Vinicius Zepeda
Jupiter Images |
|
Para garantir a sobrevivência do cotidiano nas |
Desde a infância servir ao próximo é parte do cotidiano de Alessandra de Andrade, 21 anos, aluna do último período da Faculdade de Educação da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e bolsista de iniciação científica da FAPERJ. Ainda criança, ajudava sua mãe na obra social da Irmandade São José, numa comunidade do bairro de Barros Filho, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde mora. Hoje, Alessandra é militante da obra que sua mãe ajudou a fundar e está concluindo, sob orientação da professora da Uerj Maria Alice Rezende Gonçalves, um estudo que acompanhou, durante dois anos, o cotidiano de jovens entre 14 e 21 anos que vivem nas ruas da cidade.
Alessandra explica que não é possível trabalhar diretamente com população de rua."Eles têm muito medo de estranhos. Por isso, precisamos do intermédio de alguma instituição que já lide com estas pessoas. Escolhemos a Fundação São Martinho, na Lapa, Centro do Rio, para intermediar a pesquisa", explica. Ela ficou responsável por dois grupos de jovens: um na Praça XV e outro na Lapa. "As entrevistas duraram dois meses para que pudéssemos estabelecer uma relação de confiança", acrescenta. Os encontros aconteceram duas vezes por semana, quinta-feira na rua e sexta na instituição.
Marcos Morteira |
|
Educadores da São Martinho (de camisa amarela) |
Os resultados surpreenderam Alessandra. "Apesar de fugirem totalmente ao padrão que estamos acostumados, essas pessoas também pensam em ter família ou uma profissão um dia. Mas infelizmente, ou porque querem, ou por uma situação de risco social, vivem nas ruas", lamenta. "Os jovens sobrevivem de alguns serviços (engraxate, guardador de carros, vendedor de balas, distribuidor de papéis, entre outros), pequenos furtos ou outros atos ilícitos", ensina.
"Como não sobrevivem sozinhos nas ruas, esses adolescentes vivem em bandos. Quando a repressão é forte, se refugiam em galerias de esgoto", explica. Entretanto, eles também não perdem o vínculo com a casa. "Eles ficam dois, três meses na rua, voltam, ficam um tempo em casa e depois vão de novo para a rua. Os que por algum motivo não podem voltar para casa, seus familiares vão visitá-los", explica. Alessandra só encontrou um caso em que não havia mais contato familiar: uma menina que trabalhava vendendo bala na rua. "Quando voltou para casa, seu pai havia morrido. Depois, sua mãe e sua avó. Quando retornou a última vez, os únicos parentes restantes, uns tios que moravam perto, também haviam se mudado", lembra. "Os outros familiares, na maior parte das vezes, não querem mais contato com os jovens que vão para a rua", acrescenta.
Jovens não se inibiam em consumir drogas na frente da estudante
Vinicius Zepeda |
Alessandra quer transmitir |
Outro caso que chamou sua atenção foi o de um garoto de 18 anos que já tinha 15 passagens pela DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e do Adolescente) por todos os tipos de crimes. "Apesar de se dar muito bem com a mãe, tinha problemas com o pai. Quando ia visitar a família, não agüentava mais de dois dias", relembra. "Ainda por cima, ele tinha um filho com uma moradora da Baixa do Sapateiro, na Maré (antigo Complexo da Maré). Mas ele não podia ir visitá-la. Se dizia membro de uma facção rival do tráfico que está lá. Então, ela ia visitá-lo na rua", explica.
Alessandra de Andrade espera continuar estudando relações entre raça e educação, uma vez que a maior parte dos entrevistados se declarou preta ou parda. Ela também pretende transmitir sua experiência aos outros. "Nós precisamos extravasar os muros da universidade. Afinal, pesquisas como esta podem servir inclusive de subsídios para a formulação de novas políticas públicas dos governos", conclui.
Leia mais:
- A educação profissionalizante de índios e desvalidos no Brasil de 1870 a 1910
- Pesquisa mostra como é construída a imagem ruim dos jovens pobres
Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes