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Publicado em: 04/10/2007
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A doce fonte de energia que alimenta um país

Roni Filgueiras

Lewy Moraes 

     
  Material descartado da cana
  é transformado em sorbitol
Falar em carboidratos suscita associações saborosas, como bolos, tortas, massas e biscoitos. Mas os carboidratos vão muito além do que pode supor apetites mais infantis e leigos. “Os carboidratos representam 95% da biomassa produzida no planeta e apenas 5% usados pelo homem. São necessários novos estudos visando o aproveitamento desta biomassa”, explica o professor Vitor Francisco Ferreira, do Departamento de Química Orgânica da Universidade Federal Fluminense (UFF). A 1 Escola Nacional de Carboidratos (1 ENC), encontro que aconteceu na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), entre 3 e 7 de setembro, revelou essas demandas e também avanços e descobertas da área com aplicabilidade na indústria farmacêutica, de alimentos e de plásticos. E que podem ainda representar um enorme salto no campo energético do país.

 

Organizada pela professora Clarissa Oliveira da Silva, do Departamento de Química da UFRRJ, a 1 ENC, que teve apoio da FAPERJ, reuniu 59 participantes, pesquisadores de áreas tão diversas e afins como a biomédica, química, farmácia, economia e veterinária, ciências biológicas, engenharia química e de alimentos, recursos florestais, economia doméstica e agronomia. E ainda alunos de pós-graduação de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Norte, e professores. A Escola, que se pretende bianual (a próxima edição está programada para acontecer em 2009), quer fomentar a troca do conhecimento específico e propiciar outros avanços.

 

Como mostrou o trabalho dos professores Cesar Abreu e Nelson de Lima Filho, engenheiros químicos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Eles transformam material descartado de usinas de cana-de-açúcar ou de baixo valor (soro de leite, bagaço de cana, amido de mandioca) em outros, de maior valor agregado. É o caso da sacarose e do sorbitol (usado na composição de produtos farmacêuticos, cosméticos e alimentícios). E ainda da xilose (um álcool considerado o açúcar do futuro, com o poder de evitar e até reverter as cáries) e do manitol (um tipo de açúcar empregado como condensador em aparelhos eletroeletrônicos, na indústria alimentícia, farmacêutica e na fabricação de resinas e plastificantes, com catalisadores desenvolvidos pelo próprio grupo). 

 

A dupla da UFPE explora ainda a viabilidade de extração de lignina da celulose do bagaço de cana, que seria convertida em sacarose, e, finalmente, em etanol. Esta possibilidade, investigada pela Petrobras numa unidade a ser inaugurada em 2008, possibilitaria o aumento da produção de etanol, sem ampliar a produção de cana-de-açúcar. Um avanço do ponto de vista energético e ambiental, pois diminuiria o desmatamento de áreas verdes. A palestra da professora Carmen Tadini demonstrou o uso de amido na confecção de embalagens ativas biodegradáveis. Essa tecnologia, usada em diversos países como Itália e Japão, tem a vantagem de criar embalagens que permanecem por pouco tempo na natureza.

 

   Divulgação 
      
   Integrantes da I Escola Nacional de Carboidratos:
   intercâmbio de pesquisas no campus da UFRRJ
Já Marcos S. Buckeridge, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), desenvolveu um trabalho sobre a capacidade de diferentes espécies vegetais em seqüestrar gás carbônico (CO2), o que ajudaria a minimizar o efeito estufa. Especialista em fisiologia vegetal, Buckeridge investigou ainda o efeito das mudanças climáticas globais na produção da cana-de-açúcar. O estudo revela que o lançamento de mais CO2 no ar leva a um aumento na produção de cana, desde que não haja elevação na temperatura. Estes efeitos combinados são objeto de estudo de uma tese em andamento. O especialista sugeriu a criação de "corredores" de Mata Atlântica em meio a extensas áreas plantadas com cana, o que seria uma solução alternativa para o aumento da demanda de recursos energéticos renováveis, aliada à preservação do meio ambiente. Outro curso que chamou a atenção, segundo a organizadora Clarissa da Silva, foi o de extração e caracterização estrutural de polissacarídeos de fungos e algas, ministrado pelos professores Marcello Iacomini e Elaine Carbonero.

“Era necessária uma maior interação entre estas pessoas, para que a geração da informação associada a esta estratégica área de pesquisa não aconteça de modo pulverizado, mas sinérgica e complementarmente”, reforça Clarissa da Silva, que comemora a concretização de um antigo sonho. Segundo ela, existem atualmente cadastrados no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, cerca de 72 grupos que trabalham na área de carboidratos no país, 32 deles coordenados por pesquisadores com bolsa de produtividade em pesquisa (CNPq). Porém, todos desenvolviam suas pesquisas de modo independente, sem troca de conhecimento.

 

“Não havia um evento específico que reunisse estes pesquisadores no país”, atesta Clarissa. “Outro objetivo era aumentar o acesso ao mestrado e doutorado nessa área e congregar e estimular colaborações entre os pesquisadores”, diz a professora, pós-doutorada em físico-química pela Università degli Studi di Pisa, Itália. Outra meta é oferecer diferentes abordagens do assunto de forma ampla aos interessados em ingressar nesta área de conhecimento. “O Brasil é um dos grandes produtores de carboidratos, mas precisa de mais ações coordenadas. A ENC tem a missão de levar este saber a estudantes e aproximar os pesquisadores. Fico satisfeito que a ENC tenha sido iniciada no Rio com o apoio da FAPERJ”, conclui Vitor Ferreira, que lecionou a parte de síntese orgânica na 1 ENC.

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