Vinicius Zepeda
Reprodução/TV |
Até 2016 toda a programação da TV aberta brasileira deverá disponibilizar o recurso do closed caption |
Os dois softwares fazem parte do projeto "CPL multimídia", desenvolvido com apoio do programa Rio Inovação, da FAPERJ, em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e coordenado pela fonoaudióloga e diretora da CPL Helena Dale Couto. Ela explica que um dos grandes temas em discussão nos últimos anos no País é a chamada acessibilidade – a adaptação de espaços públicos e privados, meios de transporte, lazer, entretenimento e cultura em geral a portadores de necessidades especiais. O assunto vem ganhando força desde dezembro de 2000, quando foi promulgada no Brasil a Lei 10.098 – popularmente conhecida como lei da acessibilidade – que desde então vem sendo discutida, aperfeiçoada e implementada nos espaços públicos do País. "No caso do acesso de deficientes auditivos, foi aprovada em 2006 uma norma complementar, exigindo que até 2016 toda a programação da televisão aberta brasileira tenha closed caption", afirma Helena.
A diretora da CPL explica que, antes de elaborar o X-on, procurou entrar em contato com empresas estrangeiras que desenvolvem softwares de reconhecimento de voz para saber do interesse em acrescentar o idioma português a seus aplicativos. "A resposta foi que elas não tinham produtos com versão em português nem o interesse comercial em desenvolvê-los", lembra a fonoaudióloga. "Então, resolvemos buscar recursos financeiros e técnicos para desenvolvê-lo", complementa.
A legislação atual exige que a legenda oculta (closed caption) seja disponibilizada no mínimo por seis horas diárias da programação televisiva. "O recurso é cobrado por horas transcritas, o que encarece bastante o serviço e o torna quase inviável no caso das pequenas e médias emissoras", explica Helena. Ela cita a principal vantagem do X-on: uma enorme economia ao substituir a cobrança diária pela cobrança mensal do serviço. "Além de cobrado mensalmente, o que já facilita, custa um quarto do valor atual, cobrado por hora", complementa.
Divulgação/CPL |
Helena Dale Couto: audiodescrição |
Cinema para o cego ouvir e se emocionar
No caso de filmes, Helena Couto explica que à primeira vista pode-se achar estranho e até mesmo contraditório imaginar um cego interessado em cinema. "Mas é aí que as pessoas se enganam: eles adoram, curtem o programa que é ir ao cinema e o clima do local", explica. Ela diz que infelizmente poucos vão ao cinema e, quando o fazem, se sentem bastante inibidos pela necessidade de precisarem que um acompanhante não cego descreva oralmente as cenas, atrapalhando os outros espectadores. "Muitas vezes, para não incomodar os outros, ele e o acompanhante ficam num local afastado da tela, o que compromete a descrição das imagens. Isso acaba fazendo com que os cegos evitem ir ao cinema", complementa.
Para resolver o problema, a CPL vem desenvolvendo desde 2007, no espaço do Centro Cultural Banco do Brasil, no Centro do Rio, o projeto "Cinema Nacional Legendado e Audiodescrito". Todos os sábados, às 14h, essa sessão permite que os surdos acompanhem a história pelas legendas, enquanto os cegos, com o uso de um fone sem fio, podem escutar a audiodescrição, dispensando a ajuda de acompanhantes.
Em agosto deste ano, durante a 38 edição do Festival de Cinema de Gramado, no Rio Grande do Sul, a equipe da CPL apresentou seu software de audiodescrição para filmes em DVD. "Estamos desenvolvendo o mesmo projeto Cinema Nacional Legendado e Audiodescrito para a versão videoteca. Devemos legendar e audiodescrever ao todo 60 filmes nacionais que já estão disponíveis em vídeo e pretendemos distribuir 200 kits desses filmes – cem com close caption e outros cem com audiodescrição – para entidades pré-selecionadas pelo Ministério da Cultura", explica.
O uso da audioescrição pelas emissoras de TV aberta no Brasil também está previsto pela lei de acessibilidade. Depois de muitos adiamentos, o Ministério das Comunicações definiu um prazo até julho de 2011 para que essas emissoras regularizem duas horas diárias de sua programação com o recurso, que deverá ser estendido de maneira progressiva, ano a ano." Nossa empresa já está oferecendo o serviço em programas gravados. E esperamos contribuir cada vez mais para a busca de soluções que permitam, tanto ao cego quanto ao surdo, maior acesso ao entretenimento audiovisual", conclui.
Surdez de filho caçula fez dona de casa virar fonoaudióloga
Há trinta anos, Helena nem imaginava que estaria onde está hoje. Dona de casa, ela passava a maior parte do tempo cuidando dos três filhos enquanto aguardava o momento de dar a luz ao quarto: Alexandre. Aos dez meses de idade, porém, o caçula ficou surdo. O que para muitas mães poderia representar apenas motivo de angústia foi o combustível para uma guinada em sua vida. De lá para cá, Helena cursou e formou-se em fonoaudiologia para entender melhor o mundo sem sons do filho; fundou, em 1986, a Associação de Reabilitação e Pesquisa Fonoaudiológica (Arpef), onde crianças e jovens surdos desenvolvem a linguagem dentro de uma perspectiva bilíngue: língua oral (fala e leitura labial) e Libras, a Língua Brasileira de Sinais. Em 1997, ela fundou a CPL, a primeira empresa nacional especializada na produção de legendas ocultas em programas gravados.
Hoje, tanto a Arpef quanto a CPL dividem o mesmo espaço físico num casarão em Botafogo, Zona Sul do Rio. Alexandre tornou-se uma espécie de líder da comunidade surda. Casado, pai de Ana Luiza – de um ano de idade e com audição normal –, esportista e campeão brasileiro de vôlei de praia para surdos, ele já participou de dois jogos olímpicos para surdos: em Sidney, na Austrália, e em Taipei, Taiwan. Formado em Ciência da Computação, ele hoje vive em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Lá, ele ingressou e concluiu seus estudos na Universidade Luterana Brasileira (Ulbra), onde participou de turma com mais de 20 surdos e intérpretes.
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