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Publicado em: 06/08/2015
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Tecnologia digital: uso ou abuso?

Vilma Homero

O uso obsessivo do celular leva, cada vez mais,
as pessoas
 a trocarem a vida real pela virtual
(Fotos: Instituto Delete)

Com que frequência você ignora amigos que estão do seu lado no mundo real para se comunicar pelo celular? Ou com que frequência você se sente rejeitado quando percebe que alguém leu e não respondeu de imediato suas mensagens? Os exemplos se multiplicam. É a moça que tira mais de dez selfies até ficar satisfeita com sua imagem na foto; o indivíduo que admite já ter batido o carro porque estava lendo mensagens no celular; sem contar aqueles que confessam a falta de concentração no trabalho ou nos estudos pelo desejo constante de checar mensagens nas redes sociais. Em certos casos extremos, ser privado da Internet e de seus aplicativos pode até desencadear sinais como respiração ofegante, batimentos mais rápidos do coração, suores e tremores. Ou seja, sintomas típicos de uma crise de abstinência. Se todo esse aparato digital se tornou comum no cotidiano contemporâneo, também pode indicar uma nova fonte de ansiedade e angústia social. Sim, as novas tecnologias também já criaram dependentes, aqueles para quem o uso compulsivo passou a ser praticamente uma necessidade.

Numa sociedade conectada como a atual, os exemplos se repetem e as pessoas parecem cada vez mais estar trocando as atividades da vida real pelo mundo virtual. O que, às vezes, parece apenas um uso exagerado do celular e das redes sociais pode estar agravando alguns sintomas de transtornos psicológicos. É o que a psicóloga Anna Lucia Spear King tem observado, com frequência cada vez maior, nos casos que chegam ao Instituto Delete-Detox Digital e Uso Consciente de Tecnologi@s. Criado e dirigido por ela desde 2013, trata-se de um centro pioneiro no Brasil, especializado na avaliação e tratamento médico e psicológico gratuitos para usuários abusivos e dependentes digitais, que funciona no Instituto de Psiquiatria (Ipub), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Aliás, a dependência por todo esse aparato digital até já ganhou um nome específico: nomofobia. “O termo teve origem na Inglaterra a partir da expressão ‘no-mobile’, ou ‘sem celular’. A essa expressão uniu-se a palavra grega ‘fobos’, que significa fobia, medo. Nomofobia designa o desconforto ou a angústia causados pelo medo de ficar incomunicável ou pela impossibilidade de comunicação pelo telefone celular, computador ou por estar desconectado da Internet, por estar off-line”, explica Anna. 

A dependência digital ganhou um nome
específico na Inglaterra: é a nomofobia  

Não é de surpreender, portanto, que seja crescente o número de pessoas que chegam ao Instituto Delete em busca de ajuda. Para Anna Lucia, essas pessoas já deram o primeiro passo: admitiram a própria dependência digital e procuraram tratamento. Mas a questão mais importante, para a psicóloga, é procurar entender se essa dependência da tecnologia se deve pura e simplesmente a um uso abusivo ou se envolve transtornos pré-existentes, sejam fobia social, pânico ou depressão. “Um comportamento abusivo do uso de redes sociais ou do celular pode estar acentuando o comportamento de alguém, que, por exemplo, apresente fobia social. Neste caso, ele pode estar trocando a ansiedade de manter relacionamentos pessoais pelos amigos que faz na rede. Ou acentuando o pânico de sair de casa, mantendo-se o tempo todo conectado, diante do computador”, explica. 

O fato é que as novas tecnologias, de certa forma, facilitaram e acentuaram certos comportamentos abusivos. Para alguém compulsivo, por exemplo, fazer compras na Internet ou jogar on-line pode transformar-se num vício. “Portanto, ao perceber que isso está levando a um comprometimento de sua vida pessoal, social, profissional ou familiar, deve-se buscar avaliação e orientação”, diz a psicóloga. Por isso mesmo, quem chega ao instituto é submetido a testes com um psicólogo e passa por uma avaliação psiquiátrica para ver se esse uso exagerado está sendo “normal”, ou seja, apenas por lazer ou trabalho, ou se é patológico, se está relacionado a algum transtorno pré-existente, que possa estar contribuindo para intensificar esse uso exagerado.

“A partir do diagnóstico, o tratamento é direcionado para esse transtorno primário, o que pode envolver ou não o uso de algum medicamento. O indivíduo é encaminhado para sessões de terapia cognitivo-comportamental para procurar entender o que está acontecendo com ele, mudar o comportamento abusivo e aprender a criar estratégias para lidar com a dependência”, esclarece a psicóloga. Ela acrescenta que, em ambos os casos, normal ou patológico, o dependente recebe orientação para o uso consciente das tecnologias.

No Delete, foram criados 10 passos, como um modo de procurar evitar que celulares e outras tecnologias se tornem objeto de dependência no cotidiano. “Elaboramos uma cartilha digital para que as crianças aprendam, desde cedo, a dosar esse uso no dia a dia, e ainda apresentamos regras de uma etiqueta digital para que o abuso da tecnologia em sociedade não comprometa nem interfira nas relações sociais”, fala. Ela diz que no Delete, os profissionais até informam sobre o descarte e a reciclagem do lixo eletrônico, o E-Lixo, para a preservação do meio ambiente”, explica Anna.

No Instituto Delete-Detox Digital e Uso Consciente de Tecnologi@s, tudo é gratuito. As triagens acontecem às sextas-feiras, de 8h às 10h30, no Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Cipe-Antigo – Av. Venceslau Brás, 71, Botafogo). Pode-se fazer contato por meio do endereço www.institutodelete.com ou www.grupodelete.com, ou ainda, procurando, no Facebook, Delete-Desintoxicação de Tecnologias. Pode-se também enviar e-mail para grupodelete@gmail.com.   

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