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Do tomate, nada se perde: de cascas e sementes (E), se
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No caso do Rio de Janeiro, o estado conta com grandes regiões produtoras de tomate, um dos motivos que levou a pesquisadora a focar neles seu trabalho. "Além de exigir destino adequado e investimentos significativos em tratamentos para controlar a poluição, os resíduos industriais também representam perda de matérias-primas e energia. As sementes e cascas de tomate, por exemplo, significam um material ainda rico em licopeno e outros compostos bioativos. Em outras palavras, seriam ainda substâncias nobres para a indústria, que deixam de ser aproveitadas, ou são subaproveitadas, como ração animal. Por isso, queremos promover uma integração de interesses", explica a pesquisadora, que em seu projeto contou com recursos do edital de Apoio ao Desenvolvimento Regional, da FAPERJ.
O licopeno, como se sabe, é um carotenoide, a substância que confere o tom avermelhado não só ao tomate, mas a outros frutos, como melancia, pitanga e goiaba. Potente antioxidante, ajuda a impedir e reparar os danos às células causados pelos radicais livres. "Queremos partir para a produção limpa, com o reaproveitamento dos rejeitos e sem qualquer sobra de resíduos", fala a pesquisadora. Para isso, seu grupo de pesquisa na UFRRJ – Marisa Fernandes Mendes e Luiz Augusto da Cruz Meleiro, ambos docentes do Departamento de Engenharia Química da UFRRJ; e as alunas Barbara Avancini Teixeira, bolsista de Iniciação Científica da FAPERJ; e a doutoranda Maria Rosa Figueiredo Nascimento – procura responder várias perguntas: uma delas é sobre a composição desses resíduos e a concentração de compostos bioativos que contém; outra é como extraí-los de modo a maximizar seu aproveitamento; e ainda uma terceira questão é sobre suas possibilidades de uso.
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A equipe da UFRRJ: Bárbara Avancini, Marisa Mendes, |
De tonalidade vermelho intenso – que pode indicar que mantém um grande teor de licopeno e, por conseguinte, um bom potencial antioxidante – o óleo extraído está sendo analisado de várias formas. "Ainda temos dúvidas se ele é seguro para o consumo humano e se poderia ser empregado novamente na produção de alimentos. Estamos fazendo estudos nessa área", destaca Cristiane. Por enquanto, a equipe se empenha em responder a essas perguntas, analisando o teor dos óleos extraídos, a composição em ácidos graxos e se eles são mais ou menos insaturados. "Mas uma boa indicação é a indústria cosmética. Como o licopeno é um dos carotenoides com maior potencial antioxidante, possivelmente poderá ser usado em cremes e produtos do gênero", avalia.
A pesquisadora acrescenta ainda que, ambientalmente falando, outra vantagem da técnica de extração por fluido supercrítico é não gerar resíduo. A explicação é simples: após a extração do óleo, sobra uma borra, que pode ser seca e empregada como ingrediente para novos produtos, como biscoitos. "Com o uso da borra, que além de ser rica em licopeno ainda contém maior teor de fibras do que a farinha de trigo comum, temos benefícios adicionais. Podemos misturá-la à farinha de trigo e preparar biscoitos que também são ricos em licopeno. Ou seja, transformamos o que seria descartado em produtos mais saudáveis", anima-se a pesquisadora.
"Além disso, como na extração supercrítica não há a utilização de solventes orgânicos, os problemas associados ao uso e à recuperação e descarte deste tipo de solvente não existe, já que o CO2 é totalmente recuperado na forma de gás pela simples despressurização do sistema, tornando o processo ambientalmente correto", comenta Luiz Meleiro.
Para ver se, além de saudáveis, os biscoitos passam no teste de aceitação, a equipe os submeteu a análises sensoriais. "Entre os que participaram da amostragem, voluntários da universidade, muitos não perceberam diferenças. Alguns poucos notaram um leve gosto, o que também não foi visto como ponto negativo", comenta. Para a pesquisadora, igualmente importante é o fato de que, com a utilização da borra, dos resíduos iniciais, termina não sobrando nada. "Aliando a engenharia química à engenharia de alimentos, estamos obtendo grandes progressos. Além de evitar o descarte inadequado, o que seria jogado fora passa a ser matéria-prima para produtos mais saudáveis. É o descarte zero produzindo novos produtos a custo praticamente zero com uso de tecnologia limpa", conclui Cristiane.
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