Paula Guatimosim
Flores hermafroditas são preferidas porque produzem mamões ovalados e com mais polpa (Fotos e ilustração: MF Papaya). |
Segundo dados do Banco de Dados Estatísticos Corporativos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (Faostat), o Brasil é o segundo maior produtor de mamão do mundo, superado apenas pela Índia, e responsável pela produção de cerca de 1,7 milhão de toneladas por ano, o equivalente a 38% da produção mundial. O País é também o segundo maior exportador da fruta, depois do México. A espécie Carica papaya – popularmente conhecido como Papaya – é a mais apreciada no mercado externo, especialmente o europeu. Espírito Santo e Bahia são os estados responsáveis por 70% da área cultivada e da produção de mamão em território brasileiro. Além de liderar a produção, o Espírito Santo é o estado que obtém a maior produtividade na cultura, colhendo uma média de 54,5 toneladas por hectare.
Para auxiliar essa cultura a ser ainda mais competitiva e rentável, a empresa MF Papaya planeja oferecer o serviço de sexagem precoce em mamoeiro, utilizando ferramentas de Biologia Molecular. Para levar adiante essa iniciativa, a empresa elaborou o projeto “Sexagem Molecular Precoce em Mamoeiro: inovação tecnológica visando incremento de rendimento”, tendo sido um dos sete contemplados na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), em Campos dos Goytacazes, do total de 21 projetos aprovados no edital Doutor Empreendedor: Transformando Conhecimento em Inovação, lançado pela FAPERJ no final de 2019. O programa de fomento à pesquisa tem o objetivo de transformar os estudos realizados nas bancadas de laboratórios das instituições do Estado do Rio de Janeiro em produtos disponíveis para a sociedade, estimulando doutores a entrarem no mundo empresarial. Para tanto, a Fundação concede bolsa no valor de R$ 4,1 mil por 24 meses, auxílio de até R$ 50 mil para a execução do projeto e bolsa de Iniciação Tecnológica para um integrante da equipe.
A doutora em Genética e Melhoramento de Plantas, Fernanda Abreu Santana Arêdes, sócia da MF Papaya, explica que a proposta inovadora de sua equipe é substituir a sexagem tradicional do mamoeiro pela sexagem molecular, assim como fazem as grávidas quando querem saber antecipadamente o sexo do feto. O mamoeiro produz plantas femininas e hermafroditas. Para atender a preferência dos consumidores, os produtores de papaya cultivam apenas as plantas hermafroditas, que produzem um mamão de formato oval, que além de favorecer seu acondicionamento nas caixas, possuem mais polpa. No entanto, segundo Fernanda, para saber qual mamoeiro é hermafrodita, o produtor planta de três a quatro mudas por cova e espera de cinco a seis meses, até a planta florescer, pois só pela flor é possível saber quais são hermafroditas. Isso porque morfologicamente as plantas são idênticas e só se diferenciam quando emitem os botões florais.
No método tradicional de sexagem é preciso esperar até seis meses após a semeadura para fazer a seleção das plantas e o descarte das flores não hermafroditas, desperdiçando tempo, insumos, água e mão de obra. |
A geneticista explica que além do desperdício de tempo, na sexagem tradicional o produtor desperdiça insumos, água e mão de obra, e ainda precisa descartar pelo menos 67% das plantas para ter uma lavoura comercial com apenas plantas hermafroditas. Pela sexagem molecular, a MF Papaya irá analisar as plantas na fase de viveiro, a partir de um pequeno pedaço da primeira folha da muda do mamoeiro, que nasce antes do primeiro mês após a semeadura. O resultado é conhecido em apenas três horas, bem diferente do método tradicional, no qual é preciso esperar até o quinto ou sexto mês. A equipe, composta ainda por Marcela Santana Bastos Boechat e Filipe Brum Machado, sob orientação do professor da Uenf Messias Gonzaga Pereira, avaliou a eficácia da metodologia em 400 plantas e obteve sucesso de 100%. Segundo Fernanda, todas as plantas selecionadas precocemente foram plantadas e tiveram o sexo hermafrodita confirmado posteriormente, por meio do botão floral.
A empresa emergente espera conquistar tanto os produtores quanto as empresas que comercializam mudas, os chamados viveiristas. “Durante a fase de formação final do pomar, todos os produtores de mamão descartam pelo menos 67% das plantas por desconhecerem a de valor comercial. Caso os produtores e os viveiristas souberem o sexo da planta precocemente, o número de sementes usadas pode ser reduzido e haverá economia de insumos, fertilizantes, água e mão de obra, além de um aumento na produção devido à não competição entre as plantas”, explica Fernanda.
Um experimento realizado na Costa Rica verificou que este sistema de sexagem molecular no mamoeiro foi capaz de aumentar em 27% a produção por hectare. Já na Europa, esse aumento chega a 40%. Os testes para confirmar as vantagens desse método em ambiente nacional serão realizados na empresa Caliman, localizada em Linhares, município ao norte do Espírito Santo. Os testes são extremamente importantes para que a empresa possa mostrar o aumento da produção em ambiente nacional, já que essa técnica só é utilizada na Espanha, Costa Rica e México.
Fernanda espera ampliar o serviço de sexagem para outras culturas como o coco, cuja origem também precisa confirmação. |
Para realizarem a sexagem molecular na MF Papaya, os produtores recebem um cartão de coleta especialmente desenvolvido para o acondicionamento e envio das amostras de folhas. A empresa tem capacidade de analisar de 500 a 1.000 amostras por dia e um convênio com a Uenf poderá aumentar essa capacidade. O único concorrente da MF Papaya está localizado na Europa, numa província espanhola, e utiliza uma tecnologia mais cara. Os sócios esperam conquistar 2% do mercado mamoeiro no estado do Espírito Santo no primeiro ano de funcionamento da empresa, e, no segundo ano de existência, pretendem atingir 5% desse mercado.
A geneticista também planeja expandir o serviço de análise molecular para outras culturas, como por exemplo para o coqueiro, cultura na qual muitas vezes é necessário verificar a paternidade das mudas híbridas que o produtor adquiriu. As mudas híbridas são oriundas do cruzamento entre o coqueiro anão e o coqueiro gigante, o que resultaria em plantas de porte médio capazes de produzir tanto água quanto óleo de coco. No entanto, devido a problemas de cruzamentos genéticos, ocorre uma significativa proporção de plantas com estatura não desejada, prejudicando as lavouras de coqueiro. Por meio das análises moleculares, a MF Papaya também é capaz de realizar esse serviço permitindo ao produtor ter uniformidade na sua lavoura.
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