Você está em: Página Inicial > Comunicação > Arquivo de Notícias > ABC empossa 20 novos membros brasileiros e cinco estrangeiros

Publicado em: 31/05/2007

ABC empossa 20 novos membros brasileiros e cinco estrangeiros

Paul Jürgens

Vinicius Zepeda

Ruy Garcia Marques (à esq.) participou da mesa de   abertura na posse dos novos acadêmicos da ABC

Em sessão solene realizada no auditório Gilberto Freyre do Palácio Gustavo Capanema, no Centro, a direção da Academia Brasileira de Ciências (ABC) deu posse nesta quarta-feira, dia 30 de maio, a 20 novos membros titulares brasileiros e cinco estrangeiros – eleitos em assembléia geral da academia no final de março. A solenidade reuniu parte significativa das principais lideranças da ciência no país e contou com a participação do ministro de Ciência e Tecnologia e acadêmico Sérgio Rezende. Alguns dos acadêmicos aproveitaram a oportunidade para demonstrar preocupação com as recentes manifestações contrárias ao desenvolvimento de algumas linhas de pesquisa, como as que contemplam as células-tronco embrionárias. O diretor-presidente da FAPERJ, Ruy Marques, integrou a mesa principal na solenidade, representando o secretário estadual de Ciência de Tecnologia, Alexandre Cardoso.

Discursando de improviso, Rezende aproveitou a ocasião para confirmar a nomeação – publicada no Diário Oficial no mesmo dia – de Luís Manoel Rebelo Fernandes para a presidência da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), órgão de fomento do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), cuja sede está localizada no Rio. Para o lugar de Fernandes, que foi diretor científico da FAPERJ e vinha ocupando o cargo de secretário-executivo do MCT, foi nomeado Luiz Antonio Rodrigues Elias. A posse de Luís Fernandes no cargo está prevista para terça-feira, dia 5 de junho, às 12h. Rezende disse ainda que no prazo de 30 dias o ministério deve apresentar à nova composição do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT) o Plano de Desenvolvimento Científico e Tecnológico para o período 2007-2010, que está sendo elaborado por sua equipe.

O ministro anunciou ainda que o MCT estuda a inclusão em seu orçamento de uma rubrica permanente que garanta o repasse de recursos necessários ao funcionamento da ABC. “Entendemos que a academia não pode continuar dependendo da boa vontade das diversas agências de fomento para garantir a manutenção de suas atividades”. Rezende disse que o ministério está fazendo gestões junto aos governos estadual e municipal para que a ABC venha a ter uma sede à altura de sua importância. “Estamos trabalhando para que a academia tenha uma sede mais digna e condizente com o papel que a ciência desempenha nos destinos do país”, disse. Atualmente, a ABC ocupa modestas dependências em edifício localizado na Rua Anfilófio de Carvalho, no Centro.

O último a discursar foi o recém-eleito presidente da ABC. Jacob Palis anunciou a criação de seis vice-presidências regionais a fim de estimular a realização de atividades em outras regiões do país e aumentar a presença da ABC. Os escritórios deverão indicar jovens cientistas que serão filiados à academia por um período de cinco anos não-renováveis. O matemático do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) voltou a defender uma maior participação das mulheres na ciência: "Por ora, eles têm presença insuficiente", disse. A ABC, em associação com a L'Oreal e a Unesco, promove pelo segundo ano consecutivo programa de bolsas destinadas exclusivamente às mulheres. As inscrições vão até 15 de junho.

Oradores demonstram preocupação com resistência a certas linhas de pesquisa

Após a apresentação dos novos acadêmicos, dois oradores convidados a discursar manifestaram preocupação com a resistência de alguns setores da sociedade em aceitar a realização de algumas linhas de pesquisa. A física Belita Koiler citou o astrônomo italiano Galileu Galilei (1564-1642) em sua argumentação: “Foi preciso esperar 350 anos para resgatar a excepcional contribuição de Galilei para a ciência”, disse. “É surpreendente por isso testemunharmos – nos dias que correm – atos e declarações de autoridade do poder Judiciário do nosso país, baseados em convicções de natureza religiosa, que ameaçam a continuidade de pesquisas científicas extremamente relevantes realizadas no Brasil”, declarou. "Refiro-me ao trabalho com células-tronco embrionárias visando aplicações terapêuticas", completou.

 

O diretor do Instituto de Física de São Carlos, em São Paulo, Glaucius Oliva, um dos recém-empossados, foi mais longe e disse que as instituições de pesquisa e mesmo os cientistas brasileiros estão sob fortes ameaças provenientes de diferentes áreas: "O obscurantismo que quer proibir qualquer tipo de experimentação científica com animais de laboratório; a legislação imobilizadora que praticamente impede qualquer atividade de pesquisa científica ou tecnológica envolvendo nossa biodiversidade; a incompreensível politização no âmbito da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, na discussão sobre as pesquisas e aplicações biotecnológicas dos organismos geneticamente modificados, inclusive com ameaças morais, físicas e jurídicas a nossos colegas cientistas, muitos deles também acadêmicos, hoje membros da CTNBio; as pressões exercidas por alguns setores sobre as pesquisas com células tronco embrionárias, mesmo após sua regulamentação na Lei de Biossegurança, são alguns exemplos das ameaças obscurantistas à racionalidade científica".

Ele atribuiu aos cientistas a falta de habilidade em sensibilizar a sociedade para o fato de que, sem o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, não haverá desenvolvimento. “Precisamos trabalhar para a adoção de pesquisas voltadas para a solução dos grandes problemas nacionais", defendeu. Oliva disse ainda o país vive um momento histórico complexo e qualificou como "monumentais" os desafios à frente. “Até o momento, o extraordinário avanço da riqueza e do bem-estar social que tivemos ao longo das últimas décadas têm beneficiado apenas uma pequena fração da sociedade”, avaliou.

Entre os novos titulares empossados estava o pesquisador Vítor Francisco Ferreira, coordenador da área de Química da FAPERJ. Além de Rezende, Palis, Marques, Fernandes e Elias, também estavam na mesa principal o ex-presidente da academia, Eduardo Moacyr Krieger; o presidente da Capes, Jorge Guimarães, representando o Ministro da Educação Fernando Haddad; e o secretário estadual de Educação, Nélson Maculan. O diretor científico da FAPERJ, acadêmico Jerson Lima, que integra atualmente a diretoria da ABC, também participou da solenidade, ao lado do diretor de Administração e Finanças da Fundação, Cláudio Mahler. O mestre de cerimônia do evento foi Paulo de Góis, assessor de Cooperação Internacional da ABC.

Leia mais:

- ABC elege nova diretoria e presta homenagem a ministro de C&T

- Cooperação científica é tema de conferência no Rio