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Publicado em: 26/08/2002 | Atualizado em: 29/03/2022
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Pesquisador descobre a casa de Lima Barreto

Pesquisador descobre a casa de Lima Barreto

Ao iniciar pesquisa sobre a obra do escritor Lima Barreto para sua tese de Mestrado em Literatura Brasileira, na UERJ, o professor André Luiz dos Santos tinha como proposta mostrar a influência do espaço da casa nos textos do escritor, que nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881. Entretanto, André Luiz, 29 anos, conseguiu bem mais do que isso. Durante a pesquisa, descobriu o sítio, na Ilha do Governador, onde o autor de “Triste Fim de Policarpo Quaresma” morou dos nove aos 21 anos. Até então, não havia nenhum registro do imóvel, que passou por reformas e fica dentro do Parque de Material Bélico da Aeronáutica (PAMB).

A figura da casa sempre teve uma presença marcante na obra de Lima Barreto que, em romances, contos, artigos e crônicas, publicados em livros e periódicos, retratou os costumes e o Rio de Janeiro do fim do século XIX. As constantes trocas de moradia podem ter contribuído para isso. Até mudar-se para o Sítio do Carico, na Ilha do Governador, o menino Afonso Henriques de Lima Barreto já tinha passado por outras sete casas. Nascido na Rua Ipiranga, em Laranjeiras, Lima Barreto morou, ainda, no Flamengo, Centro, Boca do Mato, Catumbi, Santa Teresa e, novamente, no Centro, antes de chegar à ilha.

O ambiente tranqüilo da Ilha do Governador, que na passagem para o século XX ainda era uma área rural, produtora de lenha, cal, frutas e vegetais, ficou registrado em alguns dos 17 livros de Lima Barreto. O escritor citava o bairro em crônicas e utilizava as peculiaridades locais em sua obra ficcional. “Ele emprestou as características das casas para romances como ‘Recordações do escrivão Isaías Caminha’ e ‘Triste fim de Policarpo Quaresma’”, explica André Luiz, que também mora na Ilha.

A Descoberta

Descobrir a casa onde Lima Barreto viveu parte da infância e a adolescência não foi tarefa simples. A partir de mapas do Arquivo Geral da Cidade datados de 1906, André Luiz conseguiu identificar onde ficava o Morro do Carico. “As indicações eram de que a casa ficava na encosta, onde hoje está instalado o Parque de Material Bélico”, conta o professor, cuja pesquisa foi apoiada pela FAPERJ. Depois de muito insistir com o comando do PAMB, em 1998, André Luiz conseguiu permissão para entrar no local. “Tive certeza da descoberta ao comparar a vista da casa com a foto publicada na contra-capa de “Marginália”, volume de artigos e crônicas editado em 1956. Apesar das reformas feitas na parte externa, as árvores ao redor da casa, o pântano e o riacho que passa no terreno não deixam dúvidas sobre a origem do imóvel.”

O Sítio do Carico, como era chamada a propriedade, foi citado em crônicas como “Homem ou boi de canga?”, publicada no periódico ABC, em 29 de maio de 1920; e em “O Estrêla”, publicada quatro anos antes, no Almanaque D’A Noite. Em “Triste fim de Policarpo Quaresma”, o Carico era chamado de Sítio do Sossego. Impressionada com o achado, a atual diretoria do PAMB resolveu inaugurar no local uma placa alusiva.

Feita a descoberta, o atual desafio do pesquisador André Luiz é conseguir o tombamento da construção número 32 da Rua Major Mascarenhas, em Todos os Santos, onde o escritor morou até morrer, em 1922. Antes, Lima Barreto morou na Rua 24 de Maio, no Engenho Novo; e na Rua Boa Vista 76, hoje Rua Elisa de Albuquerque, também em Todos os Santos. Esta última ficou conhecida no local como a casa do louco, devido aos gritos do pai, João Henriques de Lima Barreto, que em 1902 enlouquecera. “A Casa do Louco” dá título à tese de André Luiz.

Vida marcada por dificuldades

Segundo dos cinco filhos de uma família pobre - o irmão mais velho morreu ainda recém-nascido - Afonso Henriques de Lima Barreto teve a vida marcada por revezes. A biografia do autor de “Clara dos Anjos” conquistou o professor André Luiz dos Santos. “Sempre pensei em escrever sobre um autor que tivesse dificuldades para fazer seu trabalho”, explica.

E não foram poucas as agruras enfrentadas pelo escritor. Logo aos seis anos, Lima Barreto perdeu a mãe, Amália Augusto Barreto, com quem começara a estudar. A dor da ausência da mãe está registrada no “Diário Íntimo”, publicado em 1953, 31 anos após sua morte. No livro, Lima Barreto conta que entregava a pequena mesada que recebia do pai a uma mendiga da Rua do Resende, de quem recebia colo e carinho.

Lima Barreto

Aluno do Liceu Popular Niteroiense, Lima Barreto bacharelou-se em Ciências e Letras, cujo curso foi custeado pelo Visconde de Ouro Preto, seu padrinho. O escritor chegou a iniciar o curso de Engenharia na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, mas em 1902, a doença do pai, que enlouqueceu, impediu que ele continuasse os estudos, pois tinha que ajudar a sustentar os três irmãos mais novos.

No ano seguinte, Lima Barreto começou a trabalhar na Diretoria de Expediente da Secretaria da Guerra. Paralelamente, passou a colaborar em diversos jornais e periódicos cariocas. Em 1905, atuou como jornalista profissional no Correio da Manhã. Quatro anos mais tarde, seu primeiro romance, “Recordações do escrivão Isaías Caminha”, foi lançado em Lisboa. Apesar da atuação na imprensa, o escritor nunca conseguiu independência finan- ceira. Acumulou dívidas para editar sua obra e sempre teve dificuldades para sustentar a família. Mulato, teve de enfrentar, ainda, a discriminação racial.

Lima Barreto foi derrotado duas vezes nas eleições para a Academia Brasileira de Letras. Inscrito pela terceira vez, acabou desistindo. Nos últimos anos de vida levava uma vida boêmia e lutava contra problemas de saúde. Em 1914, for internado em um hospício. Dois anos depois, doente, foi obrigado a interromper, por alguns meses, suas atividades profissionais e literárias. Em 1918 aposentou-se por invalidez e, em 1º de novembro de 1922, morreu de colapso cardíaco.

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