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Publicado em: 01/12/2011
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Ajudando o jovem a escapar do fascínio ilusório das drogas

Vinicius Zepeda*

Luiz Fiel  

           

      O crack leva apenas 10 segundos para 
       chegar ao cérebro e vicia em um mês

Nos últimos anos, o crescimento do consumo de crack – droga composta de uma mistura de cocaína e bicarbonato de sódio, muito mais barata que até mesmo o álcool e a cola de sapateiro – tem desafiado autoridades brasileiras de saúde, segurança e da sociedade como um todo. Pesquisa do governo federal mostra que o crack já chegou a 98% dos municípios brasileiros, com cerca de um milhão de dependentes. Um comparativo do potencial de devastação que provoca entre os adolescentes mostra que, enquanto o álcool, muitas vezes consumido pela primeira vez aos 11 anos, leva cerca de dois anos e meio para tornar-se problemático, no caso da maconha, consumida aos 12, esse tempo passa para um ano; a cocaína, experimentada aos 13, leva seis meses, e o crack, provado aos 14, leva apenas um mês. Vale destacar que a substância atinge o cérebro em apenas 10 segundos. Ao ser tragada, causa lesões nos neurônios e faz o coração entrar em descompasso (de 180 a 240 batimentos por minuto), gerando riscos de hemorragia cerebral, alucinações, delírios, convulsão, infarto e morte. Todas essas informações fazem parte da cartilha Tudo o que você pensa que sabe sobre drogas, produzida com apoio do edital Prioridade Rio, da FAPERJ, e lançada no dia 16 novembro, no Colégio Estadual Jornalista Tim Lopes, no Complexo do Alemão. O secretário estadual de C&T, Alexandre Cardoso, e o presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, desembargador Manoel Alberto Rebelo dos Santos, estiveram presentes ao evento.

Destinada a alertar jovens sobre os perigos de entorpecentes, como crack, álcool e até remédios controlados, a cartilha é fruto do projeto Prisioneiros das Drogas, uma parceria com as secretarias de Estado de C&T, Educação, Saúde, de Segurança e do Tribunal de Justiça (TJ). Coordenado pelo historiador, pesquisador e professor das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), Oswaldo Munteal, o projeto entrevistou cerca de 500 dependentes químicos, entre 18 e 25 anos, que passaram ou estavam no sistema penitenciário estadual. De acordo com a pesquisa, 80% dos presos entrevistados são usuários de drogas e 65% deles cometeram crimes por causa do uso e por envolvimento com o tráfico. Inicialmente, foi produzida uma tiragem de 200 mil exemplares que será distribuída para que professores de escolas estaduais e da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) possam levar o debate para as salas de aula. "Porém, nossa expectativa é de produzirmos mais um milhão e meio de cartilhas e distribuir a todos os alunos da rede estadual. A ideia é que este material faça parte do pacote de metas preparado pela Secretaria de Educação para os próximos 11 anos", afirma o secretário Wilson Risolia, presente ao lançamento da cartilha. Já no Tribunal de Justiça, está sendo montada uma estrutura para que a publicação seja distribuída nas Varas de Infância e Juventude, criminais e onde haja casos em julgamento envolvendo o uso de entorpecentes.

Simon Symetris
    
Munteal: "Cartilha ajudará a orientar sobre os riscos que
  o fascínio ilusório das drogas exerce entre os jovens"
Oswaldo Munteal, que é também professor de história moderna e contemporânea da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), explica que em 34 páginas coloridas, com uma linguagem fácil e extremamente acessível ao público jovem, procura responder as dúvidas mais frequentes sobre o uso de drogas. "Falamos como se defender, como argumentar, quais as autoridades responsáveis, além de mapearmos, por macrorregiões, as áreas de maior e menor tráfico, assim como de maior consumo de drogas. Apresentamos também uma série de telefones e endereços úteis de instituições voltadas para tratamento de dependentes químicos em todo o estado", explica o historiador.

A cartilha explica, por exemplo, que um em cada três usuários de crack perde a vida no prazo de um ano, seja pelo uso em si, ou por envolvimento em brigas, crimes ou prestação de contas com traficantes. "Quem usa crack esquece hábitos de civilidade e passa a viver apenas para o consumo, esquecendo-se da própria higiene, da autoestima e da relação com o outro, ficando cada vez mais tempo nas chamadas crackolândias, locais sujos e abandonados onde os dependentes se reúnem para o consumo", explica Munteal. O pesquisador destaca outra droga de efeito ainda mais devastador que o crack: o oxi. Ambas as substâncias são produzidas a partir da pasta base de cocaína. "A diferença é que o oxi é misturado com solvente, o que o torna o seu efeito destrutivo ainda mais rápido, uma vez que o usuário acaba inalando restos da combustão de um solvente, amoníaco e ácido. Só isso já acaba com o sistema respiratório de qualquer um em questão de meses", afirma Munteal. Segundo Munteal, também merecem atenção os remédios inibidores de apetite, comumente usados para emagrecer. "Muita gente nem sabe que eles são droga e, por isso, só devem ser tomados se prescritos por médico e mesmo assim, de forma controlada. Se usados juntos com álcool ou em grandes quantidades, produzem euforia, agressividade, insônia, agitação, efeitos iguais aos da cocaína", complementa.

Bruno Itan 

            
        O Colégio Estadual Jornalista Tim Lopes, no Complexo do Alemão, 
      foi palco de lançamento da cartilha antidrogas voltada para os jovens

Diretora do Colégio Estadual Jornalista Tim Lopes, Maria Cristina Fernandes explica que a cartilha será incluída no planejamento educacional da instituição ainda este ano. "O tema drogas já é bastante discutido em nossas aulas, principalmente por estarmos numa comunidade ocupada pelo estado mas que, até o ano passado, era dominada por traficantes armados. Tenho certeza de que os alunos gostarão muito do material, que é dinâmico e de fácil compreensão", destaca Cristina. Já Flávia Lima, 15 anos, aluna do primeiro ano do Ensino Médio do colégio, sabe bem como a falta de conhecimento sobre entorpecentes pode prejudicar jovens como ela. "Na minha família, convivo com um usuário e muitas vezes quero ajudá-lo, mas fico triste por não saber como. Com este material terei mais conteúdo para aconselhá-lo", acrescenta a estudante.

Por último, Munteal destaca a importância da cartilha como material de apoio às ações de saúde, educação e segurança na cidade. Para ele, a disseminação do material entre os jovens estudantes de escolas públicas do estado, junto com a política de ocupação de comunidades através da instalação de Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) pode ser de enorme valia. "Apesar do sucesso das UPPs até o momento, a simples ocupação por forças policiais não é suficiente para que o projeto tenha vida longa. Precisamos implantar também nessas comunidades serviços sociais, projetos de resgate da cidadania e dignidade. E a cartilha pode servir para orientar os jovens sobre os riscos do fascínio ilusório que a droga exerce, mesmo que várias comunidades estejam agora distantes do domínio territorial de traficantes", afirma o pesquisador. "Além da cartilha, até o final deste ano lançaremos um vídeo educativo sobre o assunto, desenvolvido sob a coordenação da minha colega e professora da Facha, Maria Paulina Gomes", complementa.

                                                                                                                                                *com colaboração de Marcelle Colbert

Leia mais:

- Quando a dependência química gera violência (arquivo em formato PDF)

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