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Publicado em: 26/11/2020 | Atualizado em: 27/11/2020
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Tese premiada defende negociação entre formas de conhecimento

Juliana Passos

A tese discute a crise ecológica e a necessidade de pensá-la também a partir
de conhecimentos e práticas não ocidentais (Foto: Andre Sigaf/Pixabay)

Há oito anos, Alyne Costa se dedica a estudar, pela lente da Filosofia, as implicações das mudanças climáticas e do chamado colapso ecológico. Seu primeiro contato com o assunto, no entanto, não foi como pesquisadora. Com graduação em Comunicação Social, Alyne trabalhou por nove anos na área de Responsabilidade Social de grandes empresas de energia, período ao longo do qual constatou que, apesar do discurso “verde”, as indústrias nada ou muito pouco fazem para frear o aquecimento global; foi assim que decidiu mudar de carreira. Neste ano, a pesquisadora, que foi bolsista Doutorado Nota 10 pela FAPERJ, viu sua tese de doutorado “Cosmopolíticas da Terra: modos de existência e resistência no Antropoceno” vencer o Prêmio Capes de Tese na área de Filosofia. A cerimônia de premiação será realizada em dezembro.

Embora diversos estudos já mostrassem que a degradação ambiental e o desmatamento aumentam o risco de pandemias, Alyne diz ter ficado assustada quando a pandemia do novo coronavírus eclodiu, confirmando as previsões. “Passo muito tempo lendo e pensando na catástrofe ecológica, mas nada disso me preparou para um evento como esse. Claro, sabemos muito bem que o atual modelo de desenvolvimento econômico e de agricultura não podia dar em coisa boa, então essa pandemia não chega ser uma surpresa; mas quando ela efetivamente se instala, percebemos que não estamos preparados para lidar. Dizer ‘eu avisei’ não serve de consolo”, reflete.

O trabalho foi orientado por Déborah Danowski, professora do Departamento de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) que criou a linha de pesquisa “Filosofia e a Questão Ambiental” e que, em 2014, lançou o livro “Há mundo por vir?” em co-autoria com Eduardo Viveiros de Castro, professor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ). Tanto o livro quanto a tese premiada discutem a necessidade de repensar a relação entre seres humanos, natureza e conhecimento científico, trazendo também reflexões pautadas nas mudanças climáticas.

Para Alyne Costa, cientistas precisam promover o 
engajamento social para a defesa do combate às
mudanças climáticas (Foto: Ana Maria Rodrigues)

Nesse sentido, Alyne defende em sua tese que, no Antropoceno, era geológica em que as ações humanas têm grande impacto sobre o ecossistema, não podemos mais pensar os seres humanos como os únicos dotados de intencionalidade e capacidade de agir. Aqueles seres que antes considerávamos meros recursos naturais devem ser pensados, agora, como atores políticos com quem precisamos aprender a compor para evitar que seus poderes se tornem destrutivos. “Não podemos mais ver a natureza como um cenário inerte. Pense por exemplo no coronavírus ou no dióxido de carbono: a maneira como eles vêm se comportando tem causado mudanças profundas em nosso modo de vida, o que permite dizer que eles vêm agindo sobre nós e exigindo transformações para que possamos melhor coexistir. A atual pandemia e as mudanças climáticas mostram que certos equilíbrios que tomávamos como garantidos podem se desfazer; então, em lugar de uma natureza que simplesmente está aí, precisamos reconhecer que o mundo é formado por um emaranhado de agências que demandam atenção e cuidado”, explica.

O reconhecimento desses agentes também pressupõe a admissão de uma maior diversidade de conhecimento e olhares sobre o mundo. "Cosmopolítica é um conceito da filósofa Isabelle Stengers, mas vem sendo usado de formas ligeiramente distintas por muitos autores. De uma forma geral, ele convida a pensar uma coexistência mais justa entre modos distintos de habitar e entender o mundo. Quando Davi Kopenawa [xamã yanomami] avisa, por exemplo, que a exploração de minérios na Floresta Amazônica pode fazer o céu cair, ele fala de seres que, existindo naquele mundo, não necessariamente existem ‘para nós, ocidentais’, quando falamos das mudanças climáticas; ainda assim, esses fenômenos e mundos se conectam de alguma forma. É preciso tratar esses outros mundos como legítimos e experimentar formas de convivência que respeitem e valorizem a diferença entre esses mundos e o nosso”, avalia.

A ideia de negociar os espaços de convivência, em vez de impor verdades que devem ser acatadas, é também a proposta da autora para que se possa recuperar a confiança nas instituições e também na ciência. Para Alyne, não conseguiremos frear os negacionismos que têm lugar atualmente apenas os denunciando como mentira: é preciso fazer da “verdade inconveniente” das mudanças climáticas uma causa pela qual as pessoas acreditem que vale a pena lutar.

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