Projeto cria suplemento de leite materno para prematuros

Marina Ramalho

Bebês prematuros estão prestes a ganhar um forte aliado na luta por sua sobrevida: em alguns meses, estará pronto para comercialização um suplemento de leite materno direcionado a recém-nascidos de muito baixo peso, ou seja, bebês com menos de 1,5kg. A composição do produto, elaborada pela Nutriente – empresa nacional, proveniente da Incubadora de Empresas da Fundação Bio-Rio –, foi definida para contemplar as carências nutricionais específicas do bebê prematuro, que não são integralmente atendidas pelo leite de sua mãe. O projeto foi viabilizado pelo edital Rio Inovação I, da FAPERJ.

Nascer antes do período previsto coloca o bebê pré-termo (prematuro) em grande risco nutricional, já que seu desenvolvimento é interrompido na fase de maior velocidade. “O organismo da mãe do prematuro chega a apresentar um certo grau de adaptação às características especiais do bebê. Ela produz leite com mais calorias, proteínas e sódio do que o leite materno convencional”, explica Andréa da Costa Pereira, nutricionista, gerente de projetos da Nutriente.

O efeito adaptativo, no entanto, não chega a atender todas as carências do bebê abaixo de 1,5kg, cessando depois de uma ou duas semanas, enquanto as necessidades especiais persistem por vários meses. “Além disso, os prematuros têm capacidade digestiva e absortiva limitadas, o que agrava o risco de desnutrição”, completa.

Diante da falta de produtos nutricionais que suprissem essa carência, a equipe da Nutriente, que conta com forte atuação no mercado de dietas para indivíduos hospitalizados, idealizou uma formulação que complementasse o conteúdo organo-mineral do leite das mães de prematuros. De acordo com Andrea, poucos produtos similares estão disponíveis no mercado. “A nível nacional, temos um único suplemento sendo comercializado, mas com produção fora do país”, ressalta a nutricionista. O produto brasileiro será lançado em novembro, em simpósio que a Nutriente promoverá no Rio de Janeiro.

Produto atende a recomendações da OMS e de estudos científicos sobre nutrição

Para delimitar quais nutrientes deveriam compor o produto, Andréa e sua equipe se basearam nas recomendações da Organização Mundial de Saúde, associadas à literatura científica disponível, que definem os nutrientes e suas quantidades ideais para atender as necessidades desses bebês. Os pesquisadores compararam os dados com a composição média do leite gerado por mães de prematuros e detectaram suas maiores carências.

Em cada 100g do suplemento, há a dose indicada de proteínas, lipídeos, minerais, carboidratos, vitaminas hidro e lipossolúveis além de um aporte adequado de calorias. De acordo com Andréa, todos esses ingredientes são importantes para o crescimento e desenvolvimento adequado do prematuro, e simulam a fonte de alimentação intrauterina. Outros nutrientes presentes na fórmula também vão atuar para incrementar a resposta imune e antiinflamatória do organismo do bebê.

A nutricionista ressalta, porém, que o aleitamento materno é fundamental. “O suplemento não substitui o leite da mãe, ele atua em conjunto. O produto é apresentado na forma de pó e deve ser adicionado ao leite materno numa proporção de 1g por 10 ml de leite”, explica. A embalagem, também cuidadosamente elaborada pela equipe, é em formato de sachê e fornecerá a quantidade suficiente para atender as necessidades do bebê por mamada, tornando-se de fácil manejo pelos profissionais nas unidades hospitalares que utilizarão o suplemento.

“Esse é um diferencial importante que o nosso produto terá frente ao concorrente, que é comercializado em latas. Nossa embalagem contém doses individualizadas, enquanto as latas dificultam o manuseio e não são indicadas para manipulação em ambientes como hospitais”, destaca o químico industrial Sabaa Srur, consultor do projeto.

Suplemento foi idealizado para reproduzir características do leite materno

Definidos os nutrientes que deveriam compor o suplemento, a equipe ainda teve muito trabalho pela frente. “Desenhar um produto é algo muito complicado. Foi preciso analisar também qual era a estrutura mais indicada de cada nutriente adicionado à fórmula. Em outras palavras, não basta verificar que o bebê precisa de mais cálcio e fósforo. É necessário definir de que forma esses minerais serão melhor absorvidos  pelo organismo do bebê”, explica Sabaa.

O peso das moléculas (osmolaridade) também foi levado em conta, para que o leite, depois de fortificado pelo suplemento, não alterasse suas características básicas principalmente quanto à osmolaridade para não sobrecarregar o organismo prematuro. Também foi testado o pH do suplemento diluído em leite, para que ficasse semelhante ao do leite materno; a estabilidade físico-química das substâncias; e a solubilidade do produto. “A simples agitação da mamadeira basta para dissolver o suplemento”, garante Sabaa.

Até o lançamento do produto, em novembro, resta à equipe empreender testes de aceitação e eficácia clínica, última fase do projeto, que será realizada na Maternidade Escola da UFRJ. O objetivo principal do produto é atender, mediante prescrição médica ou do nutricionista, as grandes Unidades de Terapia Intensiva Neonatais do Rio de Janeiro e adjacências, que já são parceiras da Nutriente em outras linhas de produção. Posteriormente, a idéia é comercializar o suplemento em todo o Brasil.

Saiba mais:

Sobre a Nutriente

(www.nutriente.com.br)

Sobre a Fundação Bio-Rio

(http://www.biorio.org.br/index.php)