Roni Filgueiras
Divulgação |
O Thirty Meter Telescope, que entra em operação em 2018, é tema de palestra no Observatório Nacional |
Organizado pelo pesquisador do Observatório Nacional Luiz Nicolaci da Costa, o evento faz parte da agenda de comemorações dos 180 anos da instituição. O objetivo do encontro, segundo Nicolaci, é estimular o debate entre as instituições astronômicas do país, definir um plano de investimentos de longo prazo e criar um fórum nacional que viabilize uma maior articulação entre os órgãos federais de pesquisa e os de ensino. “A astronomia brasileira é muito jovem, se desenvolveu apenas a partir da década de 70. E está em plena crise da adolescência", explica. "Ou seja, precisa amadurecer, criar processos adequados para a seleção de projetos de envergadura, desenvolver uma visão conjunta de futuro e mecanismos de acompanhamento e de avaliação de projetos", explica. “Esta é a motivação da reunião, trazer pessoas que estão gerenciando grandes projetos de astronomia mundial, avaliados em US$ 40 milhões e US$ 5 bilhões, que vão definir a agenda de pesquisa pelos próximos 20 anos”, disse Nicolaci. “E ainda, mostrar essa variedade, identificar áreas em que o Brasil possa atuar de forma competitiva, apontar caminhos para o futuro e usufruir da experiência tanto científica como de gerenciamento desses projetos”.
Além de incentivar o debate, o encontro vai lançar uma pauta nacional para promover políticas de desenvolvimento, articulação e fomento do setor. Segundo Nicolaci, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por razões históricas, tem cinco instituições ligadas à astronomia que atuam de forma desarticulada. “É difícil impulsionar o desenvolvimento de políticas na área a longo prazo sem essa união, então, temos nos reunido periodicamente no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) com colegas de outras unidades de pesquisa do MCT para melhorar a nossa sinergia”, disse o físico, de 58 anos, com mestrado e doutorado em Harvard.
Outro objetivo é criar um fórum para debater e elaborar um projeto para a próxima década. "Termos noção para onde queremos ir, capacidade para eleger os projetos de interesse nacional e correr atrás do dinheiro", sublinha Nicolaci. “Mas é preciso estimular o debate tecnocientífico, com ênfase na inclusão, e atrair todos os líderes científicos do país, sejam do MCT ou das universidades“. Os estudos astronômicos, segundo o pesquisador do ON, está criando a necessidade de se investir em novas tecnologias. “Essa compreensão é que falta ao Brasil. Por que, afinal, gastar dinheiro em ciência? A resposta é porque contribuímos para o desenvolvimento social, para a formação de pessoas. Podemos colaborar, inclusive, internacionalmente”, explica. Durante os dois dias de palestras do evento, uma dúzia de cientistas estrangeiros – a maior parte vinda de universidades e centros de pesquisa dos EUA como Nasa, universidades de Harvard, Cornell, Chicago –, vão apresentar os desafios, os projetos e as teorias de ponta para profissionais, professores, estudantes e leigos.
O maior desses desafios, segundo Nicolaci, é armazenar e administrar a astronômica, sem trocadilhos, quantidade de dados gerados por esses estudos. “O projeto Large Synoptic Survey Telescope (LSST), por exemplo, que tem parceria com a Google, vai vasculhar o universo na tentativa de descobrir supernovas, estrelas, planetas e asteróides, que podem colidir com a Terra. Esse escaneamento vai criar um observatório virtual, um céu digital, fazendo uma espécie de filme do céu, gerando variáveis aos montes. O desafio é como armazenar, resgatar, analisar e administrar todos esses dados. No Brasil, precisamos avançar nisso e montar essa infra-estrutura”, disse Nicolaci.
A palestra sobre o projeto Square Kilometer Array (Ska), que será dissecado pelo cientista Yervant Terzian, da Universidade de Cornell, vai demonstrar como será construído o maior projeto de radioastronomia do mundo de baixas freqüências (de 150 MHz até 22 GHz). A engenhoca, com área de um quilômetro quadrado, 4.200 antenas de 12m, será erguida na Austrália e vai facilitar a observação do universo. Os dados do Ska serão complementados pelo projeto internacional Alma (Atacama Large Millimetric Array), um radiotelescópio, o maior investimento do gênero avaliado em US$ 1 bilhão, em construção a 5000m de altitude, no Chile, composto de 64 antenas de 12m de diâmetro. O Alma, que faz uma varredura em ondas milimétricas e submilimétricas (centenas de GHz), pretende jogar luzes sobre questões antológicas como a origem do Universo, pois vai permitir que os astrônomos “visualizem” a formação “original do Cosmos”, há bilhões de anos, anterior à criação das galáxias. O Alma é 100 vezes mais potente que o principal radiotelescópio atualmente em atividade, o de Arecibo, em Porto Rico.
Quem ainda está curioso com a pergunta do início do texto sobre a energia escura, a tal que empanou a clássica Teoria do Big Bang, não pode perder a conversa com J. Peoples, do laboratório americano Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab). “Achamos que o Cosmos ia entrar em expansão e desacelerar na sua evolução e tínhamos uma explicação teoricamente elegante para a formação de estruturas no Universo”, explica Nicolaci. No entanto, na década de 90 foi confirmado o que já se suspeitava: que a expansão do Universo em vez de desacelerar está se acelerando. “Existe uma componente no universo que não temos idéia do que é. Por isso ela foi batizada de energia escura. Não sabemos bem quais são as propriedades da componente, e os resultados dos novos experimentos são fundamentais para identificar as teorias que podem explicar esta componente e com isto melhorar o nosso entendimento da física fundamental. Não resolveremos o problema, mas descreveremos os parâmetros e distinguiremos entre diferentes teorias.”
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