Vinicius Zepeda
Divulgação/Uerj |
Amostras de gelo são coletadas em diferentes profundidades |
Desde o começo dos anos 1980, cientistas brasileiros vêm acompanhando expedições de outros países ao continente gelado. O Brasil inclusive possui pontos de estudos e pesquisas no local, a estação Comandante Ferraz e vários refúgios avançados, na borda nordeste do continente. Dessa vez, entretanto os pesquisadores ficarão acampados numa região a cerca de dois quilômetros da estação brasileira. Segundo Evangelista, que é também coordenador e pesquisador do Laboratório de Radioecologia e Mudanças Globais (Laramg), do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, da Uerj, o trabalho de coleta de testemunhos de gelo – amostras cilíndricas de gelo retirado de grandes profundidades – que vem sendo desenvolvido pela equipe conta com o apoio da Faperj. “Graças ao apoio da Fundação foi possível adquirir equipamentos científicos para a análise e conservação do material”, fala o físico.
Evangelista destaca ainda o trabalho pioneiro desenvolvido pela equipe do Laramg. “Há três anos fomos o primeiro, e até agora único, grupo do Brasil e da América Latina a isolar bactérias encontradas no gelo da Antártica. Estes microorganismos podem servir para a composição de produtos biotecnológicos como, por exemplo, a Fosfatase Antártica – enzima de emprego comercial, que auxilia no armazenamento de material biológico a baixa temperatura”, explica Evangelista. “Já no começo de 2008, fizemos parte de uma expedição internacional à Antártica em que também coletamos testemunhos de gelo, neve e ar polar. Porém, na ocasião, ficamos na borda continental, numa área de grande altitude. Diferente do que faremos agora em novembro, quando viajaremos ao interior do continente”, acrescenta.
Financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Petrobras, a expedição brasileira servirá também para analisar e avaliar o impacto das queimadas no Brasil e na América Latina e seu impacto na Antártica. “Ao medirmos estas amostras de gelo, encontramos compostos químicos gerados pela queima de florestas como o black carbon – aerossol produzido pela queima de petróleo e em queimadas – e o levoglucosano – açúcar proveniente da decomposição da celulose. Parte desses materiais chegam até a Antártica através da circulação atmosférica”, afirma Evangelista. Segundo o pesquisador, estes indicativos são provas de que as queimadas no Brasil e na América do Sul têm um impacto global, e não somente regional.
A inédita empreitada dos brasileiros deve durar todo o mês de dezembro, incluindo os feriados de Natal e Ano Novo. A expectativa é de que os pesquisadores regressem ao Brasil no dia 10 de janeiro de 2009. Durante o período em que ficarão acampados, os pesquisadores usarão roupas polares especiais capazes de isolar o corpo a temperaturas de até 50 graus abaixo de zero, rádios, motos de neve e aviões com esqui. “Nesta expedição pioneira, esperamos reunir dados suficientes para avaliar também os processos de desertificação, o impacto do aumento industrial e das queimadas no registro das variações climáticas mundiais e, por último, melhorar os estudos brasileiros na área de previsão do clima”, conclui Evangelista.
Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes