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Publicado em: 22/09/2020 | Atualizado em: 25/09/2020
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Kururubatrachus: uma rã da Era dos Dinossauros

Débora Motta

Reconstituição artística do Kururubatrachus
gondwanicus, a nova espécie de rã que
revela outro marco temporal na história
 evolutiva dos anfíbios 
(Arte: Gabriel Lio) 

Uma nova espécie de rã, que viveu há 119 milhões de anos, e foi descoberta nos arredores de Nova Olinda, município no Sul do Ceará, na Bacia do Araripe, abre novas perspectivas para a compreensão da história evolutiva dos anfíbios modernos. Batizada de Kururubatrachus gondwanicus (nome científico que significa “anfíbio cururu de Gondwana”, em alusão ao supercontinente que agrupava boa parte da massa terrestre do planeta na época), ela foi encontrada durante escavações geológicas realizadas por alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no local. O trabalho, realizado em parceria com pesquisadores de instituições de pesquisa da Argentina e do Ceará, resultou na recente publicação de um artigo no Journal of South American Earth Sciencesperiódico internacional do grupo Elsevier.

A pequena rã, com cerca de cinco centímetros de comprimento e um esqueleto bastante semelhante ao dos anfíbios de hoje, inclusive ao de espécies que vivem no interior do Nordeste, revela um novo marco temporal na linha evolutiva dos anfíbios. “Anteriormente, os estudos genéticos haviam estimado que anfíbios de características modernas como este teriam se originado há aproximadamente 66 milhões de anos, próximo do final da Era dos Dinossauros, no período geológico conhecido como Cretáceo Superior. Porém, o fóssil descoberto retrocede esta origem em 53 milhões de anos, o que o coloca no Cretáceo Inferior, no tempo Aptiano, em uma descoberta inesperada e que abre questões importantes acerca da evolução das espécies que vivem atualmente”, contextualizou o geólogo Ismar de Souza Carvalho, professor do Departamento de Geologia da UFRJ, que recebe apoio da FAPERJ para a realização de pesquisas por meio do programa Cientista do Nosso Estado.

Na época em que o Kururubatrachus viveu, os dinossauros já existiam e os mares eram habitados por répteis marinhos. As primeiras plantas com flores surgiam no planeta. Foi um momento de mudanças ambientais expressivas, em que se formava o Oceano Atlântico, a América do Sul e a África se separavam, e o clima do planeta se transformava de forma impactante. “O estudo desse fóssil ajuda a ter uma visão mais ampla dos sistemas ecológicos do passado da Terra, nesse momento de mudanças ambientais expressivas. Ele revela detalhes da vida que existiu no antigo continente de Gondwana, que reunia a América do Sul, África, Índia, Madagascar e Austrália, e aponta relações muito mais complexas nos processos de evolução e extinção da vida dos anfíbios”, explicou o geólogo.

Devido às características naturais do ambiente em que vivia o Kururubatrachus – como o carbonato de cálcio presente no lago e o clima quente e seco –, houve uma excepcional conservação do fóssil. “O fóssil está muito bem preservado e é possível observar detalhes do seu conteúdo estomacal, como restos dos insetos e outros pequenos animais ingeridos por ele. A anatomia do esqueleto indica que era uma espécie de rã saltadora, que pertencia ao ramo dos neobatráquios”, contou Souza Carvalho.    

Detalhes do esqueleto do fóssil, encontrado em
excelente estado de preservação na região de
Nova Olinda, no Ceará
(Foto: Divulgação)

Ele acredita que o Kururubatrachus pode ter morrido de forma repentina, em um evento motivado pelas mudanças ambientais da época, já que não há sinais de lesões em seu corpo. “Podemos especular como hipótese da morte a variação brusca da salinidade do lago onde ele estava, pois a região sofria secas severas”, ponderou. O geólogo explicou que a Bacia do Araripe naquele momento era um grande ambiente lacustre isolado no meio do Nordeste do Brasil, às vezes com água mais salina, às vezes mais doce, quando chovia. O clima era quente. “Ali no Araripe tivemos também o registro das primeiras ingressões do Oceano Atlântico, quando os continentes começaram a se afastar. ”

O pesquisador destaca que a descoberta é um novo marco para a Paleontologia brasileira e para o entendimento das transformações dos ecossistemas terrestres ao longo do tempo geológico. “Muita coisa na Paleontologia é contada a partir das informações produzidas no Hemisfério Norte. Agora, com essa descoberta no Brasil, a história evolutiva dos anfíbios nos coloca no cenário científico internacional”, comemora Souza Carvalho.

Participam da pesquisa, além de Souza Carvalho, os pesquisadores da Argentina Federico Agnolin e Fernando E. Novas, do Museu Argentino de Ciências Naturais ‘Bernardino Rivadavia’; Alexis M. Aranciaga Rolando, da Fundação de História Natural ‘Félix de Azara’, na Argentina; José Xavier-Neto, do Departamento de Morfologia da Universidade Federal do Ceará; José Artur Ferreira Gomes Andrade, da Agência Nacional de Mineração; e Francisco Idalécio Freitas, do Geopark Araripe.

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