Luciana Mielniczuk
Décio Villares: monumento a Júlio
de Castilhos, Porto Alegre, 1913
Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro presidente na história do Brasil a discursar na Assembléia Nacional da França. O fato aconteceu em 31 de outubro de 2001: "Lembro que a jovem monarquia brasileira se consolidou tendo como eixo o 'poder neutro' proposto por Benjamin Constant. Depois, em 1889, optamos pela República, com lema positivista. A referência foi Auguste Comte, assimilado segundo as circunstâncias locais. O Positivismo no Brasil foi emblema do progresso material, ainda que sob o invólucro conservador da ordem", disse FHC aos deputados franceses na época.
O Positivismo no Brasil é objeto de diversos estudos, dentre eles Arte, positivismo e política na obra de Décio Villares e Eduardo de Sá, tese de doutorado da historiadora Elisabete Leal orientada pelo historiador José Murilo de Carvalho. O trabalho estudou a filosofia positivista na obra dos dois artistas e recebeu no dia 27 de março o prêmio de tese da Association International Maison de Auguste Comte, sediada em Paris. A pesquisa teve apoio da FAPERJ através do edital Bolsa Nota 10.
A historiadora selecionou os monumentos públicos em homenagem a Benjamin Constant, Tiradentes e Floriano Peixoto, no Rio de Janeiro, e a Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. "Também estudei as práticas culturais em que essas obras de arte estão imersas: cortejos cívicos e fúnebres, inaugurações, decoração de prédios públicos", relembra. "A análise concentrou-se na obra de Décio Villares e Eduardo de Sá, sobretudo em suas esculturas: bustos, monumentos públicos e fúnebres. Os dois foram, segundo minha pesquisa, os únicos artistas brasileiros deste período declaradamente positivistas", acrescenta.
Luciana Mielniczuk Galeria de famosos: bustos em gesso policromado de autoria de Décio Villares, retratando
(a partir da esq.) Benjamin Constant, Tiradentes, José Bonifácio e Marechal Floriano Peixoto
Arte, positivismo e política na obra de Décio Villares e Eduardo de Sá analisou a produção de arte positivista no Brasil do final do século XIX até os anos 30 do século XX, considerando as negociações entre encomendantes e artistas sobre a fatura da obra de arte. "O estudo avaliou ainda três tipos de contratantes: membros da Igreja Positivista do Brasil, alguns militares florianistas e dirigentes do governo do estado do Rio Grande do Sul", explica Elisabete.
Elisabete Leal, natural do Rio Grande do Sul, é doutora pelo PPG (Programa de Pós-graduação) em História Social pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e vice-presidente do núcleo gaúcho da Anpuh (Associação Nacional de Professores Universitários de História). Anteriormente desenvolveu um projeto de organização do arquivo da Capela Positivista de Porto Alegre. "Dez anos antes do meu doutorado pude fazer um arrolamento completo de todas as publicações da Igreja Positivista editadas oficialmente no Rio de Janeiro, Porto Alegre e Paris. Este material foi publicado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)", relembra.
Tiago Luis Gil |
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Eduardo de Sá: monumento a |
A premiação alcançada pela historiadora em Paris é de importância acadêmica internacional, uma vez que a instituição parisiense não é uma entidade de seguidores do Positivismo e sim, uma associação voltada para o estudo da filosofia de Comte e com pesquisadores do mundo inteiro. "Os franceses têm enorme interesse nos estudos sobre Positivismo desenvolvidos em nosso país. A influência desta doutrina no Brasil é notável na criação da bandeira nacional e do lema Ordem e Progresso - evidências claras do Positivismo -, na elaboração da constituição da primeira república e na constituição de 1891 do estado do Rio Grande do Sul", conclui Elisabete.
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