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Publicado em: 16/04/2020 | Atualizado em: 23/04/2020
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O cuidado com a saúde mental em tempos de pandemia

Juliana Passos

Psiquiatra avalia que manter uma rotina de
estudo, trabalho, lazer e exercícios é 
importante
para afastar ansiedade e pânico 
(Imagem: Freepik)

Em períodos de crise e incertezas, muitos têm dificuldade de desviar de pensamentos pessimistas, mesmo aqueles que costumam manter o bom astral. A pandemia provocada pelo coronavírus e a necessidade de confinamento trouxe uma enormidade de dúvidas, que levarão tempo para serem respondidas, sem que as necessidades cotidianas deixem de existir. Com o propósito de jogar um pouco de luz nesse processo de convívio com as incertezas, de crise econômica e confinamento, o Boletim FAPERJ conversou com o psiquiatra e professor titular na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Antonio Egidio Nardi. O médico realiza pesquisas com ênfase no diagnóstico e tratamento de transtornos de ansiedade, pânico, bipolaridade e depressão. O professor também tem se dedicado a investigar o impacto das doenças respiratórias – asma e bronquite – com a ansiedade e pânico. Nardi é membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Academia Nacional de Medicina (ANM). Contemplado no programa Cientista do Nosso Estado da FAPERJ, recebe apoio para suas pesquisas. Em anos recentes, teve igualmente projetos de pesquisa selecionados nos editais “Programa Redes de Pesquisa em Nanotecnologia no Estado do Rio de Janeiro” e “Programa Apoio à Pesquisa Clínica em Hospitais de Ensino e Pesquisa Sediados no Estado do Rio de Janeiro”.

Boletim FAPERJ: O que fazer para manter a mente em equilíbrio nesse período de quarentena?
Antônio Egídio Nardi: Em primeiro lugar, gostaria de lembrar que a saúde mental é importante sempre. Sem saúde mental não há saúde. E é fundamental atentarmos para a isso. Nesse momento, vivemos uma grande crise mundial, seja pelo risco de contrairmos um vírus que provoca uma doença grave ou que entes queridos o contraiam, seja porque há uma crise econômica e uma avalanche de notícias que nos abalam. Esse período de incertezas e de crise em si, já é um fator que afeta bastante a saúde mental. E tudo isso agravado pela necessidade de confinamento. No entanto, acredito, sendo otimista, que vamos sair mais fortes dessa crise e que iremos valorizar mais a ciência, a educação em relação à saúde, e a necessidade de um melhor planejamento para enfrentar crises futuras. Não saber o que vai acontecer amanhã gera ansiedade. Por isso, falei que estamos atravessando um momento de crise, preocupados com a saúde dos mais próximos, da sociedade. Terei emprego? Quando a vida vai voltar ao normal? Não havendo uma forma de ficar totalmente relaxado em relação a isso, devemos viver o hoje e organizar uma rotina para afastar os pensamentos negativos, reduzindo a ansiedade. Mesmo em confinamento, fazer atividade física regular é muito importante para a saúde mental. Essa também é a hora de ler aqueles livros na estante que aguardavam um período especial para serem lidos, além de manter a rotina de trabalho e estudo. Outra coisa é a alimentação regrada. Assim como o álcool, que sempre deve ser usado com moderação, já que seu consumo também pode potencializar a depressão. Também é fundamental falar de assuntos diferentes que não seja o coronavírus. Há uma enxurrada de informações sobre o tema e isso acaba aumentando a ansiedade, a hipocondria. 

Como lidar com a solidão?
Uma ficha que caiu durante esta quarentena para mim é a quantidade de amigos que tenho que moram sozinhos. E ligar para os amigos que moram sozinhos, dar uma atenção para quem mora sozinho, é muito importante. E a solidão é um fator de risco para transtorno de ansiedade e para depressão. Aqui vale lembrar a diferença entre tristeza e depressão. As pessoas ficam tristes porque não encontram os amigos, porque festas e velórios que não são realizados, e porque também não podemos dar suporte a pessoas que estão sofrendo, avós que não podem ver os netos, por exemplo. Ficar triste em determinados momentos é algo normal. É uma tristeza por estarmos com nossa liberdade limitada. Já a depressão é desvalia pela vida, com vários sintomas, como alteração de perda de apetite e de sono, cansaço extremo, pessimismo, perda do prazer no cotidiano, e algo que se intensifica ao longo dos dias. As chances de desenvolver depressão nesse período são maiores e é importante procurar tratamento caso isso se manifeste.

Antonio Nardi: para o médico, crise
deve ajudar a valorizar 
a ciência e a
educação em saúde 
(Foto: Arquivo pessoal)

As pessoas que fazem tratamento psiquiátrico e psicológico não devem interromper o trabalho. E para aqueles que não estiverem se sentindo bem, é preciso procurar atendimento, que em geral está sendo feito online, mas que em alguns casos pode haver a necessidade de serem presenciais. Em casos mais drásticos, poderá haver tentativas de suicídio, e sobre este tema falei em um artigo específico para a revista Rio Pesquisa. É importante lembrar que ninguém deve se automedicar e que é preciso procurar tratamento com um profissional.

Como lidar com o convívio entre os moradores da casa?
O confinamento em casa por um longo período, mesmo nos casos em que os familiares tenham um bom convívio, é um fator desgastante. A convivência intensa pode gerar estresse e é preciso saber dividir os momentos juntos, como nas refeições, exercícios físicos ou nas horas de lazer, assistindo a um filme. Mas é importante ter momentos de recolhimento e atividades mais individuais e de reflexão sobre a vida. Um esforço para evitar conflitos por pequenas coisas também é necessário, porque eles costumam se acumular e em algum momento isso pode explodir.

Como conciliar conflitos? Como conciliar visões diferentes sobre a quarentena?
Ter opiniões diferentes faz parte da democracia familiar. Se todo mundo pensasse igual, a mundo seria chato. Já quando há uma questão médico científica, as pessoas devem se basear em dados. Posso ter opinião religiosa, esportiva, diferente na sua, mas ciência é uma atividade realizada por especialistas, e mesmo as pessoas com opiniões diferentes, devem se basear em dados objetivos e testados. Então não é uma questão de opinião, mas é uma questão científica de que o confinamento diminui a velocidade de infecção e isso achata a curva, como têm explicado seguidamente os pesquisadores. É fundamental seguir orientações das sociedades médicas, sites universitários, da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Academia Nacional de Medicina (ANM), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entre outros.

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