionais. "Comparado aos convencionais, o novo aparato é de custo mais baixo, de fácil construção e operação", explica. Outro equipamento para o qual houve solicitação de patente é o "expanso-colapsômetro", que permite medir "in situ" o colapso ou a expansão de solos não saturados quando inundados, em várias profundidades. Foi ainda desenvolvido um piezocone de impacto, para medir a resistência do solo argiloso sob grandes lâminas de água. Tem aplicação na indústria petrolífera offshore.
Para o pesquisador, tudo isso faz parte de um conjunto de medidas necessárias. "Precisamos avançar na prevenção. Obras permanentes, como a drenagem e dragagem de rios, medidas que evitem o assoreamento de rios e lagoas, a estabilização de saibreiras e encostas, e o intenso reflorestamento de diversas áreas podem reduzir o impacto de fenômenos naturais e principalmente minimizar seus efeitos", finaliza.
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