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Publicado em: 08/07/2010
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Neurociência contribui para treinamento de policiais

Vilma Homero

 Divulgação

 
   Um dispositivo no centro indica, pela luz que
 acende, qual dos quatro alvos deve ser atingido
O que a neurociência tem a oferecer à questão da segurança pública? Para a equipe de pesquisadores, coordenada pelo professor Pedro Ribeiro, do Departamento de Biociências da Atividade Física e do Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e do Instituto de Neurociências Aplicadas (INA), a resposta é simples: os cientistas podem ajudar a diminuir lacunas na formação militar, especialmente no treinamento para ação e tomada de decisão sob o estresse das situações de risco. O projeto contou com apoio do  edital Pensa Rio, da FAPERJ.

Na prática, o grupo de Ribeiro trabalhou durante dois anos junto ao Batalhão de Operações Especiais, o Bope, onde encontrou receptividade com o ex-comandante, o tenente-coronel Alberto Pinheiro Neto. Este e vários de seus comandados se interessaram pelo projeto. Foi Pinheiro Neto, por sinal, o responsável pelo treinamento de Rodrigo Pimentel, ex-integrante do batalhão e roteirista do filme Tropa de Elite.

"Nosso primeiro passo foi saber como era o dia-a-dia e as necessidades da tropa. A partir daí, avaliamos como uma abordagem neurobiológica poderia contribuir com o fator humano. No caso, procuramos compreender o funcionamento cerebral em situações específicas, como tomada de decisão, atenção em situações extremas e aspectos da memória para identificar fatores de risco", explica o pesquisador. Para tanto, sua equipe conta com psicólogos, especialistas em informática, da Universidade Federal Fluminense, e de eletrônica, do Instituto de Neurociências Aplicadas (INA).

A ideia do grupo é evitar a repetição de incidentes graves, como o episódio recente em que um policial confundiu uma furadeira com um fuzil e atirou, matando o homem que a portava. Ou, como no caso mais antigo, de outro policial militar que numa abordagem a um automóvel, na Tijuca, em que se encontravam uma mulher e duas crianças, acabou matando uma delas. Ambos foram casos de grande repercussão. "São situações perfeitamente evitáveis com treinamento constante e eficiente", diz Ribeiro. O pesquisador acrescenta ainda que, no Bope, isso já acontece. "Tecnicamente, o grau de letalidade é baixo para o número de operações que executam", diz.

Segundo os pesquisadores, em situações como essas, acessamos certos bancos de dados de nossa memória, para identificar se há ou não risco para então tomarmos uma decisão. "No caso de um policial, ele precisa acessar, de forma ainda mais rápida e eficiente, seu repertório de memória e recuperar dados para tomar decisão em maior nível de segurança", explica a psicóloga Bruna Velasques, doutoranda do Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora, da UFRJ, e do Instituto de Neurociências Aplicadas (INA).

 Divulgação
     
Treino de precisão de tiro: as duas silhuetas
simulam uma situação em que há um refém
Para isso, foram desenvolvidos diferentes equipamentos para treinamento no batalhão. Simuladores simples, elaborados pelo grupo dos professores Pedro Ribeiro e Bruna Velasques, que saem a um décimo do valor de similares importados. Um deles foi um dispositivo com osciladores em pêndulo para simular o disparo contra um alvo que, escondido atrás de uma parede, aparece ocasionalmente. "Esta, por sinal, é uma situação bastante comum durante operações em algumas comunidades, em que traficantes constroem verdadeiros bunkers", fala Ribeiro. Outro, um software para medir o tempo de reação entre a percepção e a identificação de um alvo e o tiro. Também há adaptadores para armas, como um tripé, para proporcionar maior precisão no tiro. Ou ainda um projeto em desenvolvimento junto com o major Clayton Amaral, da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) do Exército brasileiro, de um software de realidade virtual, em que é preciso discriminar, entre os vários elementos que aparecem num fundo, qual deles é o que oferece risco. "Dispositivos sofisticados e muito caros foram desenvolvidos pelo grupo por custos bastante baixos", contam os pesquisadores. O projeto despertou grande interesse entre os policiais, particularmente dos atiradores de precisão (snipers), que se mostraram bastante envolvidos no treinamento de precisão para tiro a distância (entre 250 a 300 metros). "A tecnologia e as neurociências tem muito a oferecer nesse campo", diz Ribeiro.

Além da experiência no Bope, o grupo do professor Ribeiro, juntamente com grupo do major Clayton Amaral têm realizado outros estudos interessantes. Num deles, por exemplo, foi empregado o metilfenidato (ritalina), droga utilizada para manutenção da vigília, que aumenta o estado de atenção/concentração. O objetivo, nesse caso, era o de aumentar os níveis de vigília por um período maior de tempo. "Fizemos um estudo comportamental e eletrofisiológico (eletroencefalografia – EEG) com militares do exército. Testamos as funções cognitivas, a capacidade de memória e a tomada de decisão. Observamos que a substância realmente melhora a performance, com melhor capacidade cognitiva e precisão no desempenho. O que é uma das propostas da neurociência", explicam Bruna e Ribeiro. Na continuidade do projeto, os pesquisadores pretendem repetir a experiência, que avaliaram como bastante satisfatória, com outras substâncias, entre elas o modafinil.

A pedido do tenente-coronel Pinheiro-Neto, também foi feita uma experiência para verificar o quanto o preto característico dos uniformes da corporação era mais ou menos visível durante as operações. "Testamos o preto e outras cores diferentes para ver qual delas se camuflava melhor no ambiente e qual ficava mais fácil de identificar a distância. Porque a cor do uniforme também é uma forma de proteger o policial. O preto, além de provocar maior sensação de calor, também faz maior contraste com o cenário de cimento e tijolo, cores frequentes nas favelas", diz Ribeiro. O preto ficou entre as cores mais visíveis de se localizar ao longe.

"Há um campo enorme para o trabalho conjunto entre um instituto de pesquisa e as instituições do estado. No caso da segurança, por mais elevado que seja o nível de treinamento dos policiais, mesmo no Bope onde já existe uma excelência, sempre há um campo enorme de aprimoramento e projetos que podem ser estendidos à rotina de outros batalhões", falam os pesquisadores. Além de ver algumas das rotinas gradualmente incorporadas ao treino no Bope, eles estão na perspectiva de trabalhar com outras unidades da polícia. "Queremos contribuir com o conhecimento científico e com a tecnologia. Com certeza, temos muito a oferecer na questão da segurança."

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