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Precisão dos resultadospositivos de mamografiasaltou de 80.2% para 96,5% |
O procedimento, que filtra as informações relevantes que aparecem como pontos brancos nos exames de mamografia – radiografias usadas para diagnosticar a doença – ajuda a identificar as chamadas microcalcificações – minúsculas pedras resultantes do acúmulo de cálcio. "Em20% dos casos, contornos irregulares nas microcalcificações podem ser causados pelos tumores", afirmam os engenheiros. Descrita pelos dois pesquisadores, a técnica consiste em utilizar, para o processamento de imagens de raios-X, a chamada entropia não-aditiva, teoria formulada por outro pesquisador do CBPF: o físico Constantino Tsallis, que éCientista do Nosso Estado da FAPERJ ecoordenador do Instituo Nacional de Ciência e Tecnologia de Sistemas Complexos (INCCT-SC), cofinanciado pelo CNPq e pela FAPERJ.
A teoria, também chamada de Estatística de Tsallis, serve para entender o comportamento de sistemas complexos como o corpo humano, a economia e a linguística, entre outros. O físico explica didaticamente como funciona sua teoria, exemplificando com a massa de ar presente numa sala. "Para se movimentarem, as moléculas de ar presentes podem assumir milhares de comportamentos, como ir para a frente, para trás, esquerda, direita, para cima, para baixo, e assim por diante", ensina Tsallis. Segundo o pesquisador, estas moléculas são chamadas de sistemas simples, e o direito de usar todas as possibilidades de movimento será sempre exercido. Já nossistemas complexos, como o cérebro humano e seus milhares de neurônios, ou mesmo a Bolsa de Valores, a distribuição de renda da população e a linguística, o número de possibilidades é restrito e, portanto, bem menor. "Eles são muito seletivos e sempre restringem seu comportamento. Eu procuro identificar estas possibilidades, o que nem sempre é fácil", complementa.
"Precisamos realizar um amplo debate sobre inovação", defende Marcelo
Constantino Tsallis mostra-se bastante empolgado com a utilização de sua teoria para processamento de imagens e, mais especificamente, para a melhoria do diagnóstico do câncer de mama. Ele explica a importância da nova técnica. "Quando há suspeita de câncer de mama, o primeiro exame que o ginecologista pede é este dos pontos brancos. Ele olha e, se achar necessário, pede o exame específico das microcalcificações", explica Tsallis. "Porém, como já vimos, com a técnica desenvolvida pelos engenheiros Márcio e Marcelo, o índice de confiabilidade dos exames aumentou consideravelmente, saindo de 80,2% de certeza – no caso dos resultados positivos – para 96,5%", acrescenta.
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Constantino Tsallis: nome citado emmais de 10.000 artigos científicos |
O fato ilustra bem a necessidade dos governos federal, estadual, municipal e as sociedades se mobilizarem para fortalecer cada vez mais o ambiente de inovação no País. "Tanto as universidades precisam se aproximar das empresas e vice-versa, através da contratação de pesquisadores ou do incentivo real às atividades de pesquisa e desenvolvimento", explica Marcelo. "Atualmente, todas as esferas de governo vêm incentivando a criação de áreas parapesquisa edesenvolvimento nas empresas a fim de fortalecer a parceria com as instituições de pesquisas brasileiras", conclui.
Um físico de renome internacional
Nascido na Grécia em 1943, Constantino Tsallis tinha quatro anos quando, levado pela família, emigrou para o Brasil. Após breve estada por aqui, a família se transferiu para Mendoza, na Argentina, onde completou os estudos primários e secundários. Diplomado pelo Instituto de Física de Bariloche, em 1965, seguiu para a Europa no ano seguinte, após obter uma bolsa de estudos do governo francês. Ao longo de quase uma década de permanência em território francês, lecionou Física regularmente na Universidade de Paris e na École de Physique et Chimie de Paris. Em 1974, recebeu o diploma de Docteur d'Etat en Sciences Physiques pela Universidade de Paris-Orsay por pesquisas na área de Teoria de Transições de Fase. Em 1975, emigrou de volta ao Brasil – país ao qual solicitou e obteve a nacionalidade brasileira em 1984. Em 1988, formulou sua mais célebre teoria, a entropia não-aditiva, emque tenta explicar o comportamento dos sistemas complexos, que leva seu nome.
Em razão de sua produção científica, já foi citado nominalmente (seu nome no título ou no resumo da publicação) em mais de mil quatrocentos artigos de outros pesquisadores, em mais de 60 países – feito que no Brasil o aproxima, nesse indicador, ao do célebre médico sanitarista Carlos Chagas,descobridor da doença que porta seu nome. Os números que refletem sua atuação são superlativos. Publicou mais de 300 trabalhos que receberam mais de dez mil citações na literatura especializada internacional, e proferiu mais de 800 conferênciasem eventos e instituições de cerca de 40 países.
Em maio deste ano, Constantino Tsallis recebeu um convite da Academia de Ciências do Vaticano para fazer uma palestra em outubro.Éa primeira vez na história que um físico brasileiro é convidado para se apresentar na instituição.Tsallisministrará a conferência "Da física estatística à mecânica quântica não-linear". Além dele, o evento ainda teráa presença dos físicos Carlo Rubia e Gerardus Hooft, ambos ganhadores do Prêmio Nobel de Física.
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