Vinicius Zepeda
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Moradora da Comunidade de Rasa na feira agrícola |
Direitos Humanos e Desenvolvimento Humano e Social, que está concluída e se encontra em fase de prestação de contas, é o desdobramento de outro trabalho, também apoiado pela FAPERJ através do programa de fixação de pesquisador, e que foi desenvolvido entre os anos de 2001 e 2003. A pesquisa, coordenada por Carmen Tatsch, estava vinculada à Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), onde ela se formou e concluiu o mestrado em psicologia social e o doutorado em saúde mental. Na primeira fase do trabalho, foi feito um mapeamento da Comunidade de Rasa por meio de um levantamento histórico da cultura através de um vídeo da região produzido com o apoio dos moradores e lideranças comunitárias. No material, foi constatado que, historicamente, a população sobrevivia da agricultura familiar, da pesca e do artesanato. Porém, essas práticas estavam em dissolução. A falta de intercâmbio cultural e organização da população fazia com que os próprios moradores desconhecessem o potencial e a riqueza de seu povo.
De acordo com a psicóloga e professora da UVA, a situação começou a mudar a partir do desenvolvimento da pesquisa. Para a realização do vídeo, houve vários debates e reuniões com as principais lideranças comunitárias. Em conseqüência, foi realizado em 2003, numa escola municipal de Rasa conhecida como escola do Mudinho (uma menção a um artesão local), o 1 Seminário Internacional de Comunicação Visual e Antropologia Cultural, que também contou com o apoio da FAPERJ. "No evento, a população expôs sua história e cultura. Eles puderam ser vistos e se viram ali. A partir deste movimento, os moradores resolveram se organizar e criar uma feira de produtos agrícolas que passou a funcionar aos sábados, no centro de Búzios. Além disso, Lelei, um dos artesãos da comunidade, reativou a Associação de Arte e Cultura e recriou uma oficina de artesanato em talho em madeira que estava parada, passando a ensinar aos jovens a sua arte", recorda Carmen.
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No 1 Seminário Internacional, os |
Carmen lembra que Lelei foi uma das lideranças que surgiram no decorrer de sua pesquisa. "No começo de nossas reuniões, ele era desconfiado e pouco falava. Com o passar do tempo, passou a se expressar regularmente e hoje é uma liderança atuante", recorda. Outro exemplo de morador que recuperou a auto-estima durante o processo é o do 'cadeirante' (deficiente físico que anda com auxílio de uma cadeira de rodas) conhecido como Carlinhos. "Sua mãe relata que antigamente o Carlinhos passava a maior parte do seu tempo em casa, em sua cadeira de rodas, e pouco saía à rua. Com o tempo, ele aprendeu artesanato com Lelei, e hoje é outra liderança ativa na comunidade", recorda emocionada.
Projeto fez surgir lideranças comunitárias e resgatou auto-estima
Em 2003, a bolsa concedida pela FAPERJ esgotou seu prazo de vigência. Durante dois anos, a pesquisa foi mantida de forma precária, apenas com recursos próprios da pesquisadora. Em 2005, mais uma vez graças ao apoio da Fundação através do edital Direitos Humanos e Cidadania, a pesquisa foi retomada. "Na época, retomamos o processo de criação do circuito turístico alternativo com lideranças comunitárias, professores e alunos da Comunidade de Rasa. Em uma visita, com a presença do Professor Carlos Lessa – que desenvolve um trabalho de turismo ecológico no município de Ilha Grande –, o artesão Lelei realizou uma exposição de vários artistas locais num campo embaixo de árvores. Após esta iniciativa, em um processo de autogestão, surgiu a idéia de criarmos um Centro Cultural para comercialização dos produtos da Rasa, que se tornou ponto de partida do circuito turístico na região. ", explica.
Atualmente, a equipe coordenada pela psicóloga está, junto com lideranças comunitárias, artesãos e produtores rurais, tentando junto à prefeitura de Búzios a doação de um terreno para a implantação do centro cultural na região da Rasa. "Ele funcionará não apenas como ponto de partida para o turismo na comunidade, mas também, como centro de memória e interação da população de lá. No local, serão vendidos pratos típicos da cultura local como o café coado no caldo de cana e o artesanato típico, produzido com fibras de banana".
Carmen Rodrigues lembra que objetivo final da pesquisa é que os próprios moradores, em auto-gestão, tomem as rédeas da criação do centro cultural. Segundo ela, esta é a razão porque o processo por vezes é demorado. "Não é válido para nós que empresários ou a própria iniciativa privada da cidade de Búzios crie este local, pois conseguir financiamento desta forma seria fácil. Os moradores da Rasa devem tomar consciência de sua força e de sua riqueza histórica e cultural para desenvolver este espaço. Afinal, além do resgate da memória cultural e histórica, auto-estima e cidadania da população local, minha pesquisa se propõe a fazer com que o associativismo desenvolvido pelos moradores crie novas formas de geração de renda", conclui.
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