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Publicado em: 05/06/2008
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Agora é a vez dos investimentos e da bioética

 

           Foto: Radovan Borojevic
          
       Células-tronco: momento favorável às pesquisas
Depois da anuência do Supremo Tribunal Federal, que retirou o veto, de 2005, de inconstitucionalidade para a lei que permitia as pesquisas com células-tronco embrionárias, grupos de pesquisa de biologia molecular e médicos esperam finalmente ver os investimentos no setor deslancharem. Esta é a principal expectativa entre os estudiosos, como a médica Rosália Mendez-Otero, especialista em neurociências com ênfase em células-tronco, terapias celulares e doenças neurodegenerativas, do Instituto de Biofísica da UFRJ. “Desde 2005, todos os estudos ficaram em compasso de espera e vínhamos trabalhando com poucos investimentos”. “A notícia foi excelente sob todos os aspectos, garantindo a liberdade de pesquisa e reafirmando o caráter laico do estado”, disse Antonio Carlos Campos de Carvalho. “Não há dúvida da importância de se poder trabalhar com células-tronco embrionárias, inclusive para que possamos entender o processo das células adultas”, completou o professor, também do Instituto de Biofísica da UFRJ e cardiologista do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), que realiza ensaios clínicos de terapia celular com voluntários em cardiopatias, com a retirada de células adultas de medula óssea que são introduzidas no músculo cardíaco.

Em 1998, as células-tronco embrionárias (extraídas de embriões humanos com aproximadamente 200 células) foram descobertas, dando início a inúmeros experimentos com animais que apontavam que tais células são capazes de exercer efeitos terapêuticos. “Entretanto, dez anos é muito pouco tempo em ciência, e, por isso, é fundamental a liberdade de pesquisa”, reitera Patrícia Rieken Macêdo Rocco, chefe do Laboratório de Investigação Pulmonar da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Além dos investimentos, nos últimos anos, outro aspecto preocupa a comunidade científica brasileira: a bioética. “Não adianta a aprovação do uso de células embrionárias, se os comitês de ética demorarem anos para aprovarem qualquer projeto”, frisa Patrícia.

Uma notícia animadora, segundo Rosália, foi o lançamento pelo Ministério da Saúde, da Rede Nacional de Terapia Celular para estimular as pesquisas em nível nacional. “A partir de agora, aparentemente, as pesquisas vão ser intensificadas”, aposta ela. “Esperamos que, com a liberação, haja mais investimentos das entidades financiadoras, como CNPq e FAPERJ. Este será um dos fatores que vão acelerar os estudos, pois os pesquisadores se sentirão mais seguros, já que não correm o risco de parar tudo de novo”. O biólogo Radovan Borojevic, Cientista do Nosso Estado da FAPERJ e especialista em terapia celular, vislumbra também algumas ações que poderão impulsionar a área. “Poderemos agora ter a legislação que regulamenta o uso de células-tronco, em geral, e células embrionárias, em particular”, comemora. “O Inmetro, por exemplo, poderá incluir as células-tronco embrionárias no Centro Brasileiro de Recursos Biológicos e operar como centro de referência na área”, especula o professor da UFRJ.

Vários países já aprovaram e realizam pesquisas com células-tronco embrionárias humanas: Austrália, Inglaterra, Bélgica, Dinamarca, Coréia do Sul, Espanha, Cingapura, Suécia, Suíça, Taiwan, Finlândia, França, Índia, Islândia, Grécia, Israel, Japão. Nos Estados Unidos, a pesquisa só é proibida se feita com verba federal. Empregadas em estudos desde 2002 no país, atualmente o Parlamento alemão quer ampliar a legislação, tornando-a mais flexível. “Poucos países proíbem a pesquisa com células-tronco embrionárias: Lituânia, Áustria, Irlanda e Itália, sendo que, nesses casos, a proibição tem um marcante componente religioso”, diz a pesquisadora Patrícia Rocco.

As pesquisas com células embrionárias visam tratar doenças em que não podem ser utilizados outros métodos; as cardíacas e as neurológicas são as que mais se beneficiarão, segundo Rosália. “Claro que outras doenças, que não dispõem de outras formas de tratamento, serão investigadas, mas ainda não sabemos os resultados”.

Outra atitude comum entre os cientistas é quanto a reduzir as expectativas da sociedade em relação à descoberta de tratamentos mais eficazes de doenças até hoje sem cura, como infarto, diabetes, doença de Parkinson, mal de Alzheimer, traumas na medula espinhal, doenças degenerativas. Recentemente, há estudos de seu uso nas doenças respiratórias. “O interesse nelas vem de sua capacidade de gerar células de órgãos e tecidos os mais diversos”, explica Patrícia. “O potencial de terapias usando células-tronco é enorme, definindo toda uma nova área da medicina, tratando doenças que causam a degeneração de tecidos com a reposição de células saudáveis, e que afetam centenas de milhões de pessoas no mundo, que poderão ser beneficiadas”, diz a pesquisadora. “No momento, é impossível afirmar quando um paciente irá entrar num hospital e se beneficiar de terapias com células-tronco, adultas ou embrionárias. O que se pode afirmar, entretanto, é que nenhuma terapia estará disponível se não houver liberdade para o progresso científico”, completa.

Para o professor Titular Luis Cristóvão de Moraes Sobrino Porto, do Departamento de Histologia e Embriologia (DHE) e Coordenador do Laboratório Histocompatibilidade (HLA) do Instituto de Biologia da Uerj, um grande potencial para aplicação de células-tronco está nas doenças degenerativas. “São doenças que têm um fator genético importante e para as quais se poderia aprimorar o diagnóstico em um aspecto preventivo. Além disso, nas doenças de base genética, seria muito promissor sonhar que se possa reparar um gene defeituoso”, afirma.

As evidências científicas tanto in vitro como in vivo comprovam o enorme potencial do emprego dessas estruturas em animais e, possivelmente, em humanos, diz Patrícia. “Contudo, muito ainda precisa ser esclarecido, a partir de modelos pré-clínicos até a sua translação para modelos de terapia em seres humanos, que sejam seguros e eficazes”, alerta. “O avanço na pesquisa básica é de fundamental importância para que os estudos em humanos possam ir adiante, com modelos randomizados, controlados e duplo-cegos, de forma a permitir a clara avaliação dos possíveis benefícios e, de forma rápida e eficiente, dar o retorno, não somente à sociedade, mas também e, principalmente, à população de pacientes com doenças neurológicas, cardiológicas, respiratórias, endocrinológicas, cuja sobrevida depende do surgimento de novas modalidades terapêuticas”, analisa a cientista. Luis Cristóvão afirma que “já se conhece bastante da biologia deste tipo de célula”, acrescentando que “também as células do sistema imunológico têm origem em células-tronco embrionárias, e a sua utilização pode propiciar a cura para um grande número de doenças relacionadas a esse tipo celular”.

A medida vai proporcionar a parceria do Brasil em pesquisas mundiais, salientam os cientistas entrevistados. “Isso criará uma grande rede de conhecimento, colocando o Brasil em situação de destaque”, sublinha Patrícia. Para ela, o futuro das pesquisas no setor ainda tem muitas perguntas para responder: “É fundamental que as pesquisas com células-tronco embrionárias e adultas continuem a ser feitas para que possamos ter respostas para perguntas, como: qual o melhor tipo de célula-tronco a ser utilizada em cada doença degenerativa? Qual a melhor via de administração dessas células? Por quanto tempo duram os efeitos benéficos das terapias? Qual é a quantidade de célula deverá ser utilizada? Será necessário e possível repetir os procedimentos de injeção de células-tronco no mesmo paciente?” Só uma política constante de incentivo do governo e investimentos da iniciativa privada poderão respondê-las.

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