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Publicado em: 29/07/2020 | Atualizado em: 30/07/2020
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Um olhar sobre os transtornos alimentares em tempos de quarentena

Débora Motta

Transtornos alimentares como compulsão alimentar, anorexia
e bulimia se tornam desafiadores na pandemia
 (Foto: iStock)

A mudança brusca na rotina e o estresse diante da pandemia causada pelo novo coronavírus, que vem deixando boa parte da população de diversos países em necessário isolamento social, têm como consequências o agravamento de distúrbios psicológicos e, consequentemente, dos transtornos alimentares, como a compulsão alimentar, a anorexia e a bulimia. “Estamos vivendo uma situação absolutamente inesperada na história da humanidade. O medo do contágio, da morte, o desemprego, o aumento da sensação de desamparo, a ansiedade e a tristeza relacionadas ao isolamento social, a dificuldade de conciliar as atividades domésticas e as demandas familiares com as exigências do home office e a perda de um cotidiano estruturado já impactam o emocional de todos. Para quem sofre de transtornos alimentares, então, tudo fica mais exacerbado”, analisou a psicanalista Cristiane Marques Seixas, professora do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Cultura e Alimentação (Nectar).

Contemplada pela FAPERJ no programa Apoio à Pesquisa Básica (APQ 1), com o tema “Obesidade e transtornos alimentares: interfaces entre o campo da Alimentação e Nutrição e as abordagens psicológicas e psicanalíticas”, ela vem desenvolvendo estudos na área há mais de 20 anos. “Nesse projeto de pesquisa, o objetivo é compreender aspectos conceituais interdisciplinares do campo da Alimentação e Nutrição, identificando e discutindo como se dá a incorporação de saberes oriundos da Psicologia e da Psicanálise na formação e na prática do nutricionista, para o tratamento de pacientes com transtornos alimentares e obesidade”, contou. 

A psicanalista contextualizou que os transtornos alimentares não necessariamente estão associados a quadros de depressão, mas se tornam mais grave para esse grupo de pacientes. “Os transtornos alimentares podem ser decorrentes da depressão ou ela pode surgir como um sintoma secundário ao transtorno alimentar. De qualquer modo, o sentimento de desamparo, que vem aumentando durante a pandemia, dificulta o tratamento de pessoas com compulsão alimentar, anorexia e bulimia”, disse Cristiane, que também é professora do Programa de Pós-graduação em Psicanálise e do Programa de Pós-graduação em Alimentação, Nutrição e Saúde, ambos da Uerj.

Cristiane: a psicanalista, pesquisadora da área de Nutrição, destaca a necessidade de aliar a Psicologia à Nutrição (Foto: Divulgação/Uerj)

O transtorno alimentar mais comum é a compulsão alimentar, relacionada ao sobrepeso e, muitas vezes, à obesidade. Esta, por sua vez, é um dos fatores de risco para o agravamento da Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus), levando à necessidade de hospitalização, assim como outras condições de risco associadas, como diabetes e hipertensão. Isso significa dizer que, em pacientes obesos, as chances são aumentadas de a infecção se desenvolver rapidamente para a síndrome respiratória aguda grave, insuficiência respiratória aguda e outras complicações. É o que afirmam estudos realizados por pesquisadores ao redor do mundo, como na Universidade de Lille, na França, e na NYU Grossman School of Medicine, nos Estados Unidos. “O excesso de peso na população já era uma questão de saúde pública importante antes da chegada do novo coronavírus. Durante essa quarentena, houve uma redução drástica da prática de exercício físico, e mesmo da realização de atividades simples cotidianas, como caminhar até o ponto de ônibus. Com o isolamento social, nossas fontes de prazer ficaram muito reduzidas, e a comida acaba tendo essa função de trazer alguma satisfação, de acalmar. O ato de comer está muito relacionado à questão psicológica, com elementos sociais e culturais”, ponderou.

De acordo com a psicanalista, outros transtornos alimentares como anorexia e bulimia, apesar de não estarem listados entre os fatores de risco para agravamento da Covid-19, também podem tornar a infecção pelo novo coronavírus mais grave. “Não temos ainda dados de pesquisas abrangentes para comprovar, mas pela experiência clínica podemos inferir que as pessoas com transtornos alimentares como anorexia e bulimia, especialmente nos casos mais graves, são mais frágeis pela própria condição metabólica, o que pode agravar possíveis infecções decorrentes da Covid-19”, avaliou.

Vale lembrar que a anorexia é acima de tudo, um distúrbio de imagem corporal. Além de recusar a alimentação, a pessoa anoréxica pode acabar exagerando nos exercícios físicos e no uso de medicamentos laxantes e diuréticos, sempre com a intenção de perder peso. Já na bulimia, a pessoa oscila entre comer exageradamente, com um sentimento de perda de controle sobre a alimentação, e comportamentos compensatórios, como provocar vômitos ou abusar de laxantes tentando impedir o ganho de peso. “Em todos os transtornos alimentares, há em comum a sensação de falta de controle sobre a comida. De alguma forma, no íntimo, elas estão relacionadas à sensação de vazio, o que ficou mais nítido durante a pandemia, quando fomos privados de nossas fontes de prazer e sociabilidade”, disse. “Cada caso deve ser analisado individualmente de forma global, unindo a experiência da Psicologia com a Nutrição”, concluiu.

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