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Publicado em: 28/04/2011
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Primeira vacina contra esquistossomose terá tecnologia 100% nacional


Débora Motta

 

Gutemberg Brito/Comunicação/Instituto Oswaldo Cruz 

 
 Para a pesquisadora da Fiocruz e médica Miriam Tendler,
 a vacina será um investimento social de impacto global
 

O Brasil será o primeiro país a desenvolver uma vacina contra a esquistossomose, doença que acomete cerca de 200 milhões de pessoas no mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). A substância, desenvolvida com tecnologia 100% nacional, foi descoberta no início da década de 1990 pela médica e pesquisadora titular da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Miriam Tendler. Desde então, já apresentou resultados positivos em testes com animais – 70% de imunização em camundongos – e, ainda em 2011, será testada em humanos. Além de estar se mostrando eficaz para promover a imunização contra casos de esquistossomose, a vacina também poderá evitar casos de outras doenças causadas por helmintos, como a fasciolose, doença do gado de corte que tem um parasita causador semelhante ao da esquistossomose. O estudo contou com recursos da FAPERJ, por meio do edital Apoio ao Estudo de Doenças Negligenciadas e Reemergentes, além de recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). 

 

Como em qualquer outra vacina, a técnica consistiu em utilizar um antígeno – substância que estimula a produção de anticorpos – para fortalecer o sistema imunológico do potencial hospedeiro contra o ataque do parasita. No caso, foi a proteína SM-14, obtida pelo grupo de pesquisadores da Fiocruz e colaboradores coordenado por Miriam Tendler, a partir do próprio Schistosoma mansoni, o parasita causador da esquistossomose. Proteína essencial para a sobrevivência do parasita, a Sm-14 é propriedade intelectual da Fiocruz e faz parte de um grupo conhecido como fatty acid-binding proteins (proteínas ligadoras de ácidos graxos). “No início dos anos 1990, a SM-14 foi eleita pela OMS como um dos seis antígenos prioritários para o desenvolvimento da primeira vacina contra a esquistossomose, ao lado de quatro propostas americanas, que não foram para frente, e de uma francesa, que não tem a mesma abrangência que a nossa, pois é restrita à esquistossomose”, conta.

 

 Reprodução
 
A proteína SM-14: antígeno da vacina pode
imunizar contra esquistossomose e fasciolose 
                                                                
De acordo com a coordenadora do projeto, a versatilidade da utilização do antígeno é o grande diferencial da proposta brasileira. A proteína SM-14 pode servir como base para a produção de vacinas que atuem contra diversas doenças causadas por helmintos. “Estamos na fase final do desenvolvimento de uma vacina anti-helmíntica bivalente, ou seja, capaz de prevenir duas doenças, a esquistossomose, doença humana de grande importância social, e a fasciolose, que acomete rebanhos em todo o mundo”, explica Miriam Tendler. O próximo passo, no entanto, é ampliar ainda mais a abrangência da vacina para torná-la multivalente. “Já temos em vista adaptá-la para que também possa prevenir outras doenças causadas por helmintos, como a hemoncose, que afeta bovinos e ovinos”, completa.  

 

A possibilidade de abrir o leque, tornando a vacina um produto da indústria veterinária em um futuro próximo, ajudou a impulsionar, indiretamente, o desenvolvimento da substância também para humanos. Uma parceria que envolve o licenciamento da exploração de patentes foi fechada entre a Fiocruz e a indústria brasileira Ourofino Agronegócio. “Estamos às vésperas da realização de testes de segurança da vacina em humanos, que deve durar cinco meses. Depois dessa etapa, será importante que a vacina transponha os limites da academia e seja produzida em escala industrial, para entrar no mercado”, avalia. “Será a primeira vacina desenvolvida com tecnologia totalmente brasileira. Isso dará ao país autonomia para prevenir a esquistossomose, adotando a prevenção como medida prioritária, e não apenas o tratamento. Será uma vitória nacional e um investimento social de impacto global”, conclui Miriam Tendler.

 

Sobre a esquistossomose e a fasciolose

Conhecida popularmente como “barriga d’água”, a esquistossomose é considerada uma doença negligenciada, por ser típica de países tropicais em desenvolvimento e não receber atenção adequada da indústria farmacêutica para a produção de ferramentas para a sua erradicação. Ela é transmitida através do contato direto com as larvas do parasita em águas não tratadas. Embora o homem seja seu hospedeiro definitivo, o parasita necessita de caramujos de água doce como hospedeiros intermediários. O planorbídeo, caramujo hospedeiro do Schistossoma mansoni, verme que causa a esquistossomose, habita barragens, rios, lagos e terras irrigadas de qualquer parte do país.

 

A esquistossomose compromete a saúde em geral e a capacidade de aprendizado, além de provocar diarreia, dores de cabeça, vômitos e sangramento do sistema digestivo. No Brasil, os focos da doença, antes concentrados principalmente nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, agora estão em expansão também para outros estados. Segundo a OMS, 747 milhões de pessoas vivem sob o risco da infecção causada pelo parasita Schistosoma mansoni em 56 países das Américas, da África e Ásia. Já a fasciolose hepática é uma das mais importantes doenças que atingem os ruminantes, gerando constantes prejuízos aos produtores rurais de todo o mundo, devido à mortalidade do gado e à redução na produção de carne e leite.

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