Paul Jürgens
Estudo de sambaquis ganhou novos horizontes no final do século passado
Na segunda metade do século 20, a arqueologia brasileira foi marcada pelos princípios propostos pela pesquisadora americana Betty Meggers, pioneira da arqueologia amazônica. Os estudos sobre os sambaquis, de caráter descritivo, tinham como referência o determinismo ambiental, que buscava entender as mudanças observadas no registro arqueológico a partir de alterações ocorridas no ambiente, especialmente as variações do nível do mar. A tese vigente era de que povos indígenas viveriam sobre os sambaquis e os sítios arqueológicos eram o resultado do acúmulo de lixo. Só recentemente ganhou força a tese de que pelo menos alguns desses marcos presentes em nosso litoral são o resultado de rituais de povos que procuravam homenagear seus mortos.
“Até o anos 50 e 60 do século passado, era comum a utilização de material retirado de sambaquis na construção de casas e na pavimentação de estradas”, conta a pesquisadora. Como um expressivo número de sambaquis se encontra em áreas valorizadas, próximas ao litoral e, portanto, de interesse turístico, os arqueólogos vêm tendo um desafio a mais para garantir a preservação desses locais. “Não queremos trabalhar contra o desenvolvimento do país, seu progresso. Mas não podemos admitir que esses testemunhos sejam removidos para dar lugar a casas, ruas ou o que for”, diz Gaspar de Oliveira. “Está claro que há diversas maneiras de tratar esses vestígios arqueológicos, por exemplo, incorporando-os à nova paisagem que se forma à sua volta”, argumenta.
Gaspar de Oliveira, uma das 34 selecionadas na área de Ciência Humanas e Sociais Aplicadas do programa Cientista do Nosso Estado de 2002, afirma que o apoio da FAPERJ é fundamental para garantir o avanço da pesquisa. “Esse programa não impõe um planejamento prévio de destinação dos recursos pelo pesquisador”, explica. “Ele atende ao dinamismo que a pesquisa de sambaquis exige, com a eventual contratação de serviços, como um levantamento topográfico de uma determinada região”, constata. Ela conta que parte dos recursos são empregados, regularmente, na limpeza de microscópios e lupas.
No início do mês de setembro, em Campo Grande (MS), a pesquisadora participará da 13 Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira, no qual fará um balanço do andamento das pesquisas. Em 2006, ela desembarca em Lisboa para apresentar o trabalho em congresso naquele país. Paralelamente, Gaspar de Oliveira está reunindo toda a sua experiência em arqueologia no livro A Aventura Arqueológica, que deve ser publicado pela editora Jorge Zahar em data a ser definida.
A formação de novos pesquisadores na área da arqueologia ganha, a partir de 2006, um novo programa criado para capacitar os interessados no assunto. Em março do ano que vem, o Museu Nacional inaugura a primeira pós-graduação em Arqueologia no estado. Até o momento, apenas os estado de São Paulo e Pernambuco dispõem de instituições dotadas de especialização em nível de pós-graduação nessa área de pesquisa. Assim, até o início da próxima década, uma nova geração de pesquisadores promete dar à arqueologia nacional uma visibilidade internacional. Até lá, parte dos mistérios que cercam a construção dos sambaquis deverá estar esclarecida com a ajuda da rede de pesquisa que Gaspar de Oliveira ajudou a construir nos últimos anos.
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