Débora Motta
Classificada como uma doença negligenciada, por estar frequentemente associada à pobreza, a tuberculose ainda representa um desafio para a saúde pública. O estado do Rio de Janeiro apresenta a maior taxa de incidência da doença no País (71,8 casos por 100 mil habitantes), de acordo com o Ministério da Saúde. “A elevada taxa de abandono do tratamento, que resulta na criação de bactérias mais resistentes; a demora no diagnóstico e baixa efetividade dos programas de controle são alguns dos fatores que justificam a alta incidência da doença no estado", explica o engenheiro elétrico e matemático José Manoel de Seixas, que também é professor da Coppe/UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ele destaca outros fatores que contribuem para esse quadro. "Os meios de comunicação não priorizam a divulgação sobre a prevenção da doença, mantendo a população, em todos os níveis socioeconômicos, desinformada. Além disso, as más condições de moradia nas comunidades, onde muitas pessoas compartilham o mesmo espaço em pequenos domicílios, também favorecem a transmissão da doença pelo ar”, completa.
Para tentar conter a doença, Seixas coordena um projeto que coloca a tecnologia da informação a serviço do diagnóstico da tuberculose pulmonar. Segundo ele, o objetivo é ir além da proposta do Ministério da Saúde de priorizar apenas a identificação de pessoas com tosse de duração superior a três semanas, que têm demonstrado baixa sensibilidade na detecção da doença (60%) e baixa especificidade – expressões utilizadas para mensurar a identificação do paciente sem tuberculose –, de 50%. A iniciativa, contemplada pela FAPERJ com o edital de Apoio às Engenharias, resultou na criação do Sistema Neural TB. “O software é uma ferramenta de apoio aos médicos e demais profissionais da saúde para tornar o diagnóstico da tuberculose mais rápido e eficiente”, resume Seixas.
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Sistema Neural TB indica os riscos do paciente estar com tuberculose, de acordo com as cores do semáforo. Os sintomas são levados em conta |
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Informações sobre os sintomas são armazenadas no sistema, em consulta |
Para avaliar os impactos da aplicação do sistema como aliado no diagnóstico da tuberculose pulmonar em hospitais da rede pública, a tecnologia vem sendo testada em nove sítios (hospitais e postos de saúde), em seis estados do País (Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, e Ceará), com apoio do Ministério da Saúde. “Em cada sítio, estamos avaliando a eficiência do sistema e o tempo estimado do início do tratamento adequado aos pacientes, em um projeto que conta com a participação de profissionais de diversas formações, entre médicos, enfermeiros, técnicos, economistas, engenheiros e analistas de sistemas”, conta Seixas.
Só no Rio, o sistema está sendo testado na Policlínica de Guadalupe, no Posto de Saúde do Santo Cristo, no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) e no Hospital Geral da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro – neste, o sistema é empregado para o diagnóstico da tuberculose pleural. Em Guadalupe, uma aplicação interessante do sistema é o monitoramento dos pacientes, para tentar reverter casos de abandono do tratamento. “A partir do banco de dados, é possível ver se o paciente está indo ao posto de saúde na data certa para receber os medicamentos ou se ele abandonou o tratamento completo, que leva em média seis meses. Uma busca ativa, com visitas domiciliares, é feita para trazer de volta os pacientes ao tratamento, com êxito de 100%”, conta.
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Seixas (no centro) e parte da equipe, na Coppe: o projeto conta com profissionais e estudantes de diferentes áreas |
Ao lado do professor José Manoel de Seixas, participam do projeto o professor Basílio Bragança Pereira, da Coppe/UFRJ e do Programa Acadêmico de Tuberculose da Faculdade de Medicina-HU/UFRJ; o médico e professor Afrânio Kritski; e a estatística Alcione Miranda, que foi aluna da UFRJ e atualmente é professora da Universidade Federal do Maranhão. O projeto tem o apoio da FAPERJ e conta ainda com o suporte da ONG Management of Science for Health (MSH) e do Ministério da Saúde, havendo também participação das empresas Nemesys, Twist e a Finscore – as três criadas por ex-alunos da Coppe. O projeto envolve diversos estudantes de medicina e engenharia, nos níveis de pós-graduação e graduação, bem como alunos de ensino médio do Colégio de Aplicação da universidade (Cap-UFRJ), que participam de um programa de iniciação científica júnior apoiado pelo CNPq.
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